Nem o barulho da moto conseguia ser mais alto que as perguntas que ecoavam em minha mente. Todas voltadas ao estranho de olhos claros que deixei em casa. "Ele pode ser um ladrão..." Me repreendi mentalmente por tê-lo largado lá sozinho. "Mas... ele parece tão inofensivo..." Respondi a mim mesma, apertando a direção da moto, enquanto me lembrava daquele magnífico som que me fez dormir.
Há anos eu não tinha uma noite de sono tão longa e tranquila.
"Quem é esse?" "Por que ele me acalma tanto?" Continuei a me perguntar. Passando pela ponte estreita ao lado da praia, meus olhos se voltaram a um burburinho formado na areia. As pessoas se juntaram ao redor de algo que não consegui ver. Fiquei curiosa, porém segui meu caminho: Kate não perdoaria mais um atraso se quer vindo da minha parte.
Assim que cheguei ao estacionamento,parei a moto e corri para dentro. Rumei em direção a sala de pesquisa, logo me deparando com o alvoroço de meus colegas:-Hey,atrasadinha de novo?-Matt perguntou,se aproximando para me dar um abraço.-Fiquei preocupado com você...-Seu abraço era forte,quase como se ele fosse perder o ar se não me abraçasse.
-Preocupado por que? Os tubarões é que têm medo de mim.-Sorri tentando não ser sufocada entre os braços dele, que me soltou lentamente.
-Nem brinque. Acharam outro corpo agora pouco.-O olhar de Matt estava realmente tenso. Ele odiava lidar com notícias de morte. Muitas pessoas de sua família haviam morrido em um acidente de ônibus, quando estavam prestes a entrar em Paris,para as férias,por pouco ele e seus pais se salvaram, porém,seu pai teve que amputar uma das pernas.
Ele se tornou meu melhor amigo. Quando cheguei,ele foi o primeiro a conversar comigo, somos praticamente irmãos desde então:-É por isso que as pessoas estavam se aglomerando na praia...-Falei em um sussurro, conversando comigo mesma. Matt abriu a boca ameaçando falar algo,mas um barulho estrondoso de botas batendo no piso, tirou toda a nossa atenção.
Kate estava ao lado de uma mulher,ela era alta, tanto, que Kate pareceu uma criança de dez anos ao seu lado. Seus cabelos vermelhos e chamativos,estavam presos em um coque baixo. Ela estava trajada com uma farda, porém não reconheci de qual setor de forças armadas ela era.
Seu olhar se manteu firme para frente, enquanto Kate praticamente tremia ao lado dela:-Bem... pessoal,essa é Karen Sycowitz...ela ficará responsável pelo caso do tubarão morto agora.-Minha supervisora afirmou, quase desmaiando. "Parece muito sério...mas é só a morte de um tubarão,por que estariam envolvendo as forças armadas?" Pensei, analisando a mulher ao lado de Kate, que,por ventura, também me olhou, parecendo também me analisar. "Tem algo errado... algo muito errado":
-Antes de mais nada. Peço-lhes que não compartilhem informações desse caso com ninguém. É muito importante que esse caso fique em sigilo total.-Karen afirmou, com um semblante sério, até mesmo ameaçador, saindo de lá logo depois de tais palavras, acompanhada por Kate.
Um arrepio subiu pelo meu corpo,me fazendo cruzar os braços e soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo:-Analisaram as digitais na lança.-Matt sussurrou em meu ouvido.-Deu incompatibilidade genética... espécie irreconhecível.-Ele terminou.
-Você sabe qual instituição usa a farda que Karen está vestindo?-Perguntei, olhando para ele enquanto franzia as sobrancelhas
-Não faço ideia. Mas vi a sigla "C.E.M" no brasão da farda dela.-Ele afirmou, já pegando o celular. Sem perder tempo,me aproximei para ver os resultados da pesquisa. Após digitar a sigla no Google, tudo que apareceu foi uma frase a qual nunca havia visto em nenhuma de minhas pesquisas no site:
Resultado bloqueado. Acesso somente com chave.
Tudo que consegui fazer foi olhar para Matt, que também direcionou seus olhos para mim sem dizer nada.
Algum tempo depois, andando pelos corredores em busca de Kate, acabei me deparando com Kya,a responsável por estudar o DNA encontrado nas marcas presentes no corpo do tubarão. O cadáver do animal se encontrava estirado sobre uma mesa de ferro, besuntado de formol para que não putrefasse.
Assim que entrei na sala os olhos de Rita se viraram para mim:-O que descobriu?-Perguntei,me aproximando dela, que estava em frente ao computador. A mulher ergueu os óculos para apoia-los sobre o nariz, antes de dizer alguma coisa.
-Eu nunca vi nada parecido, Aolani..Esse DNA... não é animal,mas também não é humano...-Ela estava falando, quando quatro homens entraram na sala,eles tinham a mesma farda que Karen usava, inclusive,ela mesma entrou com eles:
-Daqui para frente, assumiremos esse caso.-Foi tudo o que ela disse, antes que fizesse sinal para que os homens pegassem o corpo do animal com cautela e levasse para algum lugar cujo não conhecíamos.
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Cian
FantasyO que existe nas águas profundas do mar? Você pode afirmar,sem que haja medo em seu coração? O fato é que nunca estamos preparados quando o desconhecido se torna parte do dia a dia e as lendas são mais reais que o ato de respirar. "Àqueles malditos...