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Leonardo

O calor estende-se por cada canto do quarto. A claridade acompanha-o e a vontade de castigar os lençóis para me desviar dos raios certeiros arrasta-se com eles. Quero retorcer-me no conforto da cama e esconder a cabeça debaixo da almofada. Porém, com o corpo pegado ao meu, não faço mais do que esfregar os olhos, preparando-os para o embate inevitável com a luz.

Aos poucos começo a abrir os olhos, como se a lentidão com que desperto fosse evitar a dor impetuosa que dura uns segundos depois de conseguir encarar a claridade da manhã. Do outro lado da janela, as poucas folhas, que ainda se mantém agarradas às arvores despidas, balançam a um ritmo lento. Parece que se movimentam numa dança lenta e solitária. Uma visão que tem tudo para ser triste. Afinal, as manhãs de inverno são tudo menos agradáveis. São pintadas de uma cor sem essência, por vezes acompanhadas da melancolia da chuva ou do arrepio do vento. Mas com o aconchego do seu abraço tudo parece ganhar uma perspetiva diferente. Mais bonita, mais vivaz e muito mais fascinante.

As manhãs de inverno deixaram de ser um pretexto ao meu humor. Agora, são a desculpa perfeita para a comer a beijos numa luta exaustiva com os lençóis até o sol ganhar forças para nos aquecer a pele nua. O cinzento que adorna o céu passou de ser o alimento da minha tristeza a ser o argumento perfeito para nos fecharmos em casa com as crianças. Os dias em que nos vidros a chuva chora já não são um sinónimo de tristeza. Agora, são a ocasião perfeita para nos olharmos de pestanas molhadas no jardim de casa. De sentirmos a chuva mergulhar-nos os lábios quando, depois de olhar de soslaio para a janela do quarto das crianças e vê-las escondidas entre as cortinas a observar-nos, recordarmo-nos na sorte que nos abraçou. Da fortuna com que nos enriquecemos a cada dia. Do nosso amor, da família que construímos de dia para dia e da leveza com que tratamos os problemas que se atravessam à nossa frente.

Ela remexe-se nos meus braços, aquecendo-me o peito com a sua respiração. Com a mão que desaparece debaixo do seu pescoço, percorro a suavidade do seu cabelo. Com a outra, sinto cada subtil movimento do seu ventre. Seis semanas é tudo o que nos falta para nos completarmos.
Para encaixar a última peça do nosso puzzle.

- O teu coração ainda acelera – diz quase num sussurro contra o meu peito

- Era um mau sinal se não acelerasse – contraponho num tom de brincadeira e ela inclina o queixo na direção do meu, oferecendo-me um olhar de sabes muito bem do que falo. Aproveito a posição em que está e deposito-lhe um beijo na testa, enquanto os seus lábios arrastam-se desde a minha mandíbula até ao pescoço – Conseguiste dormir bem?

Encolhe os ombros.

- O teu filho gosta de utilizar a força quando me dá pontapés.

- Nosso. Nosso filho.

Puxo com delicadeza o braço que se esconde debaixo do seu corpo e coloco-me em cima dela, apoiando o peso do meu corpo nos braços. Os seus olhos estreitam-se em curiosidade e, ao ver que me coloco entre as suas pernas com a cabeça sobre a curva que a embeleza, um brilho rompe as suas ovais. Levanto-lhe a camisola do pijama, libertando a barriga e encosto os lábios à sua pele.

- Precisas de deixar a tua mãe dormir ou quem vai aturar o seu mau humor sou eu.

- Pensava que estavas disposto a fazê-lo.

Ergo a cabeça para poder olhar para ela.

- E estou. Todos os dias. Mas isso não significa que o nosso filho me possa sabotar a vida. Precisamos de remar os dois para o mesmo lado – uma curva dobra-lhe os lábios, antes de afundar os dedos no meu cabelo e massajar-me a nuca. Volto a concentrar-me na sua barriga, deixando-lhe um beijo demorado – Feliz Natal, filho.

𝑑𝑖𝑧-𝑚𝑒 𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑒 𝑎𝑚𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora