6: Cian

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Vários pensamentos rodeavam minha mente enquanto eu tentava me focar no caminho que eu estava percorrendo. Perdida em minha própria mente,quase bati na lateral de um jipe ao meu lado.
Só percebi pelo grito raivoso que o homem deu de dentro do carro. Pedi desculpas e continuei meu caminho até minha casa.
Destranquei a porta e abaixei a maçaneta, entrando calmamente. Notei que o local estava bagunçado,e não era pouco: as almofadas pretas do sofá estava jogadas por toda a sala,a mesa virada para o lado e o vaso espatifado pelo carpete. Também notei um rastro de sangue que levava até o andar de cima...meu quarto.
Meu coração acelerou, enquanto eu colocava um pé atrás do outro na tentativa de andar normalmente, mesmo com as pernas bambas. Com cautela, peguei um pano na bolsa e coletei um pouco do sangue,para que,se o possível invasor fugisse,eu saberia quem é por algum teste de DNA. Subi as escadas com lentidão para que não fizesse barulho e entrei silenciosamente no cômodo, acendendo a luz.
A tensão em meus ombros deu uma leve pausa ao me deparar com o homem encolhido no canto da parede, enquanto abraçava seus joelhos. Ele direcionou os olhos claros em mim, estavam marejados. Então notei o sangue escorrendo pelo seu antebraço e pingando pelo chão, manchando todo o piso branco. Provavelmente ele havia se cortado em algum caco de vidro quando o vaso se quebrou.

Minha primeira reação foi me aproximar,mas ele se afastou, produzindo um grunhido incomum, então me afastei:

-Eu quero ajudar, você está machucado.-Apontei para seu braço ensanguentado. Então, tentei me aproximar novamente,o vendo se tranquilizar.
Me ajoelhei a sua frente, tocando seu braço com cautela. Seus olhos azuis penetraram meu ser mais uma vez,me dando aquela mesma sensação de paz:

-Como você faz isso?-Perguntei,sem tirar os olhos dos seus.-Por que olhar para você é tão bom?-Ele apenas continuou me olhando, aparentemente sem entender,e então, desviou os olhos para o braço.

-Dói.-Ele disse, fazendo uma careta.

-É... está um pouco fundo... acho que é melhor irmos ao médico.-Falei, ouvindo o grunhido como resposta, além do fato de ele ter arrancado o braço de minhas mãos.-Opa, tá bom...o que pretende fazer então?-Perguntei, realmente curiosa.

-Eu vou voltar.-Ele disse vagamente,se levantando e ficando em pé a minha frente.

-Voltar? Pra onde?-Perguntei, também ficando sobre meus pés. O sangue praticamente jorrava de seu braço, enquanto,ele me ignorava, descendo as escadas rapidamente em direção a porta. Ele me fitou mais uma vez,e então eu relaxei novamente. Era surreal a forma que ele prendia meus olhos no oceano que se formava nos seus; era sobrenatural, hipnotizante, melhor que anestesia. Olhos azuis ciano que capturavam minha atenção como um dos melhores programas de TV que eu já vi.-Cian...-Sussurrei para ele. -Posso te chamar assim?-Ele deu um leve sorriso,me fazendo sorrir também.

-Cian...-Ele repetiu.-Eu gostei.-Ditas essas palavras,Cian abriu a porta,me olhando pela última vez, antes de sair correndo. Franzi a testa,sem entender. Até cheguei a dar alguns passos em direção a rua,mas parei, quando não o vi em lugar nenhum.
Os pensamentos flutuavam sobre mim e caiam como um avalanche em meu cérebro. "Onde ele se meteu?" Minha mente perguntava, enquanto me acusava de ter sido negligente..."Mas por que tanta aflição? Eu literalmente mal o conheço";a confusão mental era evidente, tanto que só senti a faca cortar meu dedo, quando notei o sangue escorrendo do mesmo. Soltei os vegetais na tábua branca, correndo até o banheiro para lavar o dedo cortado. Nunca estive tão distraída em toda a minha vida.
Apenas me desfoquei do meu dedo quando ouvi o toque do meu celular no andar de baixo. Fechei a torneira, correndo até o local:

-Oi Lani.-Ouvi a voz masculina do outro lado da linha.-Eu mandei mensagem,mas como você não respondeu decidi ligar... está tudo bem?-Matt perguntou.

-Sim...-Tentei colocar firmeza na voz,mas vacilei.-Eu...só estou preocupada com alguém.-Parei ao perceber que eu tinha falado demais.

-Com quem? Aconteceu alguma coisa?

-Bem, é que...um amigo meu está ficando na minha casa. Ele saiu e ainda não voltou...-Eu não era responsável por Cian,mas sentia como se fosse;ele era um homem,mas as vezes parecia uma criança; eu realmente não sabia o que sentir ou fazer.

-Ah...-Matt pareceu derrotado pela voz,pude até sentir o peso em seus ombros.-Eu...não sabia que você estava morando com um cara... não conta mais nada para o seu melhor amigo?-Ele riu,mas foi a risada mais forçada que já vi em toda minha vida.

-É... que ele... tem alguns problemas,eu não queria que você se preocupasse.-Talvez não fosse mentira...

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora