Capítulo 14

2.6K 188 0
                                    

Felipe Bellini

Saio do quarto apagando as luzes. Eduardo está parado em frente à porta enquanto meu pai conversa com ele.

M: Ela está confusa. Entenda o lado dela também.

F: Meu pai está certo Eduardo. - falo e eles me olham. - Heloísa, durante muito tempo, só teve contato com pessoas que a faziam mal. É comum a reação dela.

E: O que ela quiser dizer com "você vai fazer o mesmo?" - pergunta e eu suspiro.

F: Heloísa foi abusada fisicamente e sexualmente. - suas mãos se fecham como se quisesse socar alguém. - Provavelmente o que você disse acionou algum gatilho dela.

E: Ela precisa me escutar. Ela precisa saber que eu não tive culpa. - fala desesperado.

F: Eduardo, entenda. - coloco a mão em seus ombros. - Heloísa possui doenças mentais causadas por traumas, isso é um fato, e você não vai conseguir colocar tudo isso na cabeça dela de uma hora para outra. Já foi um susto para ela receber uma notícia assim, do nada. - ele suspira. - Precisamos ir com calma se não quisermos causar mais danos a ela. É isso que você quer? - ele nega. - Então você vai ter que entender que será um processo longo e cansativo. Você vai ter que conquistar a confiança das três e isso não vai ser fácil.

M: Ele está certo Eduardo. - meu pai fala. - essa aproximação não vai dar certo se for forçada.

E: Ela não merecia isso. - fala com a mão nos olhos enquanto chora.

F: Realmente, não merecia, mas aconteceu. - ele concorda cabisbaixo. - Vá para casa e descanse. Não vai adiantar você ficar aqui, amanhã se estiver mais calmo, você vem.

E: Mas e se ela precisar... - o interrompo.

F: Vou estar com ela. Fique tranquilo. - ele tira um cartão de dentro do bolso.

E: Por favor, me liga se algo acontecer ou se ela precisar de algo. - pego o cartão e vejo seu número nele. - Virei imediatamente. - concordo.

F: Podem ir com meu carro, não vou precisar dele agora. - entrego as chaves para meu pai que concorda dando um tapinha nas minhas costas.

M: Qualquer coisa é só me ligar. - assinto com a cabeça e me despeço deles entrando no quarto novamente.

Me aproximo da cama e vejo Heloísa dormindo em um sono conturbado. Sento ao seu lado de maneira que sua cabeça fique próxima ao meu tronco, ela solta um suspiro longo porém se acalma quase que na mesma hora.

Irei providenciar sua alta o mais rápido possível, mais do que nunca ela precisa ficar em um ambiente calmo e sem perturbações.
Fecho meus olhos enquanto faço um cafuné em sua cabeça e acabo dormindo ali, com minhas meninas em meus braços.

Heloísa Carter

Me remexo na cama ainda de olhos fechados, sinto meu corpo pesado e cansado.
Logo vem a minha mente o que aconteceu ontem a noite. Eu estou confusa e com medo, não sei o que fazer, só sei que queria acabar com tudo isso.

O Felipe disse que "meu pai" não me faria mal, mas e se fizer? Eu não tenho muita noção do certo e do errado, mas aqui que meu pai que vivia com minha mãe e meu tio faziam, doía muito e eu não gostava. Eles me batiam sem eu ter feito nada e meu tio mexia na minha... hm, eu não sei o nome certo mas Helena diz que é florzinha. Eu não quero mais isso. Eu quero ficar sozinha, eu quero acabar com toda essa dor que tem no meu coração.

F: Está tudo bem? - pergunta baixo me fazendo pular de susto. - Desculpa, não queria te assustar. - me puxa para deitar de novo. - O que está passando nessa cabecinha?

H: Eu estou confusa e com medo. - sinto meus olhos arderem. - Eu estou cansada e só queria que tudo isso acabasse. - me permito chorar. - Eu queria que minha mãe tivesse conseguido me matar, assim eu iria parar de sofrer.

F: Meu bem, eu te entendo. - me abraça. - É tudo muito confuso, complicado mas acabar com tudo não é a solução. - sua mão acaricia meu cabelo. - Você é forte, você é corajosa e uma guerreira. Eu nunca conheci alguém tão forte como você e isso é algo para você se orgulhar, sua força. E outra, como eu ficaria sem minha flor? Minha menina? - meu rosto queima de vergonha. - Heloísa. - ele se levanta e senta na minha frente olhando nos meus olhos. - pode ser difícil de acreditar e de confiar mas eu sou apaixonado por vocês e eu estou aqui por vocês.

Me levanto e o abraço. Choro sentindo meu peito doer. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis? O que eu fiz de tão ruim pra passar por tudo isso?

F: Chora meu amor, põe para fora. - se ajeita na cama e me arruma em seu colo. Minhas pernas estão em volta do seu corpo e abraço seu pescoço. - Eu sei que essa história está confundindo sua mente, eu sei. Mas ele não é um homem mal, eu te prometo isso. Ele foi enganado assim como você.

H: O que ela falou pra ele? - pergunto com a voz rouca.

F: Ela falou para ele que você tinha morrido. - o aperto mais ao escutar essa fala.

H: O que eu fiz pra ela?

F: Não sei vida. - se levanta comigo ainda em seu colo. - Mas ela não sabe a preciosidade que tinha ao lado e não deu valor. - ele fica andando comigo pelo quarto e meus olhos começam a pesar. - Mas não se preocupe, ela não vai mais chegar perto de você, ok?

Apenas concordo fechando meus olhos. Lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto e ainda solto alguns soluços.
Felipe anda comigo pelo quarto me balançando e quanto fala algumas coisas baixinho para mim. Com o tempo o sono vai me vencendo novamente, mas dessa vez, muito mais calmo.

Sou grata por Felipe ter aparecido em minha vida e de alguma forma, me ajudando a seguir em frente.
.
.
.
Oiii 🥰

Minhas Meninas Onde histórias criam vida. Descubra agora