Tonks
Gabriela falou sério àquela tarde, agora com sua reforma pessoal, toda Hogwarts parecia diferente. Ela estava em constante prestação aos alunos mais novos, direcionava o caminho, afastava os valentões, encontrava livros na biblioteca, conversava com aqueles mais solitários; tudo que uma headgirl deveria fazer. Também era constante vê-la conversando com Mérula sem nenhuma tensão ou qualquer tipo de discussão ao redor delas, estavam sendo pacíficas, algo que eu nunca achei que veria Mérula fazer. E também via Penny e Gabriela juntas como nunca antes, sejam de mãos dadas, sejam abraçadas animadamente enquanto conversavam ou aos beijos, estavam, enfim, namorando de fato. O restante de nossos amigos pareciam pensar sobre o ocorrido em seus minutos de desocupação, mas não havia nada tão mudado entre nós. Entretanto, estou eu aqui, na ponte vazia, olhando todo o verde e azul ao nosso redor. Eu pensei em fazer isto em nosso habitual local, a Torre de astronomia, mas não queria parecer tão óbvia. Esperava Tulipa chegar enquanto eu mesma me questionava muitas coisas, segurando nas mãos o pedaço de pergaminho e o colar de bomba de bosta que eu nunca devolvi.- Oi, docinho. Comprei alguns soluços doces pra gente, o seus favoritos. - falou animadamente, mas eu não a respondi, fazendo com que falasse em um tom sério e preocupado desta vez - Ninfadora? Está tudo bem?
Tornei a olhar para frente, para as terras de Hogwarts, girando a pequena bomba de bosta nos dedos.
- Eu tenho pensado bastante. - digo - Em como podemos andar por esta escola de mãos dadas ou finalmente nos beijar onde bem quisermos.
- Isso é ruim? - perguntou de maneira cuidadosa, a voz um pouco distante - Não era o que queríamos?
- Isso não anula o que aconteceu aquele dia.
- Ah, Tonks! - Ela se aproximou desta vez, um pouco mais aliviada por saber do que se tratava - Ainda isto. Eu estou bem!
- Mas poderia não estar. E... eu não sei se você se deu conta ou se sentiu falta, mas eu ainda não consegui te devolver.
Virei-me para ela finalmente e mostrei o que tinha nas mãos, encarando os objetos como se isto fosse o último resquício que tivesse de Tulipa, agarrei-me tanto à estes objetos quanto pedi que ela se agarrasse à própria vida. Eu nunca estive tão desesperada e perdida, e este pergaminho e esta bomba de bosta eram tudo o que eu tinha pra me manter firme, foi o que me levou até Tulipa naquele dia.
Mal pude ver suas mãos até que senti seu toque suave nas minhas, fechando meus dedos sobre o pergaminho e sobre o colar.
- Eu sei que você carrega essas coisas com você. - Revelou, a leveza em sua voz e em seu rosto mostrava como ela não se importava em não tê-los consigo - E se você precisa tanto disto, fique, mas não esqueça de olhar pra mim, - levantou um pouco o meu queixo - porquê eu estou bem aqui. Você não precisa destas coisas pra me manter viva.
Respirei fundo, sabendo que não queria ter essa conversa agora e nem dizer estas palavras pra ela, porque não é a minha vontade, mas é necessário.
- Eu entendi o que você quis dizer lá na enfermaria, sobre eu pensar sobre o que eu falei pra você. Sobre ficarmos juntas no final das contas. - permaneci encarando minhas próprias mãos e o que significa cada um destes objetos - E eu não posso fazer você ficar todo santo dia com medo de alguém do Ministério chegar e te comunicar que tudo o que restou de mim foi um mero colar ou um pedaço de pergaminho. Eu não posso fazer isso.
Finalmente tive forças de encara-la, estava com aquele olhar compreensivo e doloroso no rosto. Eu gosto dela demais pra deixar que sofresse uma perda à este nível, deixar que ela fique exatamente da mesma maneira que eu fiquei daquele dia até o dia de hoje. Esta decisão foi feita com a minha cabeça anos atrás, mas agora é o meu coração quem está tomando esta mesma decisão. Eu não posso dar a ela aquele sentimento, aquela dor, aquele medo. Porque além de tão ferida, precisei olhar pra ela naquela cama, completamente imóvel e pálida, quase sem vida. Ela não falou nada, não me repreendeu e nem falou que havia me alertado sobre isso, mas caminhou lentamente até mim e me abraçou apertado, os braços em meu pescoço me puxando para si enquanto eu a abraçava tão firme quanto tive que permanecer.
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Without Fear
Romansa#[Parte 2] da fanfic I Will not Forget. Com o final da jornada contra as Criptas Malditas e a memória de Rowan vingada, agora Tulipa e Tonks se vêem na corda bamba entre encarar novas jornadas ou desfrutar de cada momento que ainda lhes restam junta...