Três foram os anos que ele se aguentou sem a sua âncora e submergido nos seus próprios demónios que não tiveram piedade alguma em afundá-lo num mar escuro. Agora que, por uma casualidade do destino, ela está de volta, Leonardo vai lutar pela mulher...
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- E estiveste esse tempo sem precisar de um advogado? - arqueio uma sobrancelha
- Eu prometi-te que não te daria muitos problemas.
- Pois... - murmuro
Afasto o meu olhar para me focar na sua mão sobre a minha. Os seus dedos compridos salpicados com uma tinta azul próxima à cor da noite e o relevo das suas veias.
Aclaro a garganta e isso é o que lhe basta para distanciar a sua mão da minha e soltar um largo suspiro nas minhas costas.
- Está a dormir - digo assim que espreito para dentro do quarto
Consigo finalmente expulsar todo o ar que se acumulou dentro de mim na última meia hora. Deve ser a primeira vez que entendo, por fim, a preocupação que a minha mãe tinha quando o eu ou o Mateus nos magoávamo-nos na escola, coisa que era mais comum no meu irmão visto que ele sempre foi um pouco mais rebelde do que eu. Bastante mais.
Aproximo-me um pouco mais da única cama iluminada por uma luz branca pouco intensa, e deixo um beijo no topo da sua cabeça, aproveitando para ver de perto a ferida coberta por pequenas fitas brancas no lado direito da testa até sentir a presença do Leonardo junto de mim.
Distancio-me um pouco da cama e observo-o enquanto deposita um beijo demorado nos cabelos do filho e, inevitavelmente, uma pequena curva escapa-se pelos meus lábios.
É uma sensação estranha ver um homem como ele, com sérias dificuldades em deixar-se levar pelas emoções, derreter, como se de um cubo de gelo perante um dia extremo de calor se tratasse, em frente de uma criança que até há umas semanas não era ninguém para ele.
Ele ama-o, mesmo que, para já, não o admita.
E como sei? Porque a maneira como o Leonardo olha para ele é a mesma que ele olhava para mim quando fazíamos amor.
- Ele é perfeito... - sussurro sentando-me numa das cadeiras junto da cama
- Estás a elogiar-me?
Comprimo os lábios para não deixar fugir um sorriso mas, infalivelmente, isso acaba por acontecer.
Uma vitória para ele.
Os seus lábios também se curvam acompanhados com um brilho nos olhos capaz de iluminar uma cidade inteira se fosse preciso.
- Vá lá, não o fizeste sozinho.
Puxa a cadeira que está no canto do quarto até ao outro lado da cama ficando de frente para mim.
