VIII. A verdade absoluta

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#ÉPascal

Meus olhos vagam pela bancada da cozinha, avistando uma bagunça tremenda em cima dela. Mais a frente, Pascal deita-se na posição em que deixa a sua barriga para cima, descansando. Poderia ser um descanso, claro. Mas a julgar pela respiração ofegante e o buchinho um pouco maior do que o normal, é possível constatar que foi feita uma merda grande. O maior culpado disso tudo se chama Pascal. Embora o socorrer seja a reação crucial a ser tomada, encolher os meus braços e o fuzilar é o melhor que posso fazer. E, ao perceber que não está sozinho, o meu familiar solta um suspiro fraquinho, pondo as duas mãos acima dos ombros, cruzando os braços.

Ele acredita que irá me convencer com essa peça falsa de estar morrendo. Meus pensamentos o condenam, mas logo são refutados como um juiz sedento por justiça.

O pacote de cereais está completamente vazio.

Pascal não pode comer doces.

Eu nem sei por quê ele comeu tudo isso se sabe que tem uma espécie de alergia à comida de mortais.

Faz tempo desde que o ajudei, no entanto, não era uma ocorrência parecida com essa. Era bem mais fácil de se resolver.

Sendo domado pelo meu instinto natural de bruxo, aproximo-me do camaleão, passando o indicador na parte central do estômago dele. Posso sentir solavancos, aparentando que há um monstrinho dentro de Pascal.

Se ele fosse humano, isso seria considerado uma intoxicação alimentar, mas ele é um camaleão. Sendo assim, não há saídas possíveis para que eu o ajude.

Ele sabe que não pode comer açúcar, então não tem uma explicação plausível.

Tem algo errado. Em tudo.

Como um detetive cedendo por um desfecho, engulo a minha saliva, que assemelha rasgar a minha garganta assim que Pascal restringe seu oxigênio, respirando vagarosamente. Embora eu ainda ache que ele está brincando, meus argumentos caem por terra quando vejo a embalagem dos cereais.

Não parei para perceber; não é uma caixa de cereais, mas sim uma de comida de camaleão. Própria para a espécie de Pascal.

Formulo várias hipóteses ao ponto de ter uma síncope, e nada explica a recaída repentina do meu bichinho.

Não estou só na cozinha. Adalynn acaba sentando no banco da bancada, pondo a mão na boca. Ela se choca, assim como eu, ao ver que Pascal aparenta dar um último suspiro antes de parar de respirar.

E é aí que eu me desespero.

— Quem foi que deu essa comida para ele? — Direciono-me à minha irmã, que tem os olhos úmidos, prestes a se debulhar em lágrimas.

— Eu não quis que isso acontecesse, Min — ao me chamar pelo apelido, uma lágrima fujona escorre no rosto da menina. Ela continua: — Pensei que o vizinho estava nos doando a comida e dei para o nenenguinho verde comer.

Franzo o cenho.

O vizinho?

— Como assim, o vizinho, Lynn?

Ela passa a mão no nariz, limpando o catarro que escorre. Isso é nojento demais.

Mas não é o momento propício para repreendê-la. Não quando eu estou perto de descobrir a verdade.

— O irmão do Lobo-mau quem deu. Eu pensei que o Pascal podia comer — ela soluça, atordoada. — Eu juro que pensei que ele podia comer. Juro juradinho!

O pavor toma conta dela e eu sou obrigado a abraçar a criança, tentando manter a calma.

Acontece que não tem nada calmo. Nada normal.

Nova Salém | pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora