Without Fear

Feliz Natal

Tonks

        Ao sentir minha consciência vir à tona, abri os olhos devagar. Esfreguei as pálpebras e vi minha visão finalmente criar um foco ao emaranhado vermelho ao lado do meu rosto. Suspirei em um sorriso torto e preguiçoso ao ver que Tulipa ainda dormia, geralmente sou eu quem sempre acorda mais tarde e perco este momento único, o momento após. Parecia ainda estar em um sono profundo, tinha um ar cansado em seu rosto jovem e assisti seu peito subir e descer. Então finalmente tive uma ideia.

        Desvencilhei-me sem que ela acordasse, então saltei para fora da cama e me vi completamente nua pelo espelho. De fato, esta seria uma maneira de estar que eu adoraria que a Tulipa tivesse quando acordasse, então transfigurei-me em mim mesma. Mas, com muito esforço, de roupa. Saí sorrateiramente do quarto e fui direto à cozinha, onde minha mãe e meu pai já estavam.

- Aí está você. - disse minha mãe -Como se saiu?

- Como assim?

- Como se saiu ontem?

Paralizei onde estava, afim de que não pudesse ver os meus pensamentos e sequer notar que ela poderia estar certa.

- Com a sua amiga. - Papai reforçou - Teve sucesso em ajuda-la?

- Ah! Isto! Sim, claro, ela está melhor.

- Mesmo? Ouvimos algo que me parecia uma briga, ontem de noite. Como se estivessem gritando uma com a outra. - disse mamãe

Sorrio um grande e nervoso sorriso, pego um copo de água e o bebo.

- Não estávamos brigando... eu só estava... tentando fazer ela rir um pouco. Tentava contar histórias engraçadas... E vocês sabem quando me empolgo.

- Que bom que deu certo, então. - disse Papai

- Sim! Eu só pensei em deixar ela dormir até um pouco mais tarde pra que ela descanse e pensei também em levar comida pra gente.

- Faz bem, filha. - disse mamãe - Eu vou juntar algumas frutas e suco de abóbora. Só um momento.

Eu a ajudei nisto, afinal, eu conheço Tulipa como ela não conhece. Recolhi tudo e silenciosamente entrei no quarto, coloquei tudo sobre a mesa, destransfigurei-me e subi na cama, entrando dentro dos lençóis e me colocando em uma posição boa o suficiente para que pudesse assisti-la em seu sono. Tão bela, tão jovem, mas tão machucada. É a única coisa que posso pensar neste momento. As coisas que ela falou ontem, tão pesadas, mas que começaram a fazer sentido pra mim. Eu me lembro bem da reputação de Tulipa antes de entrar para o Círculo de Khanna, imagino que todos aqueles olhares tenham falado ontem à noite, imagino que todas as frases frias e feitas dos pais dela tenham falado ontem à noite. Isto é, se eles sequer se dão o trabalho de falar com ela. Por que é isso que ela sempre faz quando sente algo genuinamente bom, ela diz que não merece isto. E isto não é verdade. Pelo contrário. E presumo que agora que todos que a conhecem melhor podem ver isto também. Ela não é como um desses milagres ambulantes que andam sob o Castelo como Chiara ou Penny, Cedrico ou Badeea... ou até mesmo Gabriela, Bernaby e Orion. Na verdade, muitos membros do Círculo de Khanna, inclusive a própria Rowan. Ela quebra regras, não guarda desaforo, não dá lições de moral e não anda pelos corredores prestando atenção em quem precisa de ajuda ou não. Mas é boa, é tolerante, é uma boa amiga, tenta ajudar no que ela puder, é irônica, fala palavrões e é uma excelente namorada. Claro, temos alguns problemas que precisamos sempre resolver, mas nada injustamente, apenas coisas as quais nós duas precisamos aprender a lidar. É fato que meu tempo no Ministério a abalou e nos afastou, mas sempre que eu a cumprimentei ou sempre que eu precisei dela, ela me deu sorrisos e diálogos gentis, sem hostilidades. Ela é linda, e em tantas maneiras. Porém, sempre um alvo de julgamentos. Atrevi a deslizar a ponta dos dedos em seu cabelo, lembrei-me de como nos abraçamos depois da nossa longa noite de amor, em como a mantive em meu peito e a acariciei os cabelos. Eu a amo. Eu amo Tulipa Karasu. Então eu a vi abrir os olhos devagar, acostumando-se depois de um sono profundo. Sorri para ela e a vi me encarar no momento em que seus olhos se adaptaram.