11: Flor do Havaí

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Cian andava ao meu lado, receoso, intimidante, cauteloso e atento. Dava para perceber o quanto não confiava em ninguém alí, nem mesmo em mim, não tanto quanto poderia. Fiquei imaginando o quão horríveis foram as histórias contadas a ele sobre nós... humanos.
Assim que chegamos ao conjunto de barraquinhas,os olhos azuis dele tiveram uma explosão de brilho,ele os direcionou para mim alguns segundos antes de correr em direção a barraca de peixes:

-Está aqui!-Ele exclamou, vindo até mim e me puxando em direção a ela.

-O que?! Quem está aqui??-Perguntei, ainda sendo arrastada.

-Nossa comida, está aqui!!!-Ele gritou, chamando a atenção do dono da barraca.

-Posso ajudar?-Ele perguntou, coçando o bigode que cobria quase toda a sua boca.

-Você!!!! Ladrão! Você!-Ele gritou,chiando entre os dentes como fazia sempre que estava se sentindo ameaçado. Comecei a rir de nervoso, puxando-o para longe, mesmo com medo de que ele me atacasse também,mas ele apenas continuou chiando para o homem como um cão raivoso.

-Perdão, moço! Ele tem alguns problemas...-Falei, ainda nervosa, arrastando-o.-Cian, você está chamando muita atenção!-Sussurei. Vendo-o chiar para mim também;com o susto, arregalei os olhos.

-Não pode me impedir de lutar. É o meu povo que não tem o que comer, enquanto o seu exibe nosso alimento como um troféu.-Ele arrancou o braço de minhas mãos, andando a minha frente. Não soube o que fazer, apenas seguindo seus passos lentamente, com medo do que ele faria.

-Cian!! Espera!!!-Corri até ele, antes que ele atacasse alguém.-Não estou te impedindo de lutar. Sei que tudo isso é confuso pra você, é confuso pra mim também...Nós também comemos isso, eu não sei por a alimentação de vocês está tão escassa,mas vamos descobrir. Ouça, nós vamos achar quem você está procurando também.-Continuei, entrando em sua frente e o fazendo parar. Toquei seu braço e depois meu peito, assim como ele tinha feito antes.-Lembra? Você..eu... segredo. Só não quero que chame atenção.-Expliquei, ainda com a mão sobre o peito. Inesperadamente,ele encostou a testa na minha, fechando os olhos.

-Você vai me ajudar?-Ele perguntou ainda com a testa na minha e os olhos fechados.

-Vou.

-Vai me proteger?-Ele olhou para mim profundamente,e mais uma vez, senti a paz que tanto desejava.

-Vou.-Repeti com convicção.

-Então... farei o mesmo. Serei bom,serei obediente.-Ele sussurrou,se afastando logo em seguida.
Fiquei alguns segundos com os olhos fechados, tentando entender o que se passava na mente dele, então,sem respostas, abri os olhos e voltei a andar.

Cian voltou para casa feliz,cheio de roupas,e eu exausta e cheia de contas. Eu o havia ajudado o máximo que pude, escolhendo roupas bonitas e que combinassem com ele.
Meu corpo relaxou assim que me esparramei no estofado da sala,mas não tive muito tempo de descanso, já que precisava tomar banho: graças a Matt,eu tinha uma festa para ir. Me levantei sem ânimo, pegando a toalha e adentrando o banheiro.
A sensação de liberdade ao tirar minhas roupas e entrar na banheira foi avassaladora, encostei a cabeça para trás e apreciei o momento, até que ouvi a porta ser aberta. "Merda, esqueci de trancar a porta..." Pensei abrindo bruscamente os olhos e me cobrindo como pude:

-Cian-Tentei soar calma e paciente.-O que eu disse mais cedo?-Perguntei, observando-o se aproximar da banheira com curiosidade.

-Você não está se trocando.-Ele afirmou inocentemente, ainda olhando a banheira cheia. Realmente não pareceu haver malícia alguma em seus olhos azuis, que apenas observavam com curiosidade. Respirei fundo,me dando por vencida.

-Não é legal ficar assim. Você pode esperar lá fora?-Pedi pacientemente. Para minha surpresa,ele apenas me olhou com a testa franzida em sinal de incompreensão e saiu, ainda deixando a porta aberta. Me levantei e fui correndo fecha-la, logo voltando para banheira.

Cheguei na festa de Loa atrasada, já que o homem-peixe ficou por horas a fio dentro da banheira. Tive que entrar tapando os olhos e acarrancá-lo de lá. Foi uma tremenda bagunça,mas felizmente ele saiu. Para quem teve medo de entrar na banheira na primeira vez,ele estava gostando demais. Infelizmente não consegui fazer com que ele ficasse em casa, então o trouxe comigo. Trajado com uma típica roupa havaiana branca e azul. Camiseta leve e um pouco aberta,em conjunto de uma bela bermuda;seus olhos claros encantavam quem o olhasse dando complemento a toda aquela beleza. Eu também não estava tão ruim, até uma flor no cabelo eu havia colocado. A flor vermelha contrastavam com meus cabelos escuros, além da saia e tudo mais.
Há muito tempo eu não me vestia tão tipicamente, já que não gostava de festas.
Assim que cheguei,Matt já veio ao meu encontro, com um sorriso enorme, porém,suas sobrancelhas se juntaram ao ver meu acompanhante.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora