Separate ways

27 - O abraço mais acolhedor

O dinheiro podia mesmo comprar quase tudo, de verdade. E isso estava justificado no fato de Itachi ficar bem acomodado na classe executiva, sendo servido de mais coisas que poderia pensar por estar em uma viagem de emergência, tendo consigo apenas a roupa do corpo e os documentos guardados nos bolsos do terno, parecendo quase desgrenhado ao lado das pessoas que compartilhavam aquela parte do avião. Volta e meia alguém aparecia querendo saber se estava bem, e entregando o cardápio bem avantajado para uma viagem de quatorze horas.

No entanto, o mais importante o dinheiro não era capaz de comprar, que era exatamente a diferença de distância entre ele e Sasuke, e o encurtamento da viagem. Precisaria de um jato muito potente para conseguir vencer quatorze horas em alguns minutos, e não dispunha daquilo no momento. No entanto, não era nenhuma surpresa que Itachi usaria todo o dinheiro que – não – tinha para fazer o que precisasse para encontrar o irmão.

Além disso, como não havia carregador, precisava cuidar para que seu celular não descarregasse - apesar de que alguém naquele avião poderia conseguir um para ele em caso de necessidade -, e como não conseguia ligar para Sasuke, o máximo que dava era para enviar mensagens, perguntando se ele estava bem, sem ter respostas, no entanto.

E como se não bastasse tudo isso, já deveria ser bem tarde no Japão, então seria ideal que Sasuke estivesse descansando para poder encontrar com Madara no dia seguinte, mas Itachi não acreditava em tal possibilidade, porque as palavras e o pranto do irmão foram muito esclarecedores sobre o desespero que o tomava naquele momento, e como nada parecia capaz de fazê-lo cogitar deixar o hospital.

Sasuke sofria enquanto Itachi era mimado pelos comissários de bordo. Que inferno.

Ele só queria - queria não, necessitava - chegar aos Estados Unidos de uma vez, e descobrir onde Sasuke estava - porque sim, tinha se esquecido de perguntar isso para ele -, e estar consigo naquela situação tão difícil, sem que o visse passar sozinho mais uma vez por algo tão dolorido. E que, conforme a adrenalina do momento ia amenizando, assombrava um pouco mais a Itachi.

Ele sempre tivera muita consideração por Madara, desde novo o tio nunca fizera distinções entre os dois, e Itachi aprendeu muito consigo, e seu jeito mais tranquilo de ver a vida como um todo. Madara era talvez o mais orgulhoso de todos os Uchiha – e fazia questão de manter o posto -, mas ele não tinha uma visão de mundo injusta e mesquinha contra as diferenças, e se você soubesse lidar com a franqueza escancarada do homem, conviveria tranquilamente com ele.

Não somente por tudo isso, era seu tio. E a ideia de perdê-lo poderia lhe assombrar com muita facilidade, e estava sim inflamada pela perda de Mikoto. Enquanto, durante todos aqueles anos, Itachi desejou ter sua família de volta, ou ao menos um pouco mais próxima, agora ele estava perdendo a todos.

E por um segundo, foi tomado pela ideia aterradora de que, numa situação completamente desastrosa, também perdesse Sasuke caso Madara de fato morresse.

Itachi poderia desaparecer em um sopro de instante com aquele pensamento. Ele precisou fechar os olhos e respirar muito profundamente para não desencadear um acesso de pânico com tudo aquilo e acabar ele mesmo morrendo ali dentro do avião, perseguido pela dor de imaginar o irmão se perdendo.

Itachi sempre soube da quase - porém ainda inexistente - história de amor entre Mikoto e Madara no passado, porque Fugaku um dia lhe confiou aquilo, e quando Sasuke foi embora com ele, o mais velho não pode deixar de se perguntar sobre como a vida seria se a situação tivesse sido outra, e Madara não tivesse aberto mão de seus sentimentos.

Ao que Itachi agora sabia, o tio tinha superado tudo e era muito feliz com Kaoru, mas os momentos de tristeza do primogênito de Fugaku o fizeram caminhar por várias estradas difíceis e solitárias, com apenas a esperança de que seu irmão teria ficado bem, e então não haveria problemas maiores, ou a sensação desesperadora de que talvez ele voltasse a tentar se matar. E nessa caminhada, muito passou por sua mente, de um modo que ele ainda se perguntava sobre como não tinha ficado louco.