14Chegamos pouco tempo depois, deixando as compras no porta malas do carro de Alex.
Espero que ainda tenha bolo.
Não gostaria que Christian morresse de fome depois de todo o dinheiro gasto com ele.
Desejo que ele fique vivo por outros motivos, também.
Vamos em direção à sala de jantar. Todos estão se servindo.
Sento do lado direito de Alex, que fica encarando sua mãe enquanto fico de frente pra Harper. Meu pai está do meu lado, na frente de Aveline.
—Boa noite crianças - cumprimenta meu pai - Onde estavam?
—Boa noite Sr. Houghton. Fomos para o shopping.
—Oi pai. - digo também - Voltamos antes do horário. Ainda são oito e quarenta.
—Eu sei, Dee. - Ele abre um sorriso sincero - Só estava curioso.
—Gente - uma voz irritantemente estridente me faz lembrar da presença de Harper no cômodo - Eu preciso sair. Daqui a pouco. Preciso escutar o que vão conversar?
Percebo que ela está um tanto desesperada demais.
Arrumada demais, também.
—Vai sair em um domingo à noite? - A pergunta pode ter sido para Harper, mas os olhos do meu pai estão fixos em Aveline.
—Sim. Eu deixei. Minha filha brigou com o namorado e precisa desestressar um pouco. É só uma noite com as meninas, vai direto para a escola amanhã.
—E então? Posso sair?
Meu pai gesticula na direção de Daisy, que fala pela primeira vez durante a refeição:
—Acho que o assunto hoje não te interessaria muito de todo jeito, Harper. No que depender de mim, pode ir sim.
Nunca vi aquela garota se movimentar tão rápido.
De repente também sinto vontade de fugir. Tenho uma ideia muito boa de qual será a conversa, agora.
—Então, mãe - Alex parece começar a ficar impaciente. Também deve ter adivinhado. - O que precisa falar com a gente?
—Christian. - ela respira fundo - Precisamos conversar sobre Christian.
Olho para Alex no mesmo momento em que ele olha pra mim.
Meu coração aperta. Mas sei o que devemos fazer, pelo próprio bem dele.
—O que tem ele? - Meu tom parece preocupado, como queria que acontecesse - A senhorita teve alguma notícia? Faz tempo que estou ligando e mandando mensagens, mas sem resposta nenhuma.
—Sim. Charles entrou em contato - sua voz quase some ao mencionar o ex-marido - Disse que Chris andava tendo comportamentos estranhos nos últimos meses, passando mais tempo fora de casa do que dentro. Disse que brigaram no dia de seu aniversário e que ele estava fora de controle. Essa foi a última vez que o viram. Dia vinte e quatro de outubro. Ele desapareceu. Não está com nenhum amigo. Já apareceu até nos jornais, mas nada.
Fingindo uma reação de inconformidade, esperamos oito segundos antes de continuar:
—Ele vai ficar bem, mãe - responde Alex - É do Christian que estamos falando. De nós três, ele sempre foi o que sabe se virar melhor sozinho. Tenho certeza de que, onde quer que ele esteja, está por vontade própria. Daqui a pouco aparece.
—Eu espero que sim. Por que estou preocupada. Ele pode ter dezoito anos e não ser meu sangue, mas é meu filho. Um dos meus bebês. Então por favor. Por favor, se souberem de qualquer coisa, me avisem.
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Não Pense (Primeira parte completa!)
General FictionPensar. A sutil e gradual arte de deslizar você mesmo em direção a insanidade. Ou a verdade, eu acho. Não poderia saber. Já tem um bom tempo que eu não penso. Não penso na minha mãe. Ou no meu pai. Ou neles. Não penso. Mantenho o controle. Tento. Me...