0 - Prólogo

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A mesma rotina tóxica se repetia sempre que surgia uma nova oportunidade.

Fugaku, enchido de orgulho e prepotência, inflava o peito ao falar de Itachi, e sua genialidade sem medidas. O filho perfeito, o primogênito que tanto o fazia se sentir admirado, e exibi-lo para o mundo como o melhor de todos. O escolhido para comandar todos os negócios da família Uchiha quando mais velho, destinado a mandar em tudo, como o pai o fazia. Era assim que Fugaku lhe via.

Ao passo que, do outro lado daquele tabuleiro de jogadas incertas, estava Sasuke. O segundo filho, que nascera prematuro e era fraco aos olhos do pai, incapaz de chegar aos pés do irmão mais velho, que fora criado num pedestal e admirado por todos. Certamente não era o Uchiha que enchia Fugaku de orgulho, e ele novamente, inflamado de orgulho e ego, fazia questão de diferenciar os dois. Sasuke não era nada perto de Itachi.

E cresceu ouvindo comparações esdrúxulas sobre si e o irmão perfeito, e que jamais seria alguma coisa perto dele. Em reuniões de família, ou dos negócios de Fugaku, e principalmente durante as refeições, quando estavam todos reunidos, diante de todos os Uchiha. Em cada oportunidade, uma ofensa.

Quando pequeno, o Uchiha mais novo se entristecia com isso, porque não entendia aquela absurda necessidade de o pai dizer tais coisas, sem saber qual era seu problema. Mikoto repreendia o marido, mas de nada adiantava, eventualmente Sasuke ouviria algo inadequado e violento.

E então ele cresceu, e entendeu melhor cada palavra difícil, sem nunca retrucar, ou tentar mostrar que não era daquela maneira. Via nos olhos do pai que de nada adiantaria tentar confrontar Fugaku, seria uma batalha perdida, de um modo que nenhum esforço se mostrava suficiente. E como consequência daquela criação segregacionista, o amargor surgiu.

E ficou guardado nas entranhas dele, sem nunca revidar. Acumulou-se e virou algo que era difícil nomear, pois faltavam as palavras corretas, mas certamente beirando o ódio. Ele seguia as regras, e somente isso, evitando a todo custo chamar qualquer atenção do pai. Sem dizer qualquer coisa que ninguém queria ouvir, agindo como uma sombra e tentando buscar um significado para a própria existência.

Mas para a infelicidade de quem estava calado, o ódio de Sasuke não se dignou ao pai. Ele tinha aprendido a ignorar Fugaku e não sentia nada além de neutralidade pelo mesmo, apesar da repulsa, que era mútua. Aprendera a lhe tratar da mesma maneira a qual ele o fazia, e então uma guerra fria se instalou.

O ponto é que o ódio intenso se voltou para Itachi.

Sasuke odiava o irmão mais velho com toda a intensidade da palavra, quase como se a boca se enchesse de amargor ao falar. E se afastou duas vezes mais dele do que mesmo de Fugaku e do restante da família, para nunca mais lhe dizer qualquer coisa. Havia uma repulsa tão grande em seus olhos quando se tratava de Itachi, que talvez não houvesse palavras suficientes para explicar o sentimento.

O mais velho se aproximava, e Sasuke apenas saía. Não lhe dava qualquer vírgula de atenção, e tentou esquecer de que tinha um irmão, não o considerava de tal maneira. Mesmo morando debaixo do mesmo teto, já não fazia mais sentido estar perto de nenhum deles. O que começou com as palavras odiosas refletiu no isolamento.

Sasuke somente não se perdeu em sua dor, porque enquanto não se via mais parte da família, foi amparado por Madara, o tio, que logo percebeu que o que acontecia e se colocou a seu lado, não gostando daquela frescura toda por parte de Fugaku – na realidade ele tinha palavras mais obscenas para o que o irmão fazia, mas todo seu cuidado se voltou para Sasuke -. Ouviu como o sobrinho se sentia, e lhe ofereceu ajuda quando mais precisava.

Estava deixando o Japão naquela época para cuidar dos próprios negócios, e então Sasuke pediu para ir junto, sem qualquer vírgula de hesitação. Mikoto negou no mesmo momento, mas Fugaku, sendo o pai, e inserido numa sociedade patriarcal, assinou os termos necessários para que ele pudesse ir sem que Madara fosse acusado de sequestro.

Itachi sentiu aquele dia como o mais difícil de sua vida, e viu o irmão indo embora sem nada dizer, sem sequer ter sua atenção. Mikoto se debulhou em lágrimas, indignada. Mas Sasuke não virou para se despedir, não fazia mais qualquer sentido em sua mente, porque ele estava imerso na própria dor. E aqueles que o amavam, sofreram.


Ele já não mais reconhecia o amor. Odiava Itachi com cada célula que o compunha.

Porque infelizmente Fugaku conseguira atingir seu maior objetivo. Separou os irmãos que, por breve instante na primeira infância, foram unidos. Agora Itachi cresceria de acordo com suas escolhas, e Sasuke, já não sendo um problema de sua responsabilidade, fora embora com Madara para os Estados Unidos, adotado pelo tio.

E se dependesse do Uchiha mais novo, nunca mais veria aqueles deixados no Japão.

Separate waysOnde histórias criam vida. Descubra agora