43Espero que Christian consiga entrar sem minha ajuda. Não tenho como sair de casa. Não quando a intensidade de água caindo é tanta que abrir a janela se tornou fisicamente impossível.
De todo jeito, não poderíamos contar sempre com a minha presença.
Este cenário quase nunca ocorre. Não estou confortável com ele. Estou sozinha. Bem, estaria melhor se estivesse sozinha. Harper ainda não chegou, meu pai está no hospital e Alexander disse que está com sua mãe. Não a encontrou em casa, mas Daisy voltou imediatamente após receber a ligação do colégio. Pode não ter especificado com quem tinha saído, mas Alex conseguiu fazer as pazes com ela, por enquanto. Aveline está aqui.
Antes ela trabalhava, como qualquer outro funcionário.
Morar na cobertura do dono deve ter suas vantagens, então.
Gosto do barulho da chuva, é calmante. Tempestades com raios e trovões são outro caso, especialmente quando se mora no último andar. Não é medo, mas dificilmente sentirei segurança estando tão perto assim do céu enquanto ele desmorona.
Desistindo de fazer a lição de casa, não consigo deixar de lembrar das últimas palavras de Andrés. Espero que fiquemos bem. Não me importo em não falar - ou propositalmente evitar - muitas pessoas. Meu amigo não faz parte da lista preocupantemente crescente. Decido que deveria falar com ele.
Desisto quando tento ligar meu celular completamente descarregado.
Encaixo o carregador na tomada, e, no mesmo momento em que conecto o aparelho, sou cercada por escuridão. A televisão também parou.
Merda. Não me lembro da última vez em que fiquei sem energia. Não acho que já tenha ficado sem energia. Temos geradores no prédio. Ou tínhamos, aparentemente.
Xingando mentalmente, desço as escadas graças a habilidade praticada com todos os anos morando aqui. Preciso de velas, ou lanternas.
Desceria até a portaria, não fossem os lances infinitos de escadas, já que não temos mais elevadores.
Merda. Não temos mais elevadores.
Christian. A única entrada do quarto do pânico depende de eletricidade. Nunca pensei no quão inconveniente isso poderia ser. Mas, novamente, não deveríamos estar nessa situação, em primeiro lugar.
—Delilah? - ouço Aveline me chamar, enquanto procuro cegamente por alguma fonte de iluminação na dispensa - Sabe o que aconteceu?
Mas é claro que sei. Sou engenheira elétrica.
—Não.
Talvez se exercitasse a mente trabalhando, não faria questionamentos tão idiotas.
—Tem como falar com o síndico?
—Não.
Posso jurar que, mesmo sem ver nada, consegui enxergar suas sobrancelhas se erguendo e os braços cruzando no quadril.
—Por que?
—Não tenho bateria.
—Você pode ligar do meu telefone.
—Você pode ligar do seu telefone. - Digo, testando minhas habilidades mais uma vez ao tentar acender um isqueiro - Se quiser falar com ele, falar com ele é tudo que precisa fazer.
—Certo. - Ela pondera, decidindo se vale a pena continuar a conversa ou não. - Você não pode ligar para ele? Não o conheço tão bem.
Nego com a cabeça. Poderia, mas não quero.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
General FictionPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...