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Batidas mais fracas.... e mais fracas. Até quase pararem.
Até a ambulância chegar. Até eu ser arrastada para longe dele. Até os paparazzi aparecem e eu não ter a merda de uma jaqueta para cobrir meu rosto....
Jaqueta.
Não, espera. Eu tinha uma jaqueta comigo. Do uniforme, a mesma jaqueta na qual que decidi colocar as provas, pouco antes de....
Não.
Abro os olhos, acordando de um sonho que nem percebi que estava tendo. Ainda não é de manhã, Chris está do meu lado.
Tudo bem. Está tudo bem. Eu entrei dentro de casa, com a jaqueta. Fui até o quarto do pânico, com a jaqueta. Voltei e conversei com o Charles, e com a polícia, a jaqueta ainda estava lá, na minha cintura.
Deve ter sido no tumulto, no momento em que me afastaram, deve ter caído. Na sala de estar, no chão ou um dos sofás.
Levanto lentamente, tentando fazer o mínimo barulho possível.
Não consigo, no entanto. Estou revirando minha sala.
Embaixo dos móveis, entre as almofadas, até no vão dos detalhes em gesso do teto. Nada.
Estou sentada, joelhos apoiados no queixo e pensando no instante em que escuto:
—Dee? Acordei para ir ao banheiro, você não estava lá.
—Oi, Chris.
—Não consegue dormir? Quer conversar? Não é como se eu tivesse muitos compromissos de manhã, de todo jeito.
—Perdi minha jaqueta, do uniforme. Estava usando pouco antes de... Bom, de tudo dar errado. Não consigo encontrar.
Ele me olha um pouco confuso, coçando a cabeça.
—Não pode deixar para procurar de manhã? Já está bem tarde.
—É que... eu precisava dela.
—Tenho certeza de que você tem outras iguais a essa, pode ser que esteja lavando, ou eu sei lá.
Minha cabeça levanta.
"Seu pai vai ficar, filho. Disse que tem que ir levar algumas roupas sujas na lavanderia para Aveline"
Charles.
Charles ficou para recolher as peças sujas e levá-las. Juntar todas elas e colocar no porta-malas.
Como uma parte do uniforme caída pela casa.
Como pude ser tão pateticamente idiota? Como não percebi?
Se eu tivesse pensado, e tirado uma porra de uma foto, ao invés de levar os papéis comigo como alguém que ainda não descobriu o advento da tecnologia...
Burra. Todas às vezes em que me deixo levar, todas às vezes em que não penso...
—Delilah? Tudo bem?
Encaro seu rosto, pensando em contar os meus motivos, mas desisto.
Christian parece relaxado, assim como eu estava momentos atrás. Nossas troca de palavras alcançam a minha mente e não consigo me fazer estragar sua alegria tanto quanto estraguei a minha. Isso é um problema meu de todo jeito, só meu.
Não tem porque estressar Chris. Vou perguntar sobre as roupas sujas amanhã e dar um jeito, como sempre.
—Você tem razão. Posso procurar amanhã.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
Fiction généralePensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...