Tinha uma foto, na prateleira dela.O sol iluminava a fotografia. Era bonito, o jeito como as luzes entravam pela janela e refletiam na moldura de vidro.
Deixavam a imagem viva, tão viva quanto os raios luminosos do dia em que a memória havia sido eternizada. Eles estavam em um parque de diversões.
Christian, Alexander e Delilah.
Sorrindo.
Eles costumavam sorrir, bastante. Juntos.
Não naquele dia, no entanto. Nem depois dele.
Era um passeio da escola, os três bons amigos voltavam de mãos dadas, como sempre faziam. Ela dormiria com eles, seu pai estava em uma reunião.
Sempre estava em reuniões, é o que Delilah pensava, reuniões demais. Muitas delas. Mas não se importava, não quando poderia passar mais tempo com Chris e Alex. Gostava da casa deles, e de seus pais, e, embora não contasse isso a ninguém, às vezes, sozinha, desejava que Daisy, mãe de seus dois melhores amigos, pudesse ser sua também.
Às vezes a saudade fazia com que ela pensasse coisas idiotas. Ela teve uma mãe. Não precisava de outra. Assim como sua mãe também não precisava dela, aparentemente.
Viu? Ela concluiu consigo mesma, mais pensamentos idiotas.
Pare de pensar. Não pense.
—Dee? – A voz do amigo tirou a menina de um de seus tão frequentes devaneios, agradecidamente, antes que eles pudessem se tornar sufocantes. - Quer um pedaço de bolo? Sei que você não gosta quando tem abacaxi, mas eu tirei os pedacinhos da sua fatia, para você. Ficou esmagado, mas tá aqui.
Seu rosto se abriu com um sorriso.
Christian sabia que isso a faria sorrir, foi por isso que teve a ideia. Gostava de quando ela sorria. Fazia ele querer sorrir, também.
Ele não admitiria para ela, no entanto. Não mesmo. Nunquinha.
Só por cima do meu cadáver, é o que ele pensava. Ela me acharia um bobão.
Então ele sorriu, sorriu e entregou o pedaço de bolo, ou o que tinha sobrado dele.
—Obrigada, Chris.
Delilah reparou no quanto os olhos do menino brilhavam hoje. Verdes e lindos. Diferentes de tudo que ela já tinha visto.
Ela não admitiria para ele, no entanto. Não mesmo. Nunquinha.
—Só fiz isso porque era o último pedaço, e o prato estava ocupando muito espaço na geladeira, - Sua voz saiu rápida demais, tensa demais. - queria colocar meus chocolates lá dentro.
Ele viu a expressão da amiga se tornar confusa com a justificativa, e depois suavizar, enquanto ela engolia a primeira garfada.
—Ah, tá bom. Entendi. Obrigada, mesmo assim.
Bobão. Sou mesmo um bobão. Chris teve vontade de dar um tapa no próprio rosto, ou sair correndo.
Isso só pioraria as coisas, pensou. Decidiu ficar.
Antes que o menino pudesse encontrar formas de fazer com que Delilah não pensasse no quão estranho ele era, ou, quão estranho ele achava que tinha sido, seu irmão mais novo, Alex, entrou no quarto onde estavam sentados.
Não era seu irmãozinho. Não de verdade, não de sangue. Isso não queria dizer que Chris não o amava com todo o coração. Não tinham nem um ano de diferença, mas ele acabaria com qualquer um que ousasse fazer mal a Alexander.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
Ficção GeralPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...