28
Sou uma amiga horrível.
Não consigo me sentir culpada. Depois de atrasar. Mais de uma hora e meia. Para encontrar Alex.
Chris e eu devolvemos as bicicletas. Mas tivemos alguns contratempos. Em praças e ruas.
Vazias. Meio escuras.
Decidimos soltar as mãos. Pelo bem do nosso amigo. Não somos tão ruins, então. Eu acho.
—Onde caralhos vocês dois estavam? - Alexander começa - Não. Esquece isso. Não quero saber. Guardem para vocês.
—Então tá.
Responde Christian.
—Não tá nada não. Porque perdemos o metrô. Temos três minutos para chegar na estação, que fica há pelo menos vinte minutos correndo daqui.
—Podemos chamar um carro - sugiro. - pelo app.
—Já tentei tudo - Diz Alex - Táxis só ficam disponíveis depois das seis, e nenhum motorista, dos oito que eu conversei no uber, está disposto a fazer a corrida daqui até Los Angeles sem ter marcado antes. Todos cancelaram. Estamos fudidos.
—Sem problemas. - Rebate Christian - Vamos passar a noite em um motel. Vamos embora de manhã, iam dormir na casa um do outro, mesmo. Não vai fazer diferença se os dois chegarem mesmo horário.
—Chris, - Digo - Como vamos alugar um quarto? Não vão deixar dois menores de idade e um garoto que acabou de fazer dezoito passar a noite.
—Já viajamos assim.
Alex responde.
—Sim. Mas nossos pais estavam lá, alugaram quartos também. No mesmo andar.
—Calma gente - Intervém Christian - Deixa que eu falo. Peço um quarto para três. Estamos em uma cidadezinha, não vão questionar se verem que podemos pagar.
—Não temos muita saída, de todo jeito - Alex pega uma garrafa que estava apoiada na borda da fonte. É de vidro, meio esverdeado, não conheço a marca, parece bem barata. É vinho. Está quase na metade. - Vamos indo.
—Onde conseguiu isso, Alexinho?
—Ah, foi com Rebecca - seu rosto instantemente ilumina com a menção. - A família dela trabalha lá no festival. Ficamos até o final, um dos vendedores nos viu conversando e ofereceu a garrafa. São todos bem legais por lá. Já estava aberta, e ele disse que "a cerveja é feita pelos homens, e vinho pelos deuses" acho que ele já estava bêbado. Aceitei, mesmo assim.
—Que merda de garrafa é essa?
Chris indaga.
—Não tenho ideia - Alex diz. - É feito em casa, me contaram. Para vender. Com maçã e morango, também. É bom, só não muito antigo. É forte. Acho que tem mais coisas misturadas. Por isso não tomei tanto, mas agora...
—Relaxa - Christian consola. - Tenho tudo sob controle. Vai funcionar.
Não funcionou.
Três e quarenta e três da manhã. Duas tentativas depois, aqui estamos nós.
—Moça. Moça, senhora. - insiste Alex mais uma vez. A recepcionista praticamente rosna para ele.- Senhorita, estamos implorando, por favor. Vamos ter que passar a noite nas ruas perigosas, escuras e assustadoras. Só queremos um quarto. Podemos pagar.
—Sem autorização dos seus pais, sem quarto.
—Tenho dezoito. Pra constar.
—Você sim, olhos bonitões. Eles não.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
General FictionPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...