Labirinto negro

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Mahara aprendera desde cedo que a intuição poderia ser uma boa aliada, livrando-a de vários acidentes na vida. Por isso, não pensara duas vezes ao esconder a faca que lhe trouxeram junto a outros talheres quando a empregada deixara seu jantar no quarto.

Quando vieram buscar a bandeja e lhe questionaram sobre a faca, Mahara se transformara na mais experiente atriz e dissera que eles haviam se esquecido de adicioná-la ao resto dos talheres, estarrecidos pelo suposto erro, pediram mil perdões a "noiva do conde", e ela como uma senhorita bondosa, se compadecera pelos serviçais e dissera com uma doçura que suas cordas vocais desconheciam, que não havia problema.

Ela havia percebido quando alguém entrara em seu quarto. Mahara fingia dormir com uma maestria surreal, esperando que a pessoa se aproximasse o bastante.

O som de uma lâmina cortando a pele de alguém foi ouvido no quarto, mas não era Mahara a pessoa ferida. Em um instante o homem de cabelos castanhos estava com a faca pronta para acerta-la e no outro, um brilho veio rapidamente em sua direção, acertando-o no estômago.

Sem hesitação e sem piedade alguma.

Um golpe firme e certeiro.

As roupas de Mahara ficaram sujas pelo sangue dele que respingou com a força do golpe. Ela estava cobrindo a boca de Jonathan para que não gritasse e acordasse seu irmão enquanto a outra mão estava firme na faca enterrada no corpo dele.

Pelos olhos arregalados, Mahara entendeu que ele não esperava que ela fizesse aquilo. Jonathan perdeu a força nas pernas e pendeu para o chão. Ela agarrou sua camisa quando ele caiu de joelhos, mantendo-o sentado com a faca enfiada no estômago. A luz da lua que atravessava a janela iluminava o rosto dele, fazendo com que ele encarasse os olhos âmbar dela com mais clareza.

- Perdão, eu não queria ter que fazer isso, mas você não teria piedade de mim e eu estaria morta neste momento. - Sussurrou.

- Nós dois somos objetos nas mãos daqueles que nos compraram. Eu não queria, mas não teria hesitado em te matar. - Jonathan sussurrou de volta.

Ele estava a mando de Hathaway. Mahara conhecia perfeitamente aquela sensação. Ela já fora ferida várias vezes fazendo o mesmo.

- Eu estou livre agora. - Jonathan sussurrou e fez algo que Mahara pensou ser um sorriso - Fuja.

Mahara tirou a faca do corpo dele de uma vez, fazendo-o finalmente cair deitado, parecendo morrer aliviado. Ela encarou o corpo dele por um instante. Era aquele fim que muitas vezes ela achava que teria e algumas vezes chegou a desejá-lo, mas ali, vendo com seus próprios olhos, ela percebeu o quanto aquilo era triste e solitário.

Dinesh abriu os olhos e puxou o tecido da camisola da irmã levemente, chamando sua atenção. Mahara se virou rapidamente para ele, bloqueando sua visão do corpo no chão.

- Por que está acordada? - Perguntou sonolento.

- Porque eu... estou com muita vontade de brincar. - Sorriu - Você quer brincar comigo?

- Nós vamos brincar de pega-pega de novo?

Mahara ficou sem palavras. A memória da "brincadeira" do dia que fugiram da mina estava fresca na memória dele ainda.

- Sim, nós vamos. - Se aproximou e beijou a testa dele com carinho.

Dinesh não gostava daquela brincadeira, mas pela expressão da irmã, ele sentia que não tinha escolha.

- O que é isso? - Apontou para as manchas de sangue na roupa dela.

- Venha, a brincadeira já começou. - Mudou de assunto e o pegou no colo.

O Conde SequestradoOnde histórias criam vida. Descubra agora