XLII - DILEMAS DO FRUTO PROFANO

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- Estes manuscritos... - Sombra da Morte diz revirando todos aqueles papéis em cima da cama, onde seus recém-descobertos pais provavelmente o conceberam - Falam tudo sobre Bella, mas como um vampiro poderia estar com uma humana, sem desejar drenar-lhe todo o sangue?

Ansioso, ele se move cada vez mais rápido e em poucos segundos a mobília inteira está revirada ao seu redor, por todos os lados da casa enquanto ele folheia, lê e relê os maiores segredos de Drácula, onde estão descritos todos os segredos do feitiço conjurado em um espelho mágico guardado nas profundezas de seu castelo.

Nas palavras do próprio conde sombrio, ele teria feito um pedido ao artefato mágico, que alterou sua aparência para que ele pudesse caminhar entre os humanos para que pudesse descobrir mais formas de atacá-los, destruindo as defesas da cidades para que não pudesse reagir com força aos ataques dos vampiros.

Porém, naquelas mesmas folhas surradas do diário velho e empoeirado nas mãos do fruto profano, o conde descrevera o momento em que assumira o disfarce de um caçador humano que vagava pela floresta rumo à província de Bran, quando... Numa noite de tempestade deparou-se com uma bela e intrépida dama na floresta, pela qual apaixonou-se à primeira vista.

As anotações seguem enquanto Sombra da Morte fica cada vez mais perplexo, ao descobrir tudo sobre as três esposas que ele Drácula traiu para estar com a humana pela qual apaixonou-se perdidamente. Humana esta que, graças ao punhal escondido que ele descobrira ao revirar toda a mobília, descobriu ser filha do lendário caçador de monstros, Van Helsing, que tornara-se um lobisomem ao cair numa emboscada feita por Victor Frankenstein, um cientista insano e cumplice do conde sombrio.

Ainda perplexo, porém dono de uma inteligência superior à humana e com todas as lembranças de seu passado desbloqueadas, Sombra da Morte agora assimila o fato de ser filho dum vampiro lendário com uma humana, dos quais foi tirado por freiras que na verdade eram anjos renegados e disfarçados que o levaram para longe de sua mãe mantendo-o em cárcere por quase duas décadas, apagando e manipulando suas memórias para torná-lo um caçador de vampiros, que lutaria ao lado de sua própria mãe que também teve sua mente manipulada para sequer saber de sua existência.

- Não me importa se são anjos ou demônios. - Ele grita esburacando uma parede do casebre com um murro - Vou caçá-los e matá-los até que não reste um sequer.

Então... É isto o que sou: O fruto profano do amor que certamente seria proibido entre um vampiro e uma jovem humana, mas... O que farei agora?

Ao que me parece possuo poderes, mas... Quais seriam eles?

Se eu fosse atrás destes... - Ele diz lendo sobre a existência de seus meios-irmãos Ceddrik, Margot, Adarkk, Ormanna, Petros e Victoria - Meus possíveis irmãos. Será que eles poderiam dizer-me mais sobre mim?
Aquela vampira de cabelos rubros foi quem desbloqueou todas estas... Memórias.

Oh, Céus... - O jovem atormentado diz caminhando pela casa e sentando-se à porta olha para o céu e questiona:

- Bella... Minha irmã de armas sempre foi... Minha mãe? Isto é muito além de insano.

Como farei com que ela saiba disto? Será que ela algum dia saberá a verdade, caso eu destrua os causadores de tudo isto?

E Adam? Porventura ele sabe, ou sabia de tudo isto? - O jovem diz atordoado por uma verdadeira avalanche de emoções e sentimentos que invadem seus pensamentos.

- Então as memórias de nós três foram manipuladas ou apagadas para que jamais soubéssemos do que nos une? - Sombra da Morte questiona, relembrando o que viu ao ser tocado nas têmporas, pelas mãos de Ormanna.
- Usaram-nos! Adam, Bella e eu como armas. E aqueles... Malditos seres, sequer eram freiras! Jamais foram...
Mas que odor é este? - Sombra da Morte murmura farejando o ar, ao sentir a presença de alguém que acaba de chegar naquele local.
- Vrr... - Algo dentro do jovem híbrido faz rosnar instintivamente, reagindo a uma eventual ameaça, quando seu corpo explode em uma revoada de corvos que voando percorre o interior da casa saindo por uma janela quebrada aos fundos e se deparando com um recém-chegado que o surpreende assim que recompõe sua forma humana:
- Você! - Sombra da Morte grita ao se deparar com ninguém menos que ele: o conde sombrio, senhor da Escuridão e príncipe dos vampiros, Vladislaus Dragulia em pessoa que ainda em sua forma quiróptera e monstruosa aterrissa à beira de um lago iluminado pela luz do luar, transformando-se exatamente no caçador de nome Gabriel, o disfarce que usou para poder conquistar e viver seu amor proibido com Bella Valerius.
- Olá... - Drácula diz ao ver o jovem de olhos alaranjados e brilhantes encará-lo da porta do casebre, poucos metros à sua frente.
- Meu fi... - o conde ainda fala quando uma explosão sonora e ensurdecedora o atordoa no exato momento em que um vulto mais veloz que o som, o acerta no peito com um murro que o faz voar por centenas de metros floresta adentro, arrebentando galhos e troncos de diversas árvores frondosas ao meio.


Enquanto isso, no interior
do Castelo Vladislaus...

- Isto realmente é um anjo... morto? - Maria e João perguntam intrigados enquanto Anul, Adam e os vampiros observam Victor Frankenstein tocar e analisar o corpo da criatura angélica cujo pescoço aparenta estar quebrado.
- Era um renegado. - Ravenna a rainha e bruxa responde se aproximando - Anjos como este ainda possuem alguns de seus poderes celestiais, porém seus corpos deixam de ser imunes às magias que regem o mundo humano... Felizmente dominadas por esta que vos fala.
Ouçam-me vocês, Maria, Ormanna e Victoria. Como Bruxa, Telepata e Necromante, seus conhecimentos aliados serão úteis para a estratégia que vou apresentar.
Temos em mãos o corpo de um celestial, com as únicas ferramentas possíveis para lidarmos com um grupo inteiro deles.
- Temos também meu laboratório, vossa majestade, - Victor Frankenstein grita eufórico - Com alguns equipamentos que tenho à disposição, poderíamos drenar os fluídos corporais desta impressionante criatura, separar ossos da carne e dos tecidos... Em pouquíssimas horas disporíamos de toda matéria-prima necessária.
- Excelente! Como sempre perspicaz, meu caro doutor. - Ravenna diz sorrindo e concorda com ele:
- Pois muito bem. Precisaremos então de todo sangue e penas da criatura que conseguir extrair, Doutor, além e claro de fios de cabelo de Maria, Ormanna e Victoria.
- Já li sobre este tipo de encantamento antes. - Maria diz receosa. - Está mesmo sugerindo que...
- Criemos uma poção que nos permitirá lutar conta anjos em pé de igualdade? - Ravenna responde sorrindo, enquanto conjura um enorme caldeirão de ferro com raízes que surgem espalhando-se por todo o saguão.
- Sugerindo não. - A rainha e feiticeira diz enquanto Arannus e algumas aranhas da Colônia já transportam o corpo do anjo morto para o laboratório de Victor Frankenstein.
- Estou avisando que o faremos, minha criança.

Enquanto todos ainda olham confusos para o caldeirão cheio de raízes que se espalharam por todo o chão e pelas paredes, Maria, Ormanna e Victoria se reúnem à frente de Ravenna que ordena:
- Providenciem água para enchê-lo enquanto o doutor prepara tudo de que precisamos.
- Posso cuidar disto! - Petros diz modificando seu corpo e assumindo uma forma humanóide feira de água.
- Enquanto isso... - Ravenna conclui apontando para Helsing, o Sanguinário que acaba de acordar, ainda amarrado por grossas correntes e grilhões vigiados de perto do Adam, Anul e Ceddrik, os únicos capazes de segurá-lo.
- Precisam convencer o nervosinho ali, a juntar-se a nós.

[ UDG ] Sr. CONDEOnde histórias criam vida. Descubra agora