Permissão para um recomeço

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Em seus trinta e um anos, Bruce nunca se casara e muito menos tivera filhos. O Conde já tinha visto o amor imensurável que Nathaniel e Ian tinham pelos filhos deles. Era como se visse o amor mais puro,forte, verdadeiro e humano acontecer diante de seus olhos. Apenas imaginar a dor de perder um filho o fazia estremecer dos pés à cabeça.

Era uma das dores que ele com certeza faria de tudo para evitar a todo custo, começando com: Não tendo filhos.

Infelizmente, o coração tinha a mania de criar laços fortes como veias sanguíneas, que se espalhavam por todo o seu corpo, conectados por sistemas de afeto e ligados por sentimentos que se desenvolviam como doenças que, sufocavam, faziam chorar, doíam e, por fim, levavam a óbito.

O maior pesadelo de alguém que teme o amor, é já amar alguém.

E era exatamente isso que Bruce sentia naquele momento.

Ele vira Doug nascer e crescer. Mesmo que ele não fosse seu filho, ele o amava como um. Por isso, não hesitou em correr assim que Andrew contou o que tinha acontecido com ele. Sua perna recentemente baleada teve que se contentar com o curto período de descanso durante a madrugada.

Andrew e Mahara vinham logo atrás. O duque gritava as direções para o Conde seguir.

As folhas ainda molhadas faziam uma chuva quando o conde se chocava contra elas, os sapatos e roupas se sujavam com uma mistura de água e lama.

Bruce ouvia a voz de Andrew e suas pernas apenas a seguiam obedientemente apesar da dor. O duque sabia que não adiantaria lhe impedir.

O conde avistou uma caverna e sequer esperou a confirmação de Andrew. Ele foi diretamente para ela.

Bruce parou.

Três passos para dentro da caverna eram necessários para ver Doug, Cecília e Dinesh.

A duquesa estava sentada no chão com o menino dormindo em seus braços. Ela levantou a cabeça assim que percebeu a presença de alguém na caverna. Bruce viu a boca dela se mexer, ela estava falando, mas ele não escutava. Seus olhos estavam presos no marquês.

Doug estava deitado no chão. Sua cabeça repousava sobre um travesseiro improvisado de pedaços de tecidos das roupas do duque e folhas. Seu rosto estava enfaixado por uma extensa tira do vestido de Cecília, de modo que apenas o nariz e a boca ficavam visíveis.

Bruce não conseguia dizer nada.

Um forte sentimento de raiva queimava todo o seu corpo naquele momento.

Sentia raiva de Richard.
Raiva dos invasores.
Raiva das malditas bombas e, principalmente, raiva do homem que tinha o machucado, mesmo que não soubesse quem ele era.

Sentia raiva até mesmo da pólvora e do fogo.

Com uma tempestade de sentimentos que destruía seu âmago, Bruce quis gritar e socar todas as árvores que visse pela frente.

Era como se tivessem machucado gravemente seu próprio filho.

- Você está tremendo... – Falou Andrew e segurou os ombros do amigo por trás – Nós fizemos tudo que podíamos... – Completou com a voz embargada.

- Ele é apenas um menino... – Não se surpreendeu quando sentiu os olhos queimarem e algumas lágrimas descerem pelo rosto – Por que não aconteceu comigo, Andrew? – Se virou para o amigo e também agarrou os ombros dele, desesperado por uma resposta – Por que?

Andrew deu mais um passo e o abraçou. Bruce afundou o rosto no ombro dele.

- Ele vai ficar bem... – Falou enquanto sentia as lágrimas do melhor amigo molharem o tecido de sua camisa.

O Conde SequestradoOnde histórias criam vida. Descubra agora