1 - Conversar é a melhor solução

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Doze anos depois

Era um inferno precisar seguir certas regras apenas para não parecer um desgraçado na frente de outras pessoas, que o julgariam da mesma maneira. Sabe quando você precisa dizer coisas difíceis, então se espera que seja num ambiente requintado apenas para não aumentar o tamanho do mau caratismo? Então, era exatamente isso.

Itachi bufou irritado antes de deixar o carro. Um dos inúmeros rapazes que trabalhava no estacionamento manobrou com cuidado a Mercedes Classe E preto, tendo a certeza de que qualquer micro arranhão custaria umas dez vezes seu salário para consertar, principalmente porque era o modelo do ano. Clássico e reluzente, mostrando o poder de quem o possuía. Itachi, por outro lado, só queria se livrar do terno Armani e se esquecer de sua própria existência.

Ele estava em Roppongi Hills, um grande complexo de prédios e área de lazer localizado na parte central de Tóquio, bem no coração da capital, que foi inflado economicamente por ter sido bem planejado por algum arquiteto famoso do país oriental. Tudo que se buscava era capaz de encontrar ali, desde que você tivesse dinheiro suficiente para pagar, o que não era um problema para o Uchiha.

Ele estava diante da entrada de um restaurante francês com algumas estrelas Michelin, e foi atendido pelo maître, um senhor de meia idade com óculos um tanto arredondado e bastante simpático, que o guiou para dentro do local. Era verão, e apesar da noite, Tóquio parecia como uma grande panela de pressão, não tinha brisa suficiente para aliviar o calor das pessoas.

Ou talvez fosse Itachi que estivesse sufocando em seus próprios problemas e ainda não tivesse se dado conta disso. Ou talvez sim, mas não disponibilizasse de tempo para se enforcar naquele que engasgava sua garganta e terminar de vez com todo aquele teatro.

Ele nem fez questão de decorar o nome do lugar, só o anotou certo para conseguir enviar o endereço pelo celular e esperar, mas se alguém perguntasse no dia seguinte era bem capaz de ele não conseguir se lembrar de onde estava dada a mínima importância que dedicou para isso.

O teor do assunto a ser tratado era muito mais importante, e ele não queria focar em nada que não fosse naquilo. Foi atendido por um garçom bem trajado, vestido a rigor e com um bonito avental em preto que guardava o nome do restaurante em vermelho, na parte de cima do traje. Era dono de um polido japonês, apesar dos cabelos loiros e os olhos azuis, com um toque sutil do sotaque francês. Ele disse alguma coisa sobre o pacote reservado pelo Uchiha para duas pessoas incluir entrada, prato principal e sobremesa, mas até então Itachi não pediu qualquer coisa, deixando o menu ali mesmo no centro da mesa quadrada. Pelo menos era mais afastada dos outros locais, garantindo um pouco de privacidade. Do lado direito dele era possível ver a rua pelo vidro escurecido do restaurante.

O ar-condicionado ajudou a amenizar a sensação de sufocamento, mas ele sabia que parte daquilo era por conta de tudo que estava prestes a acontecer, e não pela gravata cara que o envolvia no pescoço há pelo menos doze horas. Estava vivendo um inferno nas últimas semanas.

Tudo porque deixou que o pai se metesse demais em sua vida, e isso resultou em consequências que só estavam desgastando ele há quase um ano. Era maior do que conseguia lidar, porque de fato era isso mesmo, um imenso problema pesando em sua consciência tanto quanto o mundo sobre os ombros de Atlas, quando castigado por Zeus.

Só que Itachi não era um gigante castigado por Deus, mas sim um humano exausto aos vinte e oito anos. E que se não bastasse toda a pressão sobre os ombros, ainda precisava lidar com as merdas que o pai fazia, se metendo em sua vida daquele jeito atrevido e o colocando em situações cansativas que, no final, ele precisava resolver sozinho.

Ele tinha permitido por muito tempo que isso acontecesse, mas quando atingiu níveis catastróficos, e o Uchiha sentiu, teve a certeza de que era a hora de parar. Uma luz estroboscópica apitou em sua mente causando uma enxaqueca permanente e ele soube que se não freasse tudo que vinha acontecendo, acabaria se colocando numa situação muito pior dali três meses.

Separate waysOnde histórias criam vida. Descubra agora