17: Dependentes

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Tive que deixá-lo lá, sozinho e desesperado. Não antes de prometer a ele que encontraria sua irmã.
Ele estava em um colapso quando me implorou para encontrá-la; com os olhos marejados, colocando as mãos sobre meu rosto. Cian me disse que sua tribo não gostava de mim... não gostava da minha raça.
Eles estavam o ameaçando,ou melhor, ameaçando a mim. Pediram que se afastasse, porém,ele se recusou. "Me perdoe Aolani..." Foi a última coisa que ouvi antes de sair de casa e pegar a moto. Ouvi-lo pedir perdão,me fez ter um questionamento interno: ele não quis se afastar por que quer achar Nahala, ou por que quer ficar perto de mim? Por algum motivo,a primeira opção me deu um aperto no peito.
Eu havia me tornado dependente daquele homem de olhos claros, isso era um fato,mas me tornei dependente dele,ou da paz que ele me trazia? Não importa,estar dependente de alguém nunca é um bom negócio.

🔱Cian🔱
...

Sozinho naquela casa, comecei a andar de um lado para o outro. Queria ir atrás de Aolani, não sabia o que meu povo faria se a pegassem, ou melhor,eu sabia, só não queria imaginar. Eles acabariam com ela em questão de segundos,sem nem ao menos se importar com quem estava ao seu redor.

Suspirei, abaixando os ombros e cruzando os braços. Meu povo faria com que eu escolhesse entre eles e a humana...e,por algum motivo,a escolha não seria tão fácil quanto achei que seria.
Fui até a janela do corredor da cozinha,por onde eu sempre entrava, observando o movimento das pessoas em Maui. Notei o quão amigáveis e próximos eles pareciam entre si,e demonstravam se agarrando e se esfregando. Minha curiosidade se aguçou,me fazendo focar em dois humanos que estavam praticamente se engolindo, fazendo aquilo que Aolani havia me contado sobre beijos. Sem perceber, acabei sorrindo, pensando o quanto eles pareciam se gostar.

🌼 Aolani 🌼

Passei praticamente todo o expediente tentando fugir do meu melhor amigo, enquanto observava o movimento na sala de Kate. Estava distraída olhando-a trabalhar em silêncio, quando Matt se aproximou, me encurralando:

-Tá fazendo o que?-Ele perguntou,me assustando.

-Nada.-Tentei parecer indiferente.

-Por que está fugindo de mim, Lani?-Ele foi direto e certeiro.

-Não estou fugindo.-Fui na direção oposta a que ele estava,mas ele parou a minha frente.

-Lani...foi o beijo, não foi? Quer falar sobre isso?

-Não!

-Mas eu quero! Lani,por favor, chega de fugir! Sério,eu amo você!-Ele praticamente berrou, segurando meus braços com delicadeza. Apenas abri a boca,sem saber o que dizer... Não queria magoar meu melhor amigo,mas também, não queria que ele fosse nada além disso.

-Matt...eu gosto muito de você. Você é como um irmão pra mim...mas...-Encolhi os ombros,sem poder continuar.

-É ele, não é? Aquele esquisitão que você levou para a festa?

-Não fale assim dele. Você não o conhece.

-É nem você,Lani!! Você o conheceu,há,o que? Duas, três semanas? Esse cara pode ser qualquer um!! Até mesmo um assassino canibal.-Ele suspirou, tocando meu rosto.-Pode contar comigo para o que quiser. Sempre estarei esperando por você.-Ele sorriu, saindo pelo corredor. "Ele tem razão... Mesmo que ele pareça inocente,Cian ainda pode ter matado alguém...ou pior... se alimentado de alguém." Pensei,me lembrando dos corpos encontrados na praia e no oceano. Engoli em seco, sentindo meu coração diminuir.  Voltei para minha ala,onde Matt já estava, concentrado no trabalho. Eu,por outro lado, não consegui me concentrar.
   Me lembrei dos olhos ternos de Cian,de sua inocência infantil,me recusando a acreditar que ele mataria alguém,ou comeria carne humana... afinal,ele esteve perto de mim, dormiu na mesma cama que eu. Suspirei, aliviada por meus próprios argumentos, voltando a me concentrar.

Quando finalmente percebi que estava sozinha,corri até a sala de Kate. Não demoraria muito até que os seguranças começassem a chegar, então, tentei ser rápida. Se alguém poderia ter informações sobre Nahala, com certeza era Kate.
   Sorrateiramente,me sentei em frente ao computador. A senha dela era digital, já a vi fazer isso por diversas vezes, colocando o indicador no aparelho. Apenas assoprei de forma que o ar saísse quente, simulando o calor da mão dela, como as digitais dela já estavam impressas,por ter colocado o indicador diversas vezes no aparelho,ele entendeu que era ela quem o estava desbloqueando.

Dei um sorriso vitorioso, procurando por alguma coisa que me trouxesse uma pista.
  Procurei por toda a tela, até encontrar algo que me chamou atenção:uma pasta com a sigla "CEM". "Essa é mesma sigla que havia no uniforme de Karen Sycowitz".  Arregalei os olhos, clicando para abrir a pasta.

CianOnde histórias criam vida. Descubra agora