A lua brilhava cheia no céu escuro, fazendo Simple suspirar. Estava esfriando, o inverno estava chegando, com isso, seu aniversário, o final do ano e logo no início do próximo ano, iriam começar a faculdade. Ele não iria todos os dias, só nas provas e no caso de um evento obrigatório. Candid e Honest estariam juntos e iriam passar muito tempo na faculdade, por causa das aulas práticas, já que Candid teria de fazer medicina e só depois faria psiquiatria. Ele é que estaria separado deles. Candid lhe sugeriu cursar algo relacionado a medicina também, mas ele não conseguia se imaginar nem perto de um hospital. Quando era Honest, jogava todo o trabalho em Destiny, estava sempre o sugestionando, e fugia sempre que podia. Ainda bem que foi Honest poucas vezes depois que Florest começou no hospital, pois ele parecia ter olhos em todos os lugares, e graças a rivalidade que o Honest verdadeiro tinha com Florest e dado que Candid adorava pregar peças em todos, Florest definitivamente não gostava de Honest.
E foi Honest o primeiro a sair da água e se deitar na praia da ilhazinha. Simple não disse nada quanto a ele estar atrasado, ele gostou de ficar sozinho. Candid sempre se atrasava, ele fazia de propósito.
"Cam ainda não chegou?" Simple não respondeu.
"Ele é um idiota." Eles riram. Candid era o mais extrovertido deles e adorava quebrar padrões.
Logo, porém, ele saia da água. Só que não estava sozinho, um dos clones estava com ele.
Honest se levantou e rugiu. Simple sentiu a adrenalina correr por seu sangue.
"O que ele está fazendo aqui?" Honest perguntou.
"Ele vê o passado, nos viu lutando. Nos viu trocando de lugar, quis vir junto, eu achei que talvez precisemos de uma visão de fora."
"Eu ficarei em silêncio, nem vão notar que eu estou aqui. E não é como se Vengeance não participasse algumas vezes." Ele via o passado, grande merda. Mas não era uma reunião como as outras, era o fim da unidade, não importava se tinham platéia.
O clone se sentou na praia, suas pernas na água.
"Temos um problema, ou melhor, você tem, Sim. Thorment não vai aceitar Simple na fábrica no lugar de Candid. Pelo que eu percebi, ele gosta de você, ainda que não diga. Falando nisso, Leo não vai achar estranho Candid ir trabalhar no zoológico?" Honest se agarrava a possibilidade da unidade ainda continuar.
"Leo tem memória do cheiro, ele saberá que sou eu mesmo. Na verdade vai ser bom não ter que ficar corrigindo ele." Simple acenou, fazia sentido. As vezes, Leo acertava que ele era Simple, as vezes não, mas sempre sabia qual deles era Candid.
Agora, saber que Thorment gostava dele era uma novidade.
"Eu resolvi um grande problema pra ele, ele vai fazer o que quisermos. E se ele acasalar com Marlena, vai ter de dividir seu tempo, não vai importar muito com a direção da fábrica." Simple olhou para o clone.
"Não é?" Ele perguntou.
"Eu vejo o passado, não o futuro. Na verdade, eu nunca tive tantos vislumbres do passado de alguém como tenho do de vocês." Ele deu de ombros.
"Noah viu como eu ia castigar Thorment e disse pra mim que iria brincar também. Como assim?" Simple queria testar a lealdade dele ao seu irmão.
Ele fechou os olhos.
"Eu o vejo com você numa lanchonete. Ele está furioso, você está em alerta, mas não o odeia. Você pensa em atirar, mas não quer assustar as mulheres do lugar. Noah sai, pensando numa estratégia para matar Thorment. Eu só vejo isso." Ele estava sendo sincero, Simple sabia.
"Mas não vê o que ele faz depois?" Simple perguntou.
"Não, não agora. Eu tenho de estar olhando para a pessoa e nem sempre consigo ver. Embora eu saiba o que aconteceu depois e esse é um dos motivos de eu estar aqui. Mas continuem." Ele assumiu o ar de paisagem.
"Eu achei legal, esse seu dom." Honest disse com um pequeno sorriso. O clone sorriu de volta, era estranho, pois era como se o tio deles estivesse ali, o mesmo cheiro, a mesma aparência, até o mesmo jeito de falar.
"O que Enrico vai fazer na fábrica?" Candid perguntou, os olhos meio zombadores.
"Vai ser meu auxiliar. É só por duas horas, tem muita coisa pra digitar por exemplo."
"E ele vai receber?" Honest perguntou.
"Essa é a parte mais divertida dessa história, Slade vai pagar." Simple respondeu e todos riram até o clone.
"Como conseguiu isso?" Honest parecia muito curioso, com a questão do dinheiro, Simple anotou mentalmente que devia dar uma olhada nas contas dele.
"Acontece que há um fundo para a fábrica que Thorment não usava e Slade desviava para o complexo, nada ilegal, mas moralmente falando, não é muito bonito. Ele vai pagar meio salário a Enrico, e um salário a Blade e outros ajudantes que vou contratar." Candid riu.
"E Slade não quer que ninguém sabia desse fundo, não é?" Perguntou. Eles riram muito, o clone fez cara de desentendido.
"Por que isso é tão divertido?"
"Devia perguntar ao nosso tio. Slade é um bundão de marca maior, ele odeia ter segredos, mas acaba tendo um ou outro, então, é chantageado, e odeia isso."
"Vocês não chamam quase todo mundo de tio como John, por exemplo. Só Vengeance?" O clone perguntou. Simple notou que ele já tinha amizade com John, pelo modo como disse o nome do filhote, com carinho. Exatamente como Vengeance.
Simple franziu a testa. Era verdade. Em algum momento, pararam de chamar os outros adultos de tio.
"Acho que acabamos por imitar James sem querer. Ele só chamava o tio V. de tio, pois dizia que ele era o mais fodão daqui. E é verdade, então..." Candid respondeu e Simple e Honest assentiram.
"Ele não me parece tão fodão agora." Pura verdade. Tio V. estava as voltas com aulas de culinária, a comida horrível dele até melhorou, brincava de bonecas com Beauty e estava cultivando um jardim.
"Isso é por que você não o viu lutar com Max Hunter. Na primeira vez, ele levou seis tiros e só por isso, Max escapou, da outra vez, ele torceu o pescoço dele, num salto impossível. Papai que contou." Honest disse.
"Ou quando ele segurou o papai, quando ele teve medo da tempestade." Candid disse. Isso era algo que eles queriam muito ter visto.
"Seu pai tem medo de tempestade?" Adam perguntou.
"Sim, pode perguntar a ele." Candid disse e eles riram.
"Como aquele cara que usa jeans rasgados e jaqueta de couro se chama?" Adam perguntou.
"Harley?" Honest não deixaria de dizer, é claro.
"Certo, Harley. Harley perguntou ao seu pai se o medo de tempestades era só quando ele estava em lugares altos e seu pai o desmaiou. Esse era seu objetivo?" Ele perguntou sério. Candid deu de ombros.
"Talvez." E o clone riu. Muito. Como eles nunca viram um adulto rir.
"Tenho de tomar cuidado com vocês." Ele enxugou os olhos.
"Mais alguma coisa?"
"Cassie. Ela está muito triste, e me perseguiu essa semana. Eu posso ter dado um beijo nela, mas foi para que ela me deixasse em paz." Honest disse, se afastou e ficou em posição de luta.
Simple respirou fundo e deixou a raiva se acumular, como o pai tinha ensinado. Seria a última luta deles, Honest fez de propósito, ele queria mostrar que era Simple por direito, ainda que fosse o mais novo. Simple não se importava com isso, ele era o líder, por direito de nascimento e por inteligência. Mas Honest tocou no que era dele, ia pagar. Candid pegou no braço do clone e entraram na água até o peito. A ilha era muito pequena.
Simple tinha de dar o primeiro golpe, foi o ofendido. Ele voou em seu irmão, mas Honest se desviou, o que era esperado, saltou de lado, mas não surpreendeu Simple que o agarrou pelo tórax. Simple apertou. Toda a sua força estava concentrada em seus braços esmagando Honest. Honest não desistiu, porém e conseguiu dar uma cabeçada em Simple, bem no nariz. Era proibido esse tipo de golpe, mas naquela luta, parecia que valia tudo. Simple diminuiu um pouquinho do agarre e Honest se livrou. Ele lhe deu uma voadora na cabeça, não muito forte, estava enfraquecido pelo apertão que Simple lhe deu. Mas doeu, o pé de Honest pegou em cheio em seu ouvido, Simple viu estrelas. E logo Honest lhe deu outra voadora, dessa vez com o outro pé. Simple e Candid eram destros, Honest era canhoto, então, para ser Simple ou Candid, ele aprendeu a escrever com as duas mãos e chutar com os dois pés. Isso estava contra Simple agora.
Ele caiu e esperou. Honest lutava sujo, não esperaria ele se levantar para atacar e o chutou na barriga. Simple aguentou um chute, doeu muito mas ele queria que Honest ficasse confiante que estava ganhando. E Honest chutou de novo, dessa vez, Simple sentiu seu estômago inchar, tal a força do chute. E Honest chutou de novo. Dessa vez, Simple segurou o pé dele e torceu. O osso quebrou. Honest caiu pra trás e Simple rastejou até ele se ergueu com dificuldade e o socou. Um, dois, três socos. Com toda a força que sobrou.
"Fique." Mais um soco, bem na boca de Honest.
"Longe." Outro soco.
"De Cass..." Ele perdeu as forças, seu estômago queimava, seus ouvidos estavam sangrando. Caiu sobre Honest.
"Quem ganhou?" Simple ouviu o clone perguntar, sua voz soando de longe.
"Não importa, nós é que teremos de levá-los ao hospital, nadar com eles, caminhar toda a longa distância com eles nas costas, então, acho que os perdedores somos nós." Simple sorriu, ele ganhou e sabia, isso era o que importava.

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THORMENT
FanfictionPara Thorment, compartilhar sexo era um prazer efêmero se se fosse considerar o enorme trabalho que as fêmeas tanto humanas quanto as Novas Espécies davam. Ele não tinha o mínimo de paciência ou vontade de acasalar, então abraçou o celibato com gost...