CAPÍTULO TRINTA E SETE

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Briana Chong.

Afundei a carne vermelha nos três dentes do garfo sentindo como era perfurar com calma. Peguei a faca e cortei um pedaço, o colocando no boca, a conversa estava na mesa e como sempre Polo não parava de falar mesmo com os pedidos de Thai para calar a boca, Dylan não contou o que tínhamos feito ao sair da mansão, chegamos logo após da Dona Lucia colocar as comidas na mesa, e pelo jeito que eles estavam normais, nem o Don ou Gabriel abriram a boca para se pronunciarem.

A tortura na fábrica abandonada deveria ser um secreto entre eles a anos, e eu fui a única que Dylan confiou entre todos da mesa... O motivo pelo qual sei que Dylan não contou para Thai, foram pelo mesmo motivo que ele fica a noite toda na área de treinamento, Polo era como o irmão caçula deles e com isso a proteção entre eles eram forte e Lana, era a Lana, Dylan não a colocaria nessa linha, não até saber do que ela é capaz.

Entretanto, ele me convidou, ele soube do que fiz e do que sou capaz de fazer. Não tirei todas as perguntas que queria fazer para ele antes de chegarmos aqui, minha cabeça estava calma e a adrenalina estava tomando todo o meu corpo, é difícil pensar que fiquei assim o tempo todo, as porras dos vinte anos com esse sentimento de querer explodir mas não poder, na casa do Chong.

Apesar de não gostar de admitir, eu tinha manias ainda de guardar minha preocupação, estresse, desespero comigo. Mesmo sabendo que isso poderia me causar mal de certa forma, mas eu tinha vivido assim por anos, confiar em alguém nessa mansão foi um esforço além da minha zona de conforto.


Mass eu consegui, Dylan me fez acreditar que eu podia contar tudo para ele e eu contei, ele é o único que sabe de tudo sobre mim, sou uma carta aberta em suas mãos. Não consigo evitar esconder algo dele... mas a forma como o senhor Dias falou sobre como o senhor Silva queria vingança pela morte do seu herdeiro me pegou de surpresa, ele não queria apenas a vingança, mas também as drogas.

O que me preocupava era sua espera de agir contra mim. Ele poderia chegar e falar sobre as drogas, Fauno poderia ter me entregado no ataque e falado para ele entregar as drogas, mas não fez. E isso me assustava pra caralho. O toque quente e calculado me fez olhar para a mesma direção que Dylan estava, seu prato esta sujo com os restos das comidas que Dona Lucia fez, como o meu estava, seu toque foi preocupado pela forma de como me tocou, ele estava prestando atenção em cada mini descuido que eu desse.

- Tome querida - Dona Lucia me entregou um copo da água e um comprimido do dia seguinte.

Não era o dever dela cuidar disso para mim, eu tinha minha cabeça em ordem com isso, no entanto, eu que pedi para ela buscar para mim assim que cheguei na cozinha, meus remédios ficavam na cozinha como os todos. Tomava todos os dias, sem falta. Ter algo gerando dentro de mim... saber que eu teria que proteger ele disso tudo e com tudo isso acontecendo e o que poderia acontecer me deixava pensativa.

- Não quer ter crianças para cuidar, Lucinha ? - Polo diz, com seu sorriso amplo nos lábios que a faz rir indo para trás dos meus ombros e os apertando confortável - Eu gostaria de ter sobrinhos.

- Seria um prazer cuidar das crianças que podem vir - ela lança um olhar para Dylan, que no mesmo instante a lançou um olhar de sem graça - Desse dois, seriam tão fofos.

Coloco o remédio na boca e tomo a água com rapidez, meu coração estava ficando acelerado e minha cabeça já estava a mil. Dylan, me encara com um sorriso de lado que faz meu humor melhor um pouco, segurei sua mão para que ele nós salvasse dessa conversa que ficaria em minha cabeça por dias, ele acaricia minha mão que apertou a sua para me salva dos olhares que começa a surgir em meu pescoço.

- Nós tomamos cuidados, Dona - ele diz bebendo do suco de manga, seus olhos percorrem pela mesa desviando dos meus que encaram o copo de suco a minha frente - Além disso não somos os únicos que podem ter filhos na mansão.

- Por que diabos me olhou ? - Lana diz, sua voz sai com raiva.

Polo, e Thai se entreolham com diversão, Polo deixa um sorriso transparecem em seus lábios fazendo Lana beber do vinho escuro em sua taça. Dona Lucia deixa um beijinho no topo de minha cabeça e sai para a lavanderia, Don e Lucia almoçavam cedo, mas já que tínhamos chegado um pouco tarde, Don preferiu comer em sua casa com a esposa e as filhas, Gabriel estava na ponta da mesa e sua atenção circula por todos nos.

- Sonhar nunca fez mal, né Lucinha?- Polo inferniza ainda mais a ideia na cabeça da Lu que diz em alto e bom som " Sim, querido " - Pensou eles correndo por...

- Cala a porra da boca - digo, com a raiva querendo tomar o controle da minha calmaria, e me conhecendo como me conheço sei que não deveria falar mais nada.

Lana, toma o restante do vinho olhando para mim, e como sempre, devolvi o olhar de algo que não sabia como desfazer. Sorrindo igual uma capeta por se divertir comigo, se levanta levando o prato e a taça para a pia.

- Você - sinto as mãos delicadas apertando com força meus ombros - Vem comigo - Lana me levanta me guiando pelas costas para fora da mesa.

- E onde vamos? - pergunto confusa, minha mão ainda estava com a do Dylan.

- A inauguração do Museu é as dezesseis horas, agora são quatorze e quarenta e cinco - ela olha para minha mão apertando a de Dylan - Não estamos atrasadas mas temos que começar a se arrumar. Acredite quando falo que essas pessoas são o juiz do perfeito - Ela sussurra em meu ouvido.

Solto a mão de Dylan indo com Lana para fora da cozinha, não estava com cabeça para maquiagem, vestido, opiniões, conversas sobre qualquer outra coisa a não ser : de como enfrentar Fauno, San Chong, Yom Chong e... meu sangue congela.

Tommy.

Como eu iria passar as três horas no máximo ali, na frente dele, vendo ele, e sem poder toca-lo. Começamos a subir as escadas, e meus pés se atrapalharam um pouco nos primeiros por estar com a mente em outro assunto, Lana me guiou para seu quarto que ficava do outro lado da mansão, longe do meu quarto e do seu meio irmão. Nessa parte da mansão eu não passava muito, era mais os quartos dos meninos, Polo e Thai. Os dois conseguiram um espaço sobre o teto de Romero e por incrível que pareça não foi tão difícil.

O quarto de Polo e Thai eram no mesmo lado, o quarto de Lana era o mais longe, no final do corretor. Porta dupla e branca, quando ela girou a maçaneta e me deixou entrar pude ver um quarto arrumado e um tanto reina do castelo, e ela era. Sua cama ficava ao lado contrário do banheiro, seu closet estava aberto deixando a mostra o vestido vinho passado no cabide, pendurado perto do meu, o rosinha claro estava com brilho assim como o vinho, era pouco.

- Mandei colocarem um pouco de brilho - ela diz, pegando uma caixa pequena no banheiro - Pensei que iria combinar com nossos olhos.

Passei a mão no tecido de sedã dos vestidos sentindo o brilho na ponta dos meus dedos, a cor de nossas íris eram iguais, negros como uma noite sem estrelas e isso dava o poder em uma mulher, Romero tinha esses olhos - como Dona Lu diz : olhos de coisa ruim. E concordo com ela, Romero não era flor que se cheire e Lana e eu também não seríamos, Dylan nunca foi mas sempre tenta sem melhor com qualquer pessoa da mansão ou que precise de ajuda.

- Gostei - digo, me aproximando da cama aonde Lana estava com as pernas cruzadas e em sua frente a caixa pequena com esmaltes e produtos de maquiagem - Pensei que fazia essas coisas em algum lugar.

- Dinheiro não falta - ela diz, pegando minha mão - Ter um tempo sozinha para me cuidar é algo que não recuso - Ela passa o algodão no álcool e começa a tirar a base das minhas unhas.

- Faz isso com frequência? - pergunto, deixando ela tirar a base da outra mão.

Se abrir era uma capacidade que Lana não se permitia fazer, e isso podia ser um ato de se proteger de algo. Não posso falar muito, Lana sabe apenas o que eu queria que ela soubesse, igual aos meninos, Polo e Thai. As vezes contar algo pode te custar sua alma e até sua saúde mental, e era isso que estava tentando não fazer.

- Geralmente, vou na área de treinamento ou no campo de tiro - ela fala - Atirar sempre ajuda com pensamentos e a luta com a raiva - ela me olhou por segundos - As vezes vejo Thai lá. Terminamos juntos no dia que você e Dylan ficaram fora de si no jantar.

- Ele parecia... - quero perguntar, mas sei que não é isso que ela quer respondem, Lana jogou algo pessoal dela para dar oportunidade para a verdadeira pergunta - Ele mandou atacar Dylan e Thai. Ele ameaçou minha família. Deixou claro que Chong me quer e não o do porquê, e isso me deixou fora de mim. - respiro um ar calmo com cheiro de rosa.

Analisando Lana de perto é raro, seus olhos tinham uma intensidade fora do comum, ela tinha algumas sardinhas pelo nariz, mas poucas e claras. Sua atenção estava em mim e retribui.

- Eu fiz aquilo e não dá pra voltar atrás - digo - Mesmo que eu queira, por mais que eu queira, Lana. Não dá - ela tinha sentido medo, ela estava com medo. O que acontecia era que ela sabia esconder melhor que muito gente - Não vou me desculpar por algo que eu fiz e não me arrependo, quero pedir perdão por fazer você ficar com medo.

- Não precisa - ela me interrompe, inspirando e expirando baixo seus olhos ficam marejados - Briana, eu não posso perder ele, não posso perder o meu irmão. Esse medo não é por mim. - ela deixa as costas rígidas e ergue o queixo deixando as lágrimas presas - É por ele.

Um peso sobre caiu em minhas costas, meus pulmões puxavam o ar pesado fazendo eles trabalharem mais devagar. Dylan nunca pensava nele, ou de como... se isso viesse a acontecer, ele não se importava com ele, apenas com as pessoas a sua volta, e isso era um risco.

- Quando você saiu sem proteção - ela umedece os lábios e as lágrimas já não estão mais ali - Não adiantou eu gritar para ele não ir, para ele parar e pensar que você não era tão louca de voltar para aquele lugar - ela da uma risada nasal - O medo dele de perder você foi surreal, Briana. Ele faria de tudo por você.

Ele faria de tudo por você.

Essas palavras ecoaram por minha cabeça, e ficaram ali. Presas. Não teria limites que ele não passaria por mim, e isso estava claro em cada palavra que Lana, Thai, Polo, Dona Lucia... todos diziam isso e eu achava bobo, ninguém teria a coragem de passar pela morte... mas ele passou. E não uma, duas vezes, mas varias.

Dylan enfrentou aqueles caras no restaurante, enfrentou Eliot, na casa da praia no dia da invasão... e ele estava pronto para invadir a casa do Chong sozinho por mim. E isso me deixava com um peso no coração, porque o ataque quase tirou a vida dele e eu não tinha língua para falar isso, não para Lana.

Santinha do céu, que nada aconteça nessa inauguração.

Russa Perigosa ao Extremo. Onde histórias criam vida. Descubra agora