Capítulo 10

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10

Chegamos no elevador de trás e digito a série que decorei no painel.

Ele começa a subir. Não posso deixar de me surpreender. Ele nunca tinha funcionado antes. Sempre pensei que estivesse quebrado.

Nunca tinha nem entrado nele.

Quando as portas se abrem, luzes automáticas são acesas, e não sou a única a ofegar com a visão.

Nós três saímos da cabine ao mesmo tempo.

Ao ouvir o nome quarto do pânico, essa definitivamente não era a imagem que aparecia em minha mente. Estamos dentro de um pequeno apartamento sem janelas.

O cômodo é todo aberto. Tem um sofá com mesa de centro e televisão, seguida por uma quitinete com geladeira e pia, além de uma escrivaninha com prateleiras de livros e um computador. Mais para frente consigo ver uma porta isolada. Deve ser quarto e banheiro.

Inesperadamente, Christian começa a gritar.

Berrar.

—Temos que testar se é a prova de som, não temos?

E continua. Gritando. Berrando. Xingando. Quando paro para raciocinar novamente, nós todos estamos deitados no chão.

Perdemos o fôlego de tanto usar os pulmões.

Nunca pensei que xingar e gritar e berrar pudesse ser tão reconfortante.

Ninguém aparece. É realmente a prova de som, então.

Alex liga a televisão, Christian vai até a geladeira, eu vou até a escrivaninha. Passo a mão pelos títulos que encontro nas estantes.

O morro dos ventos uivantes. O grande Gatsby. Orgulho e preconceito. Até Shakespeare e irmãos Green. Com um exemplar de Romeu e Julieta em mãos, sento no pequeno escritório.

Teria me perdido na história em poucos minutos, não fosse outra coisa chamando minha atenção.

A vantagem de ser distraída é que os detalhes menos importantes se tornam tão grandes que você não consegue prestar mais atenção em nada além deles.

Distraída. Alienada. Observadora.

Tão observadora que me distraio observando.

E foi exatamente o que fiz quando reparei que o porta-copos de couro em cima da mesa estava úmido. Molhado. Com o líquido formando um círculo, onde um copo deveria ter ficado, recentemente.

Não.

Meu pai não entra aqui. Disse que eu era quem viria para cá, colocar o testamento.

Isso quando ele estivesse pronto.

Posso estar enganada. Pode ser um copo antigo, da época da minha mãe, ou de quando foi construído. Pode ser que o fato de ele ainda estar úmido tenha a ver com a falta de ventilação na sala. Pode ser que tenha alguma garrafa antiga na geladeira comprovando minha teoria.

—Christian, você encontrou alguma coisa aí? Alguma comida ou bebida vencida?

Ele nem ouve minha pergunta. Está assistindo a um jogo de basquete com Alex.

Suspirando, abro a geladeira na procura de alguma sobra, qualquer coisa que mostre que alguém esteve aqui algum dia.

Está vazia.

Não tem nada.

Abro a torneira. Não tem água.

Não.

Não Pense (Primeira parte completa!)Onde histórias criam vida. Descubra agora