Escolha

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Mahara se dirigia a cela de Doug e Cecília, sabia que deveria ter misericórdia e ir o mais rápido possível, mas quanto mais se aproximava, mais ficava confusa. O que ela deveria dizer? Como agiria?

A culpa tinha lhe dado vários tapas na face desde que chegaram àquele lugar. Conseguiria agir de forma fria e indiferente?

Estava indo tranquilizá-los, suas ações não faziam sentido sequer para ela, muito menos pela personagem que criara nos últimos anos.

Estava de frente para a porta que levava diretamente a cela que estava procurando.

Sua mão ficou hesitante na maçaneta.

Ainda não havia decidido o que faria. Ela agiria de forma estranha novamente.

Ela era, tecnicamente, a senhora daquela casa. Mahara sequer deveria estar indo dar conforto às vítimas que ela mesma sequestrara.

Era como colocar os cacos que restaram dela em um saco e ficar os sacudindo, fazendo-os se chocarem, se arranharem e se quebrarem ainda mais.

Sentia que enlouqueceria a qualquer momento. Precisava de um tabaco urgentemente.

Abriu a porta bem devagar e entrou.

Haviam quase dois metros entre a porta e a cela. Grandes barras de ferro formavam a prisão da Duquesa e do Marquês. Os dois estavam sentados no chão, Doug acalmava Cecília em seus braços e sussurrava palavras de conforto.

Ambos perceberam a presença dela no mesmo instante que se aproximou da cela. Eles estavam alertas, ansiosos e visivelmente tensos.

- O que fizeram com eles? - Cecília estava nervosa, os olhos vermelhos de tanto chorar demonstravam uma tremenda força naquele momento. Mahara tinha certeza de que, se não estivessem separadas por grades, Cecília estaria em cima dela exigindo respostas.

- Eles estão bem. - Foi tudo que Mahara conseguiu dizer. A verdade seria dolorida demais. Dizer que eles foram cruelmente torturados desde o dia anterior não era o que eles precisavam naquele momento.

Eles não poderiam ajudá-los, era impossível.

Mahara tinha aprendido algo nos últimos anos, não sofra por situações que você não pode mudar. Infelizmente para ela, aprender e colocar em prática eram coisas diferentes.

- Nos diga a verdade, não nos separaram deles para servir chá e biscoitos. – O Marquês estava sério. Quantos anos Bruce dissera que ele tinha? Estava prestes a fazer dezesseis. Ele estava agindo como um adulto ali, o protetor de Cecília, mas apesar de toda essa tentativa, seus olhos estavam tão marejados que pareciam prestes a chorar a qualquer momento.

Mahara fechou os olhos por um instante. Por que um menino tinha que estar nessa situação?

- Eu já lhes disse a verdade. – Se virou para sair. Tinha cumprido o que queria, já havia transmitido a mensagem. Diferente do que pensara, isso não tinha diminuído sequer um pouco de sua culpa, mas não estava surpresa. A sensação de culpa estava tão presente em sua vida que duvidava muito que conseguiria viver sem ela.

Se aproximou da porta e tocou a maçaneta. Tinha que ir embora logo, não estava bem, parecia que iria sufocar.

- Você não gosta daquele homem... – Falou Cecília. Mahara paralisou no lugar – ... Não estou certa?

A falta e negação dela deu coragem a Duquesa.

- Eu conheço o olhar de uma mulher apaixonada. - Continuou Cecília - Quando fechou os olhos para beijar aquele homem, não foi por entrega e sim para ficar cega diante aquela situação... – Ela não hesitava em suas palavras, Mahara sentia cada uma como balas disparadas da coragem daquela mulher – Você fechou os olhos com tanta força que parecia mais estar sendo açoitada do que beijada.

O Conde SequestradoOnde histórias criam vida. Descubra agora