A instável e o inconstante.

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O caminho de volta para a cela fora apressado e silencioso, era um tanto discrepante da gritaria incessante na mente de cada um.

Doug havia sido capturado.

E eles não puderam fazer nada.

Cecília abafou um grito de terror quando a porta se fechou. Andrew e Bruce ficaram estáticos no primeiro momento, mal acreditavam no que estava acontecendo.

Demorara alguns segundos para Bruce se levantar e dizer para voltarem à cela. Se os procurassem e não estivessem lá, o problema poderia ser maior ainda.

O Conde sabia que havia tomado a decisão mais sensata, Cecília e Andrew o seguiram por vontade própria,pois sabiam disso também. Mas por que se sentiam tão absurdamente culpados? A sensação de tê-lo abandonado era forte o suficiente para deixar o grupo desnorteado, fora muita sorte terem conseguido voltar à cela.

Mahara chegou quase ao mesmo tempo que eles, mas Dinesh já não estava mais consigo.

Ela se apressou em trancar a cela como se nunca tivessem saído dali e ficou calada até que alguém do grupo falasse alguma coisa.

O clima era pesado demais, até mesmo Mahara tivera o bom senso de não dizer nada. Ela podia imaginar a dor e o desespero deles naquele momento.

- O que vai acontecer com ele? – Cecília fora a primeira a falar.

O Conde e o Duque ainda não reagiam muito.

- Eu prometo que tentarei descobrir. – Respondeu com toda a segurança que conseguiu.

Mahara começava a entender aquelas pessoas. Cecília era uma lady perfeitamente criada no conforto e segurança, mas tinha uma força inegável, podia sentir as unhas dela em seu braço quando se lembrava da conversa que tiveram. Andrew era um homem jovial e era a própria definição de nobreza, o modo como ele a dispensara quando achou que ela o seduziria, era fresco em sua memória, e por mais que não quisesse admitir qualquer esperança para o amor, sentiu uma ponta de inveja da Duquesa por ser tão amada e apreciada daquele jeito. Doug era um tanto misterioso, a adolescência chegara de uma forma surpreendente para ele, Mahara passou pouco tempo com o menino, mas já havia percebido uma inteligência absurda nele.

Ela conseguia ter uma ideia da personalidade de cada um ali, mas o Conde ainda era uma incógnita. Ele era uma bagunça, isso já passara a ser um fato em sua mente, mas até mesmo grandes badernas tinham ao menos um pouquinho de lógica. O Conde não. Ele era provocador, tinha uma malícia que ia da satisfação até o cinismo e agia de forma nobre em situações difíceis. Mas algo não se encaixava.

Ele era inconstante.

Mahara imaginava que ele estaria de pé, dando ânimo ao grupo e dizendo que tudo ficaria bem, ou fazendo planos para salvar Doug. Porém, ele não estava fazendo nada daquilo.

Bruce estava sentado parecendo completamente sem rumo.

Era estranho ver aqueles olhos verdes tão espertos ficarem vazios e tristes. Ela já os vira assim antes quando falou de Wallace Sinclair, o único que morreu dos amigos do Conde.

Ao julgar pelo modo que ele olhou para as estrelas naquele dia, com um sorriso tão triste, ele ainda não havia superado a morte de Wallace.

Bruce não lidava bem com pessoas indo embora.

O Conde tinha um lado frágil afinal.

Antes que Cecília tivesse tempo de fazer outra pergunta, a porta se abriu com um estrondo, dois homens entraram com tanta força que a porta bateu na parede, fazendo um barulho alto o suficiente para fazer Andrew e Bruce se levantarem.

O Conde SequestradoOnde histórias criam vida. Descubra agora