19 - A letargia da perda

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Uma chuva repentina caiu sobre Tóquio no instante em que Mikoto morreu.

Sem perceber, Itachi e Sasuke tomaram atitudes gêmeas, levando os braços ao rosto enquanto a chuva abafava seu choro dolorido, mas não era capaz de esconder os soluços agoniados que sacolejavam seus corpos. Eles foram tomados por uma sensação tão agonizante quando perceberam que sua mãe não estava mais ali, que pareceu que nada no mundo seria capaz de apaziguar tamanha desolação que os envolveu.

Não sentir mais a mão de Mikoto deixando alguma pressão ali fez com que uma sensação de solidão os abraçasse com tanta intensidade, que Sasuke soltou os dedos da mãe e buscou em desespero o pulso de Itachi, que reagiu de imediato ao contato desesperado. Eles se encararam quando suas mãos se uniram, e compartilharam sua dor naquela troca de olhar.

- Eu não aguento mais perder as pessoas que amo. – O mais novo não gostava de demonstrar suas fraquezas, mas aquele ponto era maior do que poderia lidar sozinho, se ele fingisse que nada acontecia, seria capaz de morrer ao lado de Mikoto.

Itachi então se levantou e eles se abraçaram, deixando que suas dores exteriorizassem, e seu abraço fosse apertado o suficiente para que ambos soubessem que o outro estava ali, e não iria sumir em um piscar de olhos. Nenhum deles seria capaz de lidar com outra perda ali naquele exato momento.


Estavam tão quebrados, que só desejavam um pouco de paz.

Não houve qualquer atrito por conta do passado, nada que os fizesse separar pelos ocorridos de doze anos. Eles apenas se abraçaram, e estavam sentindo ao outro enquanto mais nada era importante. Precisavam de um ponto de paz antes que pudessem realmente ficar loucos, e a presença alheia teve esse efeito em um momento tão difícil como aquele.

Itachi tinha vivido ao lado da mãe desde o começo da descoberta da doença, então passou por toda a fase de negação, até conseguir aceitar que Mikoto, infelizmente não tinha chance de sobrevivência. E cada dia desde o terrível fato mexeu consideravelmente com sua mente, e sem nenhuma surpresa, não o preparou de maneira alguma para aquele momento.

Sasuke tomou a dianteira para se afastar, e se voltou para a mãe antes de sentir que tinha firmeza para isso. Apenas precisava agir de acordo com seu conhecimento como médico, e não queria deixar que o corpo dela continuasse molhado, então puxou a proteção para dentro do deck molhado, lhe poupando da chuva, que tinha se tornado mais forte. Suas mãos tremulavam quando ele a tocou novamente.

- Sasu. - Itachi tocou em seu ombro. - Vem, vamos lá para dentro. O tio vai ajudar.

Eles não queriam deixar Mikoto ali, sentiam-se traidores com sua memória. Mas enquanto dilacerados pela dor de perdê-la, entenderam que era óbvio que permanecer ali não mudaria nada, e continuariam sofrendo, precisavam fazer alguma coisa. Não que fosse mais fácil, mas o atordoamento era imenso para raciocinar, ou tentar acusar algum tipo de culpa. Eles apenas a preservaram da chuva, e rumaram para dentro de casa.

Madara, que já tinha dito - ou melhor, discutido - sobre o passado com Fugaku, o deixou de lado e seguiu pelo mesmo corredor onde os irmãos apareceram, quando ouviu a chuva repentina. Então não precisou mais do que uma olhada simples antes de ir até eles e os abraçá-los, desencadeando sua dor.

Ele respirou fundo para conter suas próprias emoções naquele momento, e quando Fugaku, ali da sala, ouviu o choro dos filhos, soube que eles tinham perdido Mikoto, e até mesmo os céus choravam sua partida. Algo inominável o tomou, e ele deixou o lugar para seu escritório, se trancando em sua dor.

E a chuva não parou de cair mais naquela noite.

...

As enfermeiras e o médico contratado por Fugaku prestaram as primeiras assistências após o falecimento de Mikoto, e toda a burocracia foi assumida pelo patriarca, que deixou o escritório cerca de meia hora depois, sem agir além do que o necessário para cumprir com o protocolo de um parente que falecia em casa. Os olhos marejados demonstravam sua situação, mas ele não falou qualquer coisa sobre seus sentimentos, apenas agiu como deveria.

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