32: Reencontro

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Convenientemente, os grossos e espeços canos eram largos o suficiente para que nós passássemos sem problemas. Nadar não estava muito difícil também, já que o próprio cano estava nos puxando para dentro.
    Possivelmente a água era sugada pelo cano para ser filtrada em algum lugar, como uma caixa d'água improvisada.
   Nadamos   até chegar em uma enorme grade com pequenos buracos, como uma peneira. Me aproximei do objeto, tentando observar o que viria a seguir. Como não consegui ver, Neres pediu, com um gesto, para que eu me afastasse, então, assim o fiz.
    Uma das sereias,com sua cauda enorme, golpeou o objeto mandando-o longe. Arregalei os olhos, com medo de que alguém tivesse ouvido o barulho. Já com a "peneira" fora do caminho,pude ver melhor a bifurcação a minha frente.
    De um lado havia rastros de água,no outro, montanhas de sal. "Realmente,a água é filtrada aqui." Pensei. Como não havia mais a "peneira',a água começou a vazar pelos dois lados. Rapidamente,Neres estendeu as mão sobre a correnteza que se formou, parando-a. Foi como se a "peneira" ainda estivesse alí, dividindo e filtrando a água normalmente. Ainda chocada, observei todos eles se arrastarem em direção a parte com pequenas montanhas de sal, tapando as próprias bocas enquanto se transformavam lentamente-e dolorosamente-.
     Já de pé, Neres olhou para mim e logo depois para os meus pés. Arranquei o equipamento de mergulho, ficando apenas com o macacão; os colocando em um ponto estratégico. Meus pés tocaram o sal, enquanto o cheiro de maresia chegou as minhas narinas. Me lembrei do cheiro de Cian fazendo com que meu coração acelerasse.
     Caminhando rapidamente,fomos em direção a luz:

-Estamos perto. Posso sentir o cheiro dele.-A loira afirmou, andando em passos ainda mais rápidos. Então chegamos a outra grade,onde bastou apenas que eu puxasse para que fosse aberta.
     Estávamos oficialmente dentro da C.E.M!  O corredor estava completamente vazio,sem nenhum barulho. Sem hesitar, todos eles pularam em direção ao chão,me deixando por último:

-Anda!!!-Neres sussurrou, fazendo um gesto com as mãos. Respirei fundo, fechando os olhos e esperando o impacto contra o chão acontecer, porém,cai em algo macio.
    Abri os olhos,me deparando com aquele mesmo tritão que havia abocanhado o peixe há horas atrás. Sorri para ele, que retribuiu, logo me colocando no chão.
     O choque que senti quando as solas dos meus pés tocaram o chão frio me fez arrepiar. Cautelosamente, caminharmos pelo corredor,nos esgueirando pelas paredes,para a nossa sorte, não parecia haver quase ninguém perambulando.
    Meu coração acelerou por estar finalmente perto da pessoa que mais amei na vida, mas pensar que ele poderia ainda estar chateado me fazia ter vontade de chorar. Chegamos até onde disseram que o cheiro de Cian estava mais forte; respirei fundo, tentando manter a sanidade mental.
     Notei que a porta se abria com senha,um dos tritões já estava se preparando para arromba-la com força bruta,mas segurei seu braço,quase sendo erguida do chão:

-Espere, vamos chamar mais atenção assim.-Observei a porta por alguns minutos, analisando-a atentamente. Os números apertados repetidas vezes estavam um pouco mais desgastados que os outros. Percebi que o mais desgastado de todos era o número dois.
    Rápida como uma bala, minha mente me levou até minha pesquisa sobre Charle Mason: 22-03-98,o dia em que aconteceram ataques das sereias em Malibu.  Então tive certeza que Charlie tinha algo haver com tudo isso
  Com a mão trêmula, digitei os números,as sereias e os tritões estavam vidrados no que eu estava fazendo, observando com atenção cada movimento meu.
    Até que ouvimos um pequeno "click": a porta havia sido aberta. Olhei para Neres com empolgação, praticamente pulando de alegria. Abri a porta com o coração a mil por hora,minhas pernas bambeavam como se fossem gelatina.
     O lugar estava levemente escuro, como se estivesse de dia,mas as finas cortinas estivessem fechadas. Mas não haviam janelas no cômodo,na verdade, não havia muito mais do que painéis de controle e alguns mapas em cima de uma enorme mesa branca,meus olhos rodaram pela sala, até que se fixaram em um tubo iluminando no centro. Cian estava alí,em sua forma humana;ele estava praticamente prostrado no chão, acorrentado pelos dois pulsos. Seus olhos estavam fechados e sua cabeça baixa,meu coração se quebrou em mil pedaços ao ver as feridas em seus braços, além de seu sangue, espalhado por todo o chão onde estava. Seus lindos cabelos dourados estavam cobrindo parte de seu rosto, melados de suor e sangue.
    Neres cobriu a boca em sinal de horror, enquanto os outros franziam as sobrancelhas com tristeza. Me aproximei do tubo,espalmando as mãos sobre ele.
   Lágrimas correram por meu rosto e meus lábios tremiam, enquanto eu olhava para meu amor machucado, castigado, detonado. Bati no vidro, esperando que ele olhasse para mim.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora