Gabriela Smith

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Flashback

       A temperatura do nosso corpo estava voltando ao normal, podia sentir isso embora estivesse debaixo das cobertas e de olhos completamente fechados. Eu sequer havia percebido que havia um sorriso em meu rosto até este exato momento.

- Gosto de sentir o seu corpo no meu. - Ela falou, me fazendo apertar involuntariamente os braços ao seu redor - completamente nú. É tranquilo... Real. Sem máscaras ou impressões à dar. Apenas o nosso próprio calor vindo nos confortar.

- Está rimando agora? - ri, mas ao não receber respostas, abri um dos olhos para espia-la. Parecia pensativa aqui, com seus pés entre minhas pernas e seu rosto virado em minha direção, a cabeça apoiada em meu braço esquerdo - Ei... Mer, o que foi?

Ela respirou fundo e me olhou nos olhos, como se lutasse contra algo em seus pensamentos.

- Ei, confia em mim. - falei com um sorriso - O que te incomoda?

- Não me incomoda... pelo contrário. Parece correto.

- E o que seria?

- Eu amo você. De verdade.

Aquilo veio como um tombo em meu peito e em meu estômago. Mérula Snyde acabou de dizer que me ama e eu estou aqui com esta cara de abóbora amassada. Ela me ama?

- Não surte. - Ela advertiu, olhos vidrados - Nem pense demais... estraga as coisas.

- Estou surpresa que tenha me contado... E agradeço sua honestidade.

- Argh. - voltou a deitar o rosto, mas agora deslizando minhas costas para deitar completamente na cama e arrastando o corpo para que deitasse a cabeça em meu peito - Vocês Lufanos...

- Está com medo de ouvir que eu também amo você? - concluí

Ela parou. Não sentia o mexer de seus ombros, sua respiração ou qualquer movimento que fosse.

- Você falou, mais cedo, que se sente segura quando eu te abraço desta e daquela outra forma que estávamos à pouco. Por que não se sente segura quanto a isto também?

Ela olhou para mim, se apoiando no cotovelo direto.

- Você tem a Haywood e eu sei que não vai declarar seu amor para duas garotas porque você tem essa mania de honestidade e de construir coisas para serem perpétuas. - Ela desviou, causando em mim extrema dor

- Eu te amo, Mérula Snyde. - falei com seriedade, trazendo a atenção dela para mim novamente - E nós veremos com o tempo que tipo de amor estou cultivando aqui, mas tenho sérios palpites...

Ela pressionou os lábios nos meus, me impedindo de continuar. Eu acariciei os cabelos dela com delicadeza, algo bem diferente do que fizemos aqui há alguns minutos. Ela tinha medo e eu a entendo, não é fácil amar e não ser correspondida, e eu nunca quis dar este tipo de experiência a ninguém, muito menos à Mérula.

Tempo atual (Enquanto isso)

Gabriela


        Não havia forças debaixo da minha carne ferida e pesada, a última coisa que lembro ter visto foi uma garota entrar no salão. Pronto. Tulipa estava salva. Não há nada para fazer agora, nada a me agarrar. Não só meu corpo estava dilacerado, mas meu coração. Fui atacada por Mérula pelas costas e vi o exato momento em que atingiu Tulipa e passou por cima de nós sem ao menos olhar em nossos rostos.

      Não havia luz, no final. Talvez, ironicamente, eu precisasse fechar os meus olhos para tal feito, morrer em um golpe certeiro, mas sequer tive forças para isto também. Ao menos, certifiquei-me de que uma de nós estava a salvo.

Without FearOnde histórias criam vida. Descubra agora