19
As portas do elevador se abrem e o encontro no computador.
—Christian? - Ele pula, e seus olhos desviam da tela - Trouxe um baralho, você pediu.
Ele sorri. Estamos bem, então. Eu espero.
—Conseguiu aprender a jogar Kings in the corner depois de todo esse tempo?
—Foi eu quem te ensinou. Bobão.
—De novo isso? Quer outro banho?
—Tentador. Mas não, obrigada. - Uma ideia surge na minha cabeça - Quero respostas.
—Oi?
—Eu venço, faço uma pergunta. Você vence, eu te respondo algo.
Seus olhos são puxados para o lado com o sorriso maquiavélico que estampa seu rosto.
Quase me arrependo. Quase.
—Gosto disso - Christian responde, por fim - Mas o que dissermos vai ficar aqui. Não vale mentir, também.
–Não sou a mentirosa aqui.
—Touché.
Sentamos no chão e posicionamos as cartas em cima da mesa na sala.
Ganho a primeira partida.
—E a sua mãe? Você nunca fala dela.
—Nossa, mas já? - Ele suspira - Susan Newman. Foi ela a mulher que me carregou por nove meses. Oito, fui prematuro, na verdade. Ousadia da sua parte assumir que ela é minha mãe.
Já conheço o nome. O sobrenome, no entanto...
—Newman? Ela não é casada com seu pai? Achei que depois do divórcio entre Charles e Daisy...
—Uma pergunta de cada vez. Vamos jogar.
Ele não me respondeu. Sequer questionei. Não pressiono.
Dois a zero.
Sorrio.
—Ela não é casada com seu pai?
Chris faz um sinal de rendição com os braços.
—Não. Nunca foi, eles moram juntos, de vez em quando. Mas às vezes não. Depende da semana. Eu ficava na casa de Charles, de todo jeito.
Dois a um.
Christian sorri.
—Por que não gosta da família Wayne?
—Porque elas estão roubando meu pai.
—Você já não gostava delas antes disso.
Suspiro.
—Quando meu pai conheceu Aveline, eu tinha quatorze anos. No começo, eram ciúmes, depois inveja, depois eu conheci elas de verdade. Já é justificativa suficiente. Não gosto de joguinhos, ou sutilidade. Não dá para confiar em pessoas que sempre parecem querer algo em troca.
Três a um.
—Por que começou a beber se sabe que seu pai bebe?
—Porra, Delilah. De onde está saindo isso tudo? - Ele me olha, se escondendo atrás de um sorriso. Espera que eu deixe para lá. Não deixo. Ele continua - Pode ter a certeza de que não é porque eu acho o gosto bom. Eu queria escapar, por muito tempo. E as garrafas estavam lá, oferecendo o caminho até a saída. Roubei uma do armário, com quinze. Gostei da sensação. Sabia que estava sendo idiota. Gostei de ser idiota, não pensar muito por pelo menos algum tempo. Então roubei outra. E quando me dei conta, por mais hipócrita que sei que sou, comecei a fugir do meu pai alcoólatra usando álcool. E outras coisas.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
General FictionPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...