18: C.E.M

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  Ao clicar na pasta, abriu-se um e-mail enviado para Kate,um dia antes da chegada de Karen Sycowitz:

    Senhorita  Wallace, soubemos dos acontecimentos na ilha em que habita, estamos ansiosos para entrar em contato com a empresa que você gerência, afim de explicar um pouco do que está acontecendo. Já lhe adiantamos que todos os habitantes de Maui estão em perigo constante, tendo criaturas ainda pouco estudadas povoando os mares.
    Eles são selvagens, traiçoeiros e terrivelmente inteligentes; não são animais comuns. O intuito da C.E.M, Corporação Especial Marítima Abissal, é estudar essas criaturas e impedi-las de atacar novamente. Esses seres se disfarçam de humanos, extremamente parecidos conosco, quando entram em contato com a água salgada do mar,voltam a forma natural.  Esses animais podem andar tranquilamente entre nós, porém, têm que voltar para a água de tempos em tempos.
    Quanto mais ficam em terra firme, mais tempo conseguem ficar, chegando a ficar meses sem precisar voltar ao hábitat natural.
Não descobrimos muito,mas estamos trabalhando para detê-las a qualquer preço.
   Para provar que não estamos inventando tais monstros,eis uma foto da que capturamos há alguns dias, aí em Maui.

Abri o anexo, já com o coração apertado. A foto mostrava uma criatura, semelhante a Cian,presa em uma espécie de tanque. Seus cabelos cumpridos e ruivos,se espalhavam a cima de sua cabeça por causa da água,seus olhos tristes e esverdeados,fitavam a câmera com desdém.
    Sua pele escamosa,brilhava por estar refletindo água. Ela não se parecia tanto com Cian, porém, lembrava-o.
    Me senti enjoada, trêmula,mas pelo menos, talvez tivesse encontrado Nahala. Imprimi o email rapidamente,e fechei a pasta, correndo para a saída;fui até o estacionamento, pegando a moto e saindo como uma bala em direção a minha casa.

  Abri a porta bruscamente,me deparando com Cian sentado no chão da sala,com as pernas abertas e os braços ao redor delas, enquanto focava os olhos no chão:

-Cheguei!-Esclamei com um pequeno sorriso,mas não fui recebida da mesma forma;Cian apenas me olhou de soslaio, logo voltando os olhos para o chão. Ele suspirou, fechando os olhos,e então,se virou para mim.

-Nahala sempre foi muito batalhadora,sabia?-Ele começou a dizer, com a voz fraca, logo voltando os olhos para o chão novamente. Me sentei ao lado dele, sem dizer nada.-O homem que ajudou a me gerar foi um caçador de outra tribo... não poderia se envolver com a mulher que me gerou... então,a tribo dele o matou.
   Nahala cuidou de mim quando Hani,a mulher que me gerou, morreu.-Os olhos dele marejaram.

-Ela morreu por algum motivo específico?-Perguntei hesitante. Cian olhou para mim com semblante sério.

-Algum humano a matou. Provavelmente se assustou com ela,e então, simplesmente a matou...eu não sei bem como aconteceu,eu havia acabado de nascer...fazia alguns dias.

-Entendo...mas como sabe que não foi ela quem o atacou primeiro?

-Meu povo não atacava os humanos naquele tempo... não até a morte de Hani.-Os olhos de Cian haviam perdido o brilho e a ternura, estavam penetrantes... selvagens. Arregalei os meus, tentando encontrar palavras.-Mas sempre ficávamos no fundo, longe de humanos...Nahala tomou a frente da tribo,se tornando a líder. Ela me ensinou tudo que sei,sou grato a ela por isso.

-Isso... é lindo,Cian...-Sorri para ele pegando sua mão,mas ele a afastou de mim,me olhando fixamente.-Sabe...eu a encontrei,sei onde Nahala pode estar.-Peguei o email impresso, mostrando-lhe a foto dela. Cian sorriu fracamente, derramado lágrimas silenciosas. Foi a primeira vez que o vi chorar de fato,derramar lágrimas, já que seus olhos apenas marejavam.

-Não importa mais, Aolani.-Ele afirmou, pegando a folha com carinho.-Ela se foi. Nahala está morta.-Ele disse,se levantando. Minha boca se abriu instantâneamente, perplexa.

-C-como... como você sabe?! Por que está dizendo isso??-Me levantei também, ficando de pé a sua frente. Ele me fitou por alguns segundos, antes de colocar minha mão  seu peito.

-Eu senti... aqui.-Ele afirmou com convicção, apertando minha mão contra seu peito como se quisesse que eu sentisse também.-Agradeço sua ajuda mesmo assim.-Ele encostou a testa na minha, com um sorriso fraquíssimo,quase imperceptível.-Agora, preciso ir.-Ele afirmou, fazendo meu coração se apertar dentro do peito. Engoli em seco,sem saber como proceder. Não tive muito tempo para pensar em algo antes que ele fosse até a porta.

-Cian... não vai... não pra sempre...-Minha voz falhou. Eu não sabia se sentiria falta dele ou se estava com medo de ficar a sós com meu passado.

-Você é forte, não precisa de mim. O que aconteceu antes nunca mais acontecerá, Aolani... ninguém vai machucar você,eu prometo.-Ele veio até mim,me abraçando com força.-Não se afogue em seus próprios pensamentos.-Ele sussurrou. Logo depois, comecei a ouvir a melodia que me fazia dormir, senti aquela paz me consumir novamente, tudo foi ficando escuro aos poucos, até eu não poder mais segurar meu próprio corpo:

-Cian... não me deixe... por favor...-Sussurei, antes apagar por completo.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora