CAPÍTULO 20

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Thorment parou o jipe em frente a livraria. Como ele pediu, Pam fechou tudo. Havia um portão lateral que também estava trancado. Ele contornou a rua e viu que por trás do imóvel, dando para a rua de trás, havia uma outra loja. Um lugar onde as fêmeas humanas cortavam e pintavam seus cabelos. Ele entrou, elas gritaram de susto, mas ele não lhes fez caso. Uma mais corajosa, devia ser a proprietária, lhe puxou o braço, enquanto ele ia para os fundos da loja.
"Senhor! Não pode entrar aí." Thorment a olhou com frieza e disse:
"Só vou passar para a outra loja. Pode chamar seus policiais humanos se quiser, é uma emergência." E se soltou dela. Ela ficou parada com uma tesoura e um secador nas mãos. O cheiro de excitação queimou seu nariz. Thorment bufou.
Ele passou por uma pequena cozinha, saiu num pequeno pátio. Um muro alto separava aquela loja da livraria, Thorment escalou com facilidade, a parede era de tijolos, não foi difícil ir socando a parede e se segurar nos buracos na parede que seus socos faziam. Do alto do muro, ele se deparou com um telhado. Tudo coberto e não havia como saber a espessura do forro da parte de dentro. Thorment rosnou.
Se concentrou e sentiu o cheiro de Pam. Ela estava na livraria, seu cheiro tinha um misto de medo e pavor . O cheiro do Clone foi o que ele sentiu a seguir. Era o cheiro de Vengeance. Exatamente.
Ele deveria saber que Thorment estava ali pelo cheiro ou pela tal vidência que diziam que ele tinha, então Thorment arrancou uma telha e começou a arrancar as outras. Ali devia ser o depósito, provavelmente não haveria forro.
Não havia e logo Thorment tinha retirado telhas suficientes para poder pular dentro do depósito. Estava abarrotado de livros, material de limpeza, latas de tinta e até alguns suprimentos, desde biscoitos até latas de sopa e feijão.
Thorment avistou uma porta de madeira, parecia maciça, mas não deu muito trabalho chutá-la até que voasse das dobradiças.
Do depósito, ele saiu numa cozinha e de lá, na livraria propriamente dita.
Pam estava sentada, seus olhos atentos o imploraram por ajuda, mas ela não disse nada, nem se levantou da cadeira.
"Sabe, podia ter batido na porta. Não precisava ter arrancado telhas do depósito. Eu já vi o que vai acontecer, vamos lutar e vou te matar. Você vai se arrepender de não ter me matado quando teve a chance.
"Viu que Vengeance e o outro clone também estão vindo?" Thorment deu um passo na direção dele, Noah se posicionou mais perto da fêmea na cadeira.
"Você também acredita nessa besteira de clone? Vengeance estuprou a minha mãe. Os clones nunca passaram de alguns meses, Adam e eu até ajudamos a cuidar de muitos dos bebês. Todos nasceram defeituosos e morreram." Thorment entendeu que ele tinha um ponto. Será que eram clones mesmo? Se o cientista conseguiu fazê-los, por que os outros não sobreviveram?
"Não faz sentido, não é? E Adam pode ver o passado, ele viu Vengeance torcendo o pescoço de nossa mãe."
"Bom, eu não tenho filhos, mas acho que torcer o pescoço de uma mulher não deixa ela grávida." Pam disse, com expressão zombeteira.
Noah se virou para ela e rosnou.
"Não a mencione. Ou depois que matá-lo, vou te usar da maneira mais cruel, mais dolorosa que eu jamais fiz e tenho várias mechas de cabelos pra mostrar que ensaiei bem." Thorment deu mais um passo.
"Não vou lutar com você com ela aqui. Deixe-a ir."
"Você não tem nada que eu queira a não ser arrancar sua coluna de suas costas, idiota. Não veio barganhar, não veio nem mesmo protegê-la. Você não se importa com ela." Thorment pensou no que ele disse e teve de admitir que ele estava certo. Veio pela oportunidade de acabar o que começou, Thorment queria muito torcer o pescoço daquele filho da puta.
"Eu sou o culpado por você ter feito medo nela, ou qualquer coisa que fizer com ela. É por isso que eu vim. Deixe-a ir. Se é mesmo um vidente, pode buscá-la depois, se me matar, é claro." Noah piscou. Ele sorriu e saiu da frente dela.
Pam correu para a porta, destrancou e saiu. Thorment gostou dela ter escolhido correr e sobreviver. Se ela ficasse, o atrapalharia.
Noah foi até a porta e a trancou.
"Então meu pai e meu irmão estão vindo. Isso é bom, vão limpar a sujeira."
Ele saltou sobre Thorment, acertando um murro muito forte, tentando acertar a cabeça de Thorment, mas ele desviou por pouco, o punho fechado de Noah lhe acertou a lateral, bem sobre o ouvido. Thorment pulou para longe. Uma ou outra vez, Thorment lutou com Vengeance, e como Noah era um clone, seu estilo de luta era igual. Vengeance via os golpes, mas isso não adiantaria nada se fosse pêgo. O problema era não ser pêgo por ele. Se fosse, morreria.
Thorment pegou um livro qualquer e o arremessou com muita força em Noah que desviou e sorriu. Thorment jogou outro e outro até que Noah parou de sorrir, quando Thorment continuou jogando os livros da forma mais rápida e mais forte que conseguiu. A cada arremesso, Thorment ia dando um mínimo passo, até que jogou um livro em Noah e pulou sobre ele.
Mas ele desviou, o desgraçado desviou do ataque e o socou nas costelas. A dor o atordoou. Provavelmente quebrou pelo menos umas três ou quatro.
Thorment, no entanto, era acostumado a dor. Ele saltou de novo sobre Noah e acertou um soco em sua cabeça. O outro cambaleou e Thorment socou de novo. Dessa vez de lado. A cabeça de Noah balançou como um badalo de sino, mas o filho da puta o segurou pelo pescoço, com suas garras. Era o fim.
Mas Thorment não se entregaria sem tentar um último movimento. Ele conseguiu abraçá-lo e apertou com todo seu desespero por ar. Noah lhe apertava o pescoço e Thorment lhe apertava o torso. A única coisa que podia fazer era segurá-lo até Vengeance chegar.
"Eles não vão chegar a tempo, vou dilacerar seu pescoço." O clone disse, sua voz baixa e entrecortada, devido ao pouco suprimento de ar que tinha.
Thorment não responderia. Tentou passar uma perna pela dele, se ele caísse, o peso de Thorment iria aumentar a pressão. Mas o desgraçado parecia uma coluna pregada ao chão. Thorment forçava seus músculos do pescoço, empurrando o queixo para baixo, tentando impedir as garras de Noah de lhe perfurarem a pele e o apertava com os braços. Toda a sua força estava nisso, Thorment rosnava com os dentes cerrados. Noah porém, conseguiu dar uns dois passos e Thorment se viu contra a parede. Porra! Ele ia pressionar as costas de Thorment contra a parede e suas costelas, as que não quebraram iriam quebrar.
Thorment queria poder dizer algo para o filhote de Marlena. Ia morrer sem nunca trocar nenhuma palavra com ele, quando se lembrava do rosto infantil o olhando, foi raiva o que viu. E essa era a lembrança que tinha de Enrico. E isso não estava certo.
Thorment não sabia lidar com filhotes, mas Thorment poderia ensinar muitas coisas a ele. Thorment tinha pensado num jogo com blocos, noutro com bolinhas de madeira e várias outras coisas. Enrico talvez gostasse de Chelsea. Talvez gostasse de pescar, Thorment gostava de pescar.
E Marlena ficaria feliz, ele tinha certeza disso, se os dois se dessem bem. E aquele clone idiota não ia lhe tirar isso.
Thorment ergueu o pescoço, deixando espaço para Noah lhe rasgar o pescoço. Ele forçou as garras contra sua pele, mas Thorment teve também espaço para uma cabeçada com toda a sua força. Isso mandou a cabeça de Noah para trás e ele afrouxou o agarre. Thorment aproveitou para dar outra cabeçada, dessa vez esmigalhou o osso do nariz de Noah e ele uivou.
"Desgraçado!" Noah voltou a segurar o pescoço de Thorment e dessa vez seria fatal.
"Pare! Pare, Noah! Me mate no lugar dele se for o caso, mas pare." Uma voz disse.
Thorment estava desfalecendo de dor, logo as garras de Noah, perfurariam seu esôfago e pelo menos teria o consolo de ter dito a Marlena que a amava.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. O agarre de Noah, porém, diminuiu sua pressão.
"Não. Não posso. Eu vi. Foi exatamente assim. Mas eu vou levá-lo. Você não vai salvar esse aqui, papai." A voz dele vinha de longe, Thorment sentiu frio.
"Diga a Enrico... Diga que eu..." Thorment queria muito conhecê-lo. Queria brincar com ele, mesmo não gostando de brincar. Ele era a prioridade de Marlena, então seria a de Thorment. Se ele vivesse, é claro.
"Pare de drama, Thorment, você mesmo vai dizer a ele. E vou ficar no comando da fábrica até você melhorar." Ele devia ter morrido e ido direto para o inferno, pois só assim para ouvir a voz daquele capeta.

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