Tulipa
A vida é nada mais do que aquilo que tentamos manter na corda bamba. Os amores e os rancores; A vida e a morte; As alegrias e as tristezas; Os caminhos tecidos tão fragilmente quanto lhe fora caprichado. E as escolhas que fazemos pelo caminho, como aquela que fiz anos atrás com aquele vira-tempo. Eu sabia que devia deixar Tonks assumir as responsabilidades das decisões dela, mas fui egoísta e com desespero em mente voltei até o ponto em que ela saía de casa, eu a alertei, mas, ainda assim, e principalmente assim, ela foi em busca de Lupin no Castelo. Eu implorei, falei sobre Ted ficar órfão dos pais, mas ela não mudou de idéia, e eu fiquei lá, paralisada e inerte novamente, sentindo o luto vir sobre mim em dose dupla.
Badeea se foi, Dênis se foi, Talbott se foi, Jennifer, minha esposa, se foi. E muitos mais dos nossos amigos. Eu sou uma das últimas, é claro. A perda é a minha sina. Tudo o que tenho agora é Ted, ele que vem me visitar às vezes, nesta casa vazia e sem vida, assim como eu estou. Sinto minha hora chegando, como a brisa que sopra meu rosto.
- Tia Tulipa?
Ele chegou. Caminhou até a cozinha, onde eu estava com o meu chá e aquele berrador empoeirado. Estava na hora.
- Sente-se Ted. Está na hora.
Ele não sabia exatamente do que se tratava, mas assim que se sentou de frente para mim, me dispus a explicar.
- Quando era jovem, sua mãe me enviou duas cartas, antes de morrer. Uma delas eu li na noite seguida à sua morte, onde ela me pediu para que olhasse por você, mas este berrador, eu nunca fui capaz de abrir.
- É por isto que estou aqui?
- Você está aqui porque a minha hora está chegando e este é o meu maior tesouro. Eu quero que você esteja aqui, quero que ouça a voz da sua mãe. Provavelmente será tão bobo quanto ela sempre foi, ela era jovem quando fez isto, muito mais jovem do que você é hoje, mas esta é quem ela sempre foi. É a sua mãe. Você está pronto.
Vi que estava tenso, eu conheço o meu menino. Mas inflou o peito e assentiu com a cabeça.
- Eu só espero que ela tenha sido um pouco decente, isto seria um trauma difícil de esquecer pra você. - falei
Então eu abri. E cá estava, sua voz me inundando mais uma vez:
"K.a! Oi. Nossa, quanto tempo não te chamo assim. Eu não sei bem o que te dizer, eu queria poder ter conversado com você da última vez que nos vimos, na festa. Pareceu tudo se tratar de um sonho passageiro, você estava lá, eu te vi e te ouvi e daí você se foi. Havia muito o que ser dito, acredite. Na verdade, agora você deve saber de tudo, já que deve ter lido a minha carta. Só que eu ainda sinto como se não tivesse dito o suficiente, como se tivesse mais coisas a serem ditas e que não consigo pensar sobre elas. Assim como foi naquela estação de trem. Bom, indo direto ao ponto, eu não sei como te dizer que sinto muito. Me lembro do nosso último momento juntas, lembro-me de não querer entrar naquele trem, nossas mãos estavam entrelaçadas bem no nosso peito, mas era hora de ir; lembro-me de estar naquele vagão, você estava com a cabeça no meu pescoço, seus dedos esmagavam os meus de tão forte que você me apertou, nosso abraço foi o mais doloroso, aqueles momentos se tornaram inesquecíveis, eram as nossas últimas horas juntas; lembro-me de te apertar e te abraçar e te beijar naquele trem, minha barriga estava tão gélida, era como se fossem as ultimas horas da minha vida, eu não queria te deixar ir. Bom, tire as crianças da sala - ela riu - Porque eu te toquei pela última vez quando passamos pela vastidão amarela, eu me lembro disto: Você estava com a cabeça encostada no meu braço, olhava pra mim, seu corpo na minha direção e o meu corpo na sua direção, haviam lágrimas presas dentro dos seus olhos, eu estava perto o suficiente pra te dizer isto com certeza, minha mão abriu um pouco das suas pernas só para que conseguisse passar, mas eu te acaricei tão forte, eu mesma prendia lágrimas nos meus olhos. Ainda sinto meus lábios tremerem e suas mãos tentarem me confortar e a si mesma, mas eu estava determinada, eu queria fazer aquilo, queria te fazer me sentir pelo menos uma última vez; quando o trem parou, eu não quis levantar, você não quis levantar, mas precisávamos. Na estação nos abraçamos tão apertado, segurei o seu rosto e mantive o seu rosto tão perto, mas não te beijei naquele momento. Eu queria ter beijado. E eu assisti você ir embora, não deixei que você ficasse e me assistisse ir, eu não conseguiria lidar com isto, ali mesmo eu soube que você estava chorando, meu coração se partiu em zilhões de pedaços, mas era hora de ir.
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Without Fear
Romance#[Parte 2] da fanfic I Will not Forget. Com o final da jornada contra as Criptas Malditas e a memória de Rowan vingada, agora Tulipa e Tonks se vêem na corda bamba entre encarar novas jornadas ou desfrutar de cada momento que ainda lhes restam junta...