Capítulo 12

11 3 35
                                    

12

Dormir não é um passatempo muito agradável.

Se eu pudesse, não dormiria. Nunca.

Às vezes, tento não dormir.

Algo sobre não controlar o meu subconsciente enquanto ele forma as imagens que quer não me parece certo.

Especialmente quando essas imagens me atormentam.

Especialmente quando essas imagens mostram o cadáver da minha mãe com pulsos sangrando em uma banheira.

De novo e de novo e de novo.

Tortuosamente. Rapidamente. Mas tão, tão lentamente.

Transtorno pós-traumático. Acho que esse é o nome. Algumas pessoas têm perda de memória seletiva.

Não tive essa sorte.

Um psiquiatra já me prescreveu remédios para dormir, caso não conseguisse sozinha.

Eu nunca tomei. Eles não param os sonhos.

Estou com sono. Bastante, mas já aconteceram coisas demais hoje. Não sei se consigo aguentar enxergar aqueles olhos pretos, tão idênticos aos meus, assim que decidir fechá-los.

O brilho do celular é cegante no contraste com a escuridão do quarto. São duas e cinquenta e três da manhã.

O silêncio é quase ensurdecedor. Se ficar quieta o suficiente, consigo ouvir meu coração bater.

Encosto meus pés descalços no chão de mármore da escada. Está escuro. Não preciso acender a luz para enxergar os degraus.

Não é a primeira vez que faço isso.

É a primeira vez que faço isso sabendo para onde ir.

Uma passada rápida na sala de jantar me faz trocar as garrafas de água que segurava nas mãos por uma de Vodka. Sobras da festa. Deve ajudar na dor de cabeça.

Digito os números no painel e sinto a cabine começar a se movimentar.

Não espero que ele esteja acordado.

Mas quero que esteja. Quero mesmo.

Os únicos sons que consigo escutar são os da televisão enquanto Christian dorme no sofá.

Sinto o canto da minha boca arquear automaticamente quando percebo o que está na tela.

A dama e o vagabundo.

Alex, Chris e eu estávamos comendo na sala de televisão da casa de praia da família Emery. Alex e eu tínhamos nove anos. Christian fizera dez no dia anterior.

Ninguém realmente ligava quando crianças almoçavam na frente da televisão. Era férias.

Faziam 4 meses da morte da minha mãe. Meu pai estava de luto, não conseguia cuidar de mim.

— Alguém sabe o que vagabundo significa?

Alex sempre foi o mais curioso.

—Não esperava que crianças de nove anos soubessem o que significa - Foi Christian quem respondeu, dando ênfase na nossa idade. - Quando tiverem dez anos, como eu, vão entender.

Ele também não sabia. Mas nunca admitiria.

—É alguém que não trabalha. Nem quer procurar trabalho. - era o que meu pai tinha me dito quando perguntei a mesma coisa, pelo menos.

Os meninos nem me ouviram, cada um concentrado em seu prato. Macarronada, era domingo.

Ficamos em silêncio por um tempo.

Não Pense (Primeira parte completa!)Onde histórias criam vida. Descubra agora