18
Tenho consulta com o psicólogo, hoje. Gosto de ir lá.
Poder conversar com alguém sobre o que eu quiser se eu quiser é aliviador. Saber que não vou ser julgada e aprender a lidar com as minhas emoções é mais ainda.
Ou era. Com a doutora que costumava me atender. Troquei. Não sei se gosto muito do atual.
Falar pode ser bom, de todo jeito.Ele é mais novo. Sua sala um pouco menor.
—Boa tarde Delilah.
É simpático, pelo menos.
—Oi.
—Você quer alguma água, suco?
—Não. Obrigada.
Falamos por um tempo.
—E essa semana? Como foi pra você?
—Agitada. Eu acho.
—Acha? Não tem certeza?
—Não.
—Por que?
—Só vou saber se foi agitada quando viver uma semana mais agitada. Vou ter certeza se realmente foi ou não.
—Você precisa de uma confirmação?
—Sim.
—Gosta de ter certeza absoluta das coisas?
—Sim.
—Por que?
—Me dá controle. Sobre elas.
—Acha que isso pode ter alguma coisa a ver com sua mãe?
Penso por um momento.
—Possivelmente.
—O que acha que pode ser relacionado?
—Não sabia que ela... ia fazer... o que fez. Não percebia que estava tão mal. Não pude fazer nada. Não sabia...Não tinha certeza. Gosto de ter o controle, agora. Não quero estar desprevenida...de novo.
Já tinha falado sobre isso, com a outra doutora.
Ele pausa para anotar alguma coisa no caderno.
—E sua madrasta?
—Ela não é minha madrasta.
—Não?
—Meu pai não é casado com ela.
—Como vai a convivência? Comentou que as coisas podiam ficar complicadas.
—Continuam complicadas.
—Sabe o motivo?
—Sei. Não gosto dela.
—Sabe por que?
Sim.
—Não.
—Disse que ela pode ser meio difícil de entender, Aveline, quero dizer.
Não. Não disse.
Disse que ela é difícil.
Não disse seu nome. Nenhuma vez.
Será que disse?
Meu pai deve ter falado, em algum momento. Provavelmente.
Estranho. Mas possível.
Acabamos a sessão vinte minutos depois. Passo no mercado e compro um baralho.
Chego em casa. Cumprimento meu pai. Tomo um banho e vou para onde sei que deveria ir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Pense (Primeira parte completa!)
Ficción GeneralPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...