Thorment acordou com batidas na porta, Marlena continuava dormindo, então, ele vestiu sua calça e foi abrir.
Pelo cheiro, ele viu que eram Enrico, Pride e Sheer.
Ele destrancou a porta, de testa franzida, pois não se lembrava de ter trancado, e o filhote o olhou de cima a baixo, seus olhos demonstraram que ele não gostou de vê-lo ali.
"Bom dia, tio Thorment. Meu tio Candid disse que Chelsea morreu, eu sinto muito." Sheer disse. Ele era adorável, e ter dado condolências a Thorment fez com que pensasse que filhotes não eram de todo maus. Isso lhe deu um pouco de esperança de que Enrico poderia chegar a pelo menos a aceitar que Thorment e a mãe dele iriam acasalar.
Iriam mesmo? Ele não perguntou, estava com medo dela dizer não.
"Você está entregue, Enrico. Viu, não tem problema a sua casa ser longe, sempre dá pra virmos te buscar." Pride disse despenteando o cabelo dele.
"Pai! Nenhum filhote gosta que façam isso!" Sheer disse e Enrico acenou
"E eu não sei? Eu cresci com os nossos tios fazendo isso com meu cabelo. Acha que eu ia perder a chance de fazer?" Pride perguntou descabelando Sheer. Thorment sorriu, era um momento pai e filho muito fofo.
Eles foram andando, entraram no jipe e saíram. Pride era um bom pai.
"Cadê a minha mãe?" Enrico perguntou, mas antes que respondesse, Cupcake veio correndo e latindo, fazendo festa para ele. Enrico ficou entre divertido e confuso ao ver o cão ali, mas Cupcake começou a morder seus tênis e ele riu.
"Cupcake! Não." O cachorrinho não era adestrado, então foi morder a barra da calça de Thorment.
"Cupcake!" O cachorro nem deu bola, um fio do jeans se enrolou nos dentinhos dele e ele puxou. Enrico riu e segurou Cupcake enquanto desenganchava o fio dos dentes dele.
"Ele precisa de adestramento." Thorment disse.
"Eu vi Chelsea antes dela... Ela estava... Candid disse que ela não sofreu." Ele disse com os olhos baixos.
"Cupcake é descendente dela. Na ninhada havia uma fêmea bem parecida com ela, mas um macho é melhor para cuidar do que uma fêmea, por causa do cio." Thorment quase pegou a cachorrinha para ele próprio, mas se Deus lhe concedesse acasalar com Marlena, já teriam Cupcake.
"Quem escolheu esse nome para ele?" Cupcake agora mordia seu frango de borracha, fazendo barulho.
"Blade. Ele é o dono da fêmea, mãe dele. Os filhotes de Lash criam cabras e têm muitos cachorros, então, o dono da fêmea dá nome aos filhotes dela. Eu acho um bom nome." O cachorrinho tinha as patas marrons, o dorso branco com muitas pintinhas também marrons e a boca preta, além de uma orelha também preta, parecia um cupcake de baunilha com gotas de chocolate.
"Tá brincando? É um nome genial! O pelo branco dele parece aquelas coberturas dos Cupcakes!" O filhote parecia animado.
"Eu não conheço Blade, ele mora na zona Selvagem?" Enrico perguntou. Thorment foi até a cozinha, queria beber água. A geladeira estava vazia.
"Vamos ao refeitório? Ou você já tomou café? E sim, Blade mora na zona Selvagem."
Ele já devia ter tomado café na casa de Valiant, mas Thorment estava fraco ainda, precisava de comida.
O filhote olhou para o cãozinho.
"Podemos levá-lo. Eu comprei uma guia, veja!" Thorment se encaminhou a área de serviço, onde Marlena colocou todos os acessórios do cachorrinho. Thorment tinha comprado uma guia preta, ele teve que ir na cidade mais próxima, era uma cidade muito pequena, a petshop deles não tinha muita variedade.
Quando voltou à sala, Cupcake viu a guia e começou a latir e balançar o rabinho, muito feliz.
"Ele já sabe que vai passear." Thorment disse e Enrico franziu a boca querendo sorrir, mas desistindo e ficando sério. Ele foi a área de serviço e olhou para todos os acessórios, o saco de ração e voltou a sala com o rosto crispado.
"Você vai morar aqui? É por isso que trouxe as coisas de Cupcake? Trouxe suas roupas também?" Ele cruzou os braços. Thorment respirou fundo.
"Eu não trouxe minhas roupas, Enrico. Sua mãe não disse nada sobre as pretensões dela quanto ao nosso relacionamento. Eu tenho uma cabana, fica muito longe daqui, mas tenho um jipe e venho todos os dias para a fábrica. Não dormirei aqui se você se incomoda com isso. Porém, não deixarei a sua mãe, eu a amo. Estou disposto a ficar com ela apenas o tempo em que ela não esteja cuidando de você, eu entendo que você é muito importante para ela." Thorment disse isso de joelhos, olhos nos olhos do filhote. Ele baixou a vista e acenou.
"Mas porque trouxe todas essas coisas para Cupcake?" Ele perguntou.
"Você queria você mesmo escolher tudo?" Thorment fazia tudo errado mesmo, ele devia era levar Enrico para escolher os brinquedos e a casinha.
"Se quiser trocar alguma coisa, eu te levo a tarde na loja. Fica numa cidade bem perto." Não seria problema, talvez até se divertissem.
Cupcake corria para a porta e latia querendo sair. Thorment abriu a porta e ficou na varanda esperando Enrico segurando a guia.
"Vamos? Ele deve estar ansioso para fazer cocô. Pegue um desses sacos aí." Thorment indicou um dos saquinhos para recolher cocô.
"A gente anda com ele até ele fazer, depois entramos no jipe e vamos para o refeitório, tudo bem?" Cupcake queria sair correndo, Thorment o segurava esperando Enrico se decidir.
"Tenho de avisar a mamãe." Thorment acenou, Enrico entrou no quarto de sua mãe. Marlena dormia muito pesadamente, era uma pena acordá-la, mas ele não podia impedir o filhote, então, ficou escutando.
"Mãe? Mamãe? Acorda!" Ele devia estar sacudindo Marlena.
"Hã?" Ela disse baixinho.
"Vou com Thorment no refeitório, depois que Cupcake fazer cocô." Ele informou.
"Quem vai fazer o que?" Ela devia estar muito sonolenta, Thorment riu.
"Cupcake, mãe. Ele vai fazer cocô, depois vamos no refeitório."
"Ah, sim. Você gostou do presente então." Ela falava meio grogue.
"Que presente?" Ele perguntou. Thorment então se tocou que não tinha dito que o cãozinho era um presente para Enrico e bateu na testa.
"Não esqueça de recolher o cocô. Thorment comprou até os saquinhos para isso." Ela bocejou.
"Me deixa dormir, meu amor? Estou com muito..." Ela ressonou.
Enrico saiu do quarto e eles saíram da casa. Enrico fechou a porta e trancou.
"Eu não disse que Cupcake era um presente. Marlena disse que você ia gostar. Mas se não, bom..." Thorment não queria que ele pensasse que estava tentando comprar a afeição do filhote, o problema era como dizer isso.
Eles andaram em silêncio, Cupcake latia para tudo o que via. Naquela área muitos pombos pousavam e não voavam de volta, Cupcake adorou latir para eles, até que parou e fez cocô. Enrico recolheu e eles andaram até uma lata de lixo.
"Eu comprei areia higiênica e indutor de xixi para quando você não puder sair com ele, sua mãe disse que você não vai achar muito custoso cuidar dele, mas se achar que é muito, é melhor devolvê-lo agora, antes que ele se apegue a você." O coração de Thorment doía só de imaginar Enrico devolvendo Cupcake depois de algumas semanas.
"Bestial me deu muitos presentes, querendo que eu aceitasse o namoro dele com minha mãe. Não funcionou." Enrico disse. Eles chegaram ao jipe, Thorment subiu, Enrico subiu junto com Cupcake e o colocou no colo.
"Eu só queria uma forma de me conectar com você. Eu não entendo de muitas coisas, você não deve saber nada de móveis, não é?" Ele perguntou tirando os olhos da estrada a frente.
"Candid me arrumou um emprego na fábrica. Mas vou trabalhar com Simple." Ele disse, parecendo não estar muito feliz com isso.
"Você prefere Candid?" Thorment não aceitaria Simple na fábrica, mas não disse nada, iria falar com eles. Era muita audácia de Candid mudar tudo por lá e depois deixar seu irmão no lugar dele. Thorment não aceitaria mesmo.
"Candid é legal. Quer dizer, Honest é o mais legal dos três. Simple é muito sério."
Thorment não conhecia Simple direito, nunca falou muito com ele. Honest falava pelos cotovelos, mas também nunca conversaram.
"Eu nunca conversei com os outros dois. Na verdade, nem com Candid, tirando os últimos dias, ele é muito calado." Era. E Thorment gostava disso.
"É, ele é. Ele nos buscou no heliporto quando chegamos. Ele tem nos ajudado muito. Eu gosto dele." Enrico contou.
"Eles tem a sua idade, não é?"
"Tem. Eu queria ser grande e forte como eles, mas sou só humano." Ele disse alisando o pêlo de Cupcake.
"Não é tão vantajoso assim. Você sabe que eles andam com prostitutas não sabe?" Enrico arregalou os olhos. Porra! Ele não sabia falar com filhotes!
"Sei, mas Sheer disse que eu não podia comentar isso com ninguém."
"Certo, não comente mesmo." Thorment disse, quase adicionando um: 'não comente principalmente com sua mãe.', mas achou melhor não dizer isso.
"Bom, imagine que um deles goste da fêmea em questão. Você acha que ele poderia acasalar com ela? Aos nove anos?" Enrico ficou pensativo, Thorment jurou que não ia falar em nada que envolvesse sexo com Enrico.
"Não. Eu não gosto de fêmeas. Nem eu, nem Sheer, nem Peace, nem Smile Two."
"Isso é bom. Você deve aproveitar a sua fase de criança ao máximo. Brincar, correr, nadar, pescar... Você gosta de pescar? Eu gosto, se você quiser, podemos ir um dia desses, podemos chamar os seus amigos." Thorment não se via no meio de um monte de filhotes, mas seria melhor que ficar inventando assuntos. Ou pior, falando de coisas que não devia falar.
"Você faria mesmo isso?" Ele perguntou. Eles chegavam ao refeitório, então Thorment apenas acenou. Enrico não disse mais nada.
O cheiro de comida encheu as narinas de Thorment e seu estômago roncou, Enrico riu.
"Eu estou faminto. Você pode escolher só um suco se não estiver com fome." Thorment disse enquanto lavavam as mãos. Eles escolheram uma mesa e se sentaram. Thorment prendeu a guia de Cupcake e ele se deitou.
"Viu? Ele é comportado, mas tem de ter pulso firme com ele." Thorment se abaixou e acariciou o focinho de Cupcake.
"Eu nunca tive um cachorro, mas eu sempre quis ter um. Obrigado."
"Ele será um bom amigo. Eu e Chelsea éramos bons companheiros. Ela me fez companhia durante muitos anos. Ele é descendente dela. Bisneto, eu acho."
Enrico acenou.
"Ora, ora, então, já são bons amigos?" Bestial apareceu. Ele estava vestindo terno, até com um colete. Era um almofadinha mesmo.
"Bom dia, Bestial. Vai se casar?" Thorment perguntou, Enrico franziu os lábios segurando um sorriso.
"Qual o problema de andar bem vestido? Ou aqui só é permitido se vestir de trapos?" Ele olhou a calça jeans surrada de Thorment com pouco caso.
"Problema nenhum, afinal onde você iria sem seu colete, não é mesmo?" Thorment perguntou e dessa vez Enrico e até um ou outro macho nas mesas próximas riram.
"Você está se achando o máximo, não é? Sinto o cheiro de Marlena em você e sei que perdi. Sou um bom perdedor, espero que se dêem bem. Adeus." Ele saiu andando e cumprimentando os machos e fêmeas nas mesas.
"Eu não estava competindo com ele, isso é coisa da cabeça dele. Eu amo sua mãe." Enrico baixou a cabeça.
"Luis dizia isso. Dizia que a amava e que por isso tinha de me aturar. Mas ele batia nela e em mim. Não acho que isso é amor."
"Eu também não. Você tem medo que eu bata em você? E nela?" Thorment perguntou, a voz meio rouca, era um absurdo sequer cogitar que ele faria uma coisa terrível dessas.
"Sim." Ele disse olhando para o copo de suco de laranja.
"Eu preciso de uma chance, Enrico. Eu preciso te mostrar que eu nunca faria isso, mas você teria que confiar em mim, e eu próprio sou desconfiado, sabe? Não sei como te convencer a me dar essa chance."
Enrico acenou.
"Bom,vamos dar tempo ao tempo, o que acha? Eu vou me esforçar para dividir sua mãe com você. Eu sei que parece estranho me ouvir dizer isso, mas é que a minha natureza espécie me faz ser meio dominador. Eu sinto muito por isso. Cada oportunidade de estar com ela, vou ficar."
Enrico ficou em silêncio. Thorment comia, estava faminto. Ele entendia que o filhote precisava de tempo para assimilar tudo.
Candid se sentou a mesa deles com um grande sorriso no rosto.
"Então, já estão tomando café juntos, isso é bom. Thorment, Enrico contou que vamos trabalhar os três na fábrica? Podemos ser os três mosqueteiros!" Ele aumentou o sorriso. Estava com um curativo no nariz.
"Brigando? Com quem?" Thorment perguntou tocando no nariz dele.
"Com Honest, mas ele ficou pior que eu, os olhos dele estão tão inchados que um deles não abre."
Os famosos leãozinhos brigando? Ele nunca ouviu falar que eles fizessem isso.
"Deixa eu adivinhar: estão de castigo?" Enrico riu.
"Exatamente. Mamãe nos trocou de posto. Eu na fábrica, Honest foi passar uma temporada cuidando das cabras de Lash e Candid no hospital. Honest ficou com o pior lugar, eu acho." Ele disse franzindo o nariz e chiando de dor.
"Você não é Candid?" Que porra era aquela?
"Ele é o Simple. Não sabe diferenciá-los? Se não consegue pode olhar a camiseta, é vermelha." Enrico perguntou e respondeu ao mesmo tempo.
Thorment coçou a barba. Não, não era Simple ali. Ele esteve com Simple no dia anterior, aquele ali era Candid. Eles aprontavam e muito. Candid piscou, ele resolveu deixar por isso mesmo. Era Candid, não importava se estava se passando por Simple.
"Bom, temos muita coisa para decidir sobre a fábrica. Te vejo a tarde?" Ele levantou, pegou um pedaço da carne de Thorment e pôs na boca. Thorment rosnou, ele riu e saiu. Candid, com certeza.
"O que vai fazer com seu salário?" Thorment perguntou.
"Vou juntar até poder comprar uma casa para minha mãe. Ela morou com Luis por que não tínhamos onde morar. Não quero que ela fique com ninguém apenas por isso."
"É bonito esse seu gesto. Posso ajudar também, ou isso é algo que você tem de fazer sozinho?" Thorment entendia o valor de lutar pelo que se queria.
"Tenho de fazer sozinho." Thorment assentiu.
"Eu respeito isso. Eu não tive mãe, sabe? Se eu tivesse, gostaria de poder dar tudo o que ela desejasse. Te desejo boa sorte." Thorment estendeu a mão, Enrico apertou e sorriu.
"Quer ir comigo para a fábrica a tarde? Se vai trabalhar lá, já pode ir se inteirando do funcionamento. Candid fez uma bagunça lá, está cheio de humanos correndo pra lá e pra cá."
"Humanos como eu?" Ele perguntou com as sobrancelhas erguidas.
"Sim. Isso é uma coisa ruim de se dizer?" Thorment ainda tinha muito o que aprender. Enrico todavia, sorriu.
"Não. Eu queria muito ser Nova Espécie, mas ser humano não é ruim."
"Queria ser Nova Espécie? Por quê?"
"Vocês são fortes, altos e fazem tanta coisa legal!" Ele disse com um olhar sonhador.
"Isso tem valor aqui, mas lá fora, no seu mundo, não. Mas você pode se exercitar. Se quiser podemos correr todas as manhãs, Cupcake vai gostar."
Ele sorriu, dessa vez um grande sorriso.
"Eu quero!"
"Então, começamos amanhã. Sem desculpas!"
"Eu não vou dar desculpas, vou correr o máximo que puder."
"Isso nós veremos." Thorment sorriu. Não era tão ruim assim acasalar com uma fêmea que já tivesse um filhote, afinal.
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THORMENT
FanfictionPara Thorment, compartilhar sexo era um prazer efêmero se se fosse considerar o enorme trabalho que as fêmeas tanto humanas quanto as Novas Espécies davam. Ele não tinha o mínimo de paciência ou vontade de acasalar, então abraçou o celibato com gost...