Capitulo Especial - A Maldição De Odin...

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Pamela estava deitada na rede da varanda da casa, exausta e com calos nos pés por ficar de botas o dia todo, ela apenas queria descansar seu corpo um pouco antes de recomeçar a rotina ou talvez não. Já está ali no sítio a alguns dias e já começou a se acostumar, não é de todo ruim, afinal. Claro, tirando algumas coisas como os mosquitos, o fedor de esterco e a pior parte  o maldito galo que sempre canta as 5 da manhã despertando todos  e se ninguém levantar tal horário, a mãe de Joice faz questão de ser o segundo despertador com suas panelas e a colher de pau. Pastor Felipe e sua mulher não negam que já estão cansados do lugar, no começo foi até agradável e interessante, mas já não veem a hora de ir embora, se não fossem os compromissos que assumiram com a igreja evangélica local, eles já teriam ido.

A brisa refrescante, o som do canto dos pássaros e a calmaria do vento batendo nas árvores é tudo que ela precisa para se permitir relaxar um pouco... Pois ultimamente não vem tendo uma boa noite de sono... Pesadelos a atormentam a dias e por algum motivo que ela não entende, Kauê sempre está neles de algum jeito... Ela não consegue entender isso, nunca foi de ter pesadelos assim tão constantemente, não, ela não sente medo algum, apenas está incomodada.

Pamela mandava mensagem para Kauê, queria saber se ele estava bem, pois sentia muita falta dele e o aniversário dele é daqui 2 dias... 16 aninhos, ela já havia preparado o texto que ia mandar como parabéns, pois infelizmente por causa da viagem  o vai poder ver ele em seu aniversário... Isso a deixa triste, mas no momento o que a perturba é sua irritação com o garoto de olhos alaranjados perfeitos, pois Kauê tem a péssima mania de só visualizar as mensagens no dia seguinte e olha lá... Ele mal atende o celular, Pamela se lembra de conseguir falar com ele a uma semana atrás, mas o sinal estava péssimo e ela nem conseguiu dizer nada... Aquele baixinho vai se entender com ela quando eles se virem em Setembro... Não por causa dela, sua viagem ao sítio de Joice já está terminando em 5 dias, mas Kauê só retorna para casa quando terminam as férias escolares nesse tal acampamento evangélico misterioso... Misterioso e exclusivo, pois ela não faz ideia de onde seja, Kauê nunca diz nada, nem mesmo a avó dele e pelo jeito não aceita qualquer um.

Só de lembrar de tal coisa ela bufou irritada, rolando as conversas que tem com Kauê desde que ambos pegaram os números um do outro. Eles se conhecem a mais ou menos uns 8 anos. Se conheceram em uma igreja, tipo: “jura", lá em Salvador nas aulas sobre a bíblia que a irmã Denise dava aos sábados para as crianças, Kauê era uma gracinha, o cabelo dele era grande e tinha uma franja perfeita, seus olhos alaranjados pareciam chamas vivas e seu sorriso tão meigo quanto de um bebê. Pamela se lembra bem que ela foi a primeira a falar com ele, pedindo um lápis emprestado, ele emprestou sem muita dificuldade. E começaram a conversar infantilmente, sábado após sábado eles viraram muito amigos. No começo a Avó de Kauê não parecia gostar da amizade, Pamela tinha a impressão que ela não gostava que ninguém se aproximasse de seu neto  e ela admite que tinha medo da velha, mas isso até Kauê a apresentar formalmente como filha do Pastor Felipe e aí a amizade entre os dois se desenrolou mais ainda. Um tempo depois, Kauê viajou de novo, ele disse que vivia viajando e nunca ficava em um ligar fixo por muito tempo por causa da rotina de sua avó. Pamela ficava triste com isso, mas entendia bem como era. O tempo foi passando e eles se reencontraram de novo várias vezes. A amizade dos dois era natural, ela era uma das poucas amizades que a avó de Kauê o deixava ter, então ele amava falar com ela. Isso até seus pais começarem a ver Kauê como seu futuro namorado e marido, isso quando ele tinha 13 anos... Algo recente. Pamela nunca havia pensado nisso, ela nem queria namorar, mas seus pais colocavam pressão nela. Sua mãe vivia dizendo que se casou cedo, com 17 anos e logo aprendeu a ser uma mulher de família como deve ser. Ela como filha deveria seguir os passos da mãe e ser um orgulho, dona de casa e ter filhos logo com 23 anos talvez.

Pamela nunca concordou com isso, ela não quer ser mãe tão jovem e não quer ser dona de casa de forma alguma. Seu sonho é fazer enfermagem, coisa que seus pais nunca a apoiaram muito bem.  Sua mãe sempre diz para ela que ela não vai precisar trabalhar se escolher um bom marido que a sustente e supre a casa, a única função dela seria servir a família, filhos e cuidar do lar. A garota nem perde mais o tempo dela ouvindo isso, já ouviu muito antes, não nega, mas depois daquele dia que Kauê se revelou para ela que ele é gay, é como se algo tivesse disparado na mente dela... Primeiro foi um choque, pois ela nunca imaginou isso, segundo, o pior foi ver Kauê  chorando... Ele dizia desesperado que não tinha culpa, que não é algo que ele tem controle, para ela não julga-lo... Claro que ela não fez isso, muito pelo contrário, ela o abraçou e disse que estava tudo bem. Depois dessa revelação a amizade deles se tornou algo muito fraternal e de certa forma isso melhorou muito mais a vida dela também, pois Kauê agora se sentia livre para falar com ela sobre tudo e ela também precisava disso. Pamela começou a se impor mais e a não precisar fazer tudo que seus pais querem e mandam, e até mesmo perdeu sua timidez. Começou a dar em cima dos garotos da escola e não esperar que eles viessem dar em cima dela. Ter atitude, virou seu lema, fez tatuagens, começou a trabalhar, mesmo sua família não gostando de nada disso, ela se sentiu feliz e Kauê a apoiou em tudo. Ele com certeza é seu melhor amigo! Isso mesmo, ela percebeu que nunxa esteve apaixonada por ele de fato, aquilo foi apenas pressão de seus pais, um surto, claro, ela lembra que já beijou ele... Várias vezes quando eles viajaram juntos e ele parecia ter gostado, mas... Aquilo não foi real, nenhum dos dois de fato queriam tal coisa e acharam melhor esquecer isso, bom, pelo menos ela esquece até Kauê começar a se humilhar, falando que nenhum garoto vai querer ficar com ele.  Aí lembrou ele que ele beija super bem e que seus lábios tem um gosto salgado de amendoim torrado viciante, isso sempre o deixa vermelho de vergonha, e ela ama isso.  No geral as conversas deles são sempre sobre suas vidas, o que querem ser, o que planejam? Como foi o dia, qual o garoto mais gato da escola, e até já chegaram a trocar fotos íntimas, mas não deles, de outras pessoas, tipo, os garotos que dão em cima da Pamela mandam fotos de suas partes íntimas e ela as compartilha com Kauê para ele avaliar as minhocas dos adolescentes, as notas dele são as mais engraçadas possíveis, pois ele as faz com diversos emojis misturados e figurinhas diversas. Ela morre de rir. Talvez seja errado fazer isso, receber fotos desses garotos e compartilhar com Kauê, mas meio que quase todo mundo faz isso, quase mais ninguém é santinho hoje em dia e ela só compartilha com ele e depois apaga, ela até mesmo comentou com ele uma vez que ia amar receber uma foto íntima da cobrona do Rafael, Kauê havia engasgado com a paçoca que estava comendo naquele momento e ficou bem tenso e corado, dizendo que isso não iria acontecer e se acaso ela conseguisse, para não compartilhar com ele de forma alguma... Ela não entendeu muito bem, mas encerrou a conversa, pois ela de fato nunca iria conseguir tal foto, Rafael é cego, não tem celular e não adiantaria pensar nisso, enfim, essa é sua relação com Kauê, sem dizer que eles passam horas falando mal das pessoas que odeiam. Mas apesar de tudo isso, Pamela sente que algo está diferente em Kauê, ela não sabe dizer o quê, tem vezes que fica muito desanimado, triste e nunca diz a razão... Ela já perguntou a Victor sobre isso e Victor apenas diz que Kauê esta bem, só com a mente cheia... Que todos eles estão. A filha do Pastor Felipe não entendeu muito bem, mas viu que não adiantava insistir, pois Victor não iria falar muito. Eles tem muitos segredos que ela não entende... O que será que diabos acontece nesse suposto acampamento Evangélico? Pois ele é a causa de Kauê praticamente a ignorar um mês inteiro. Tá, talvez seja drama, ela sempre o vê na escola, mas quando se acostuma a ver uma pessoa todo dia, isso se torna uma rotina e quando não vê tal pessoa parece que o dia não foi completo, não que seja algo grave, mas ela se preocupa. Por isso esta neste momento tentando falar com ele sem sucesso...

-Quando eu te ver de novo Kauê, vou enfiar seu celular em um lugar que você vai penar para tirar! – bufou ela desistindo depois de enviar áudios, vídeos e mensagens enormes.

Ela virá a mãe de Joice se aproximando, vestida com um vestido simples de bolinhas como se estivesse indo a uma missa e até mesmo estava com seu cabelo penteado.

-Pamela, querida, quer ir a cidade conosco? – perguntou ela. – Não vamos demorar, só irei ver um vestido para a Joice para o batizado da priminha dela e como meu marido e seus pais não estão aqui, não acho certo te deixar sozinha.

A filha do Pastor Felipe viu Joice na parte de trás Picape a esperando e fazendo um sinal a chamando. Ela não estava muito afim de ir, na verdade estava quase pegando no sono ali com toda está paz e o melhor sem os malas de seus pais, pois eles haviam saído desde cedinho para a cidade e até agora quase no almoço não voltaram.

-Não tenho problema em ficar sozinha, meus pais sempre me deixam em casa – respondeu ela mostrando claramente que não queria ir e sair de seu conforto, mas o olhar da mãe de Joice se tornou um misto de gentileza e severidade em poucos segundos.

-É sério, não posso te deixar sozinha aqui, venha conosco. Uma garota da região, do sítio vizinho desapareceu ontem a noite, não é bom ficar aqui sem um adulto, venha, vai ser rápido – insistiu ela... Pamela viu que ela não ia desistir e que seus olhos carregavam muita preocupação.

-Tudo bem, vamos... – respondeu ela se dando por e arrancando um sorriso satisfatório dos lábios um tanto secos da mãe de Joice.

A mãe de Joice trancou a casa toda e soltou os cachorros, eles são enormes, se algum louco suicida tentar entrar aqui para roubar vai ter sérios problemas, mordidas e falta de membros.
Pamela subiu atrás da Picape junto de sua amiga e a barbeira dela deu partida no carro, fazendo as duas pularem lá atrás por causa do solo terrível para se dirigir com um carro.

-Estão bem aí? – perguntou a dona da casa.

-Faz de novo! – exclamou Joice rindo.

-Tá, hahaha se segurem meninas, vou ir pela estrada de terra que é mais rápida para chegar a cidade – anunciou ela ligando o rádio e colocando uma música sertaneja antiga. Aquele som era uma ofensa aos ouvidos funkeiros de Pamela, mas ela não se importou muito com isso, nada era pior que as músicas evangélicas de sua mãe todo santo dia.

Pamela se concentrou na vista, tudo tão verde... Grama, Cana-de-açúcar, árvores, animais pastando, outras casas da região... Ela poderia realmente se acostumar ao ligar se não tivesse tanta coisa para fazer. Ela então observou que Joice comida uma barra de e chocolate se um jeito um tanto nervoso e se ela conhece bem a sua amiga, ela só pode estar desse jeito por 3 motivos...

A) Ou ela tá de TPM
B) Ou ela está com fome
C) Ou tem um garoto no meio de seus pensamentos.
D) Ou então ela está preocupada com o que houve com a garota que desapareceu, pois Joice é uma bundona medrosa, isso ela própria admite sem muita cerimônia.

-O que foi? – perguntou Pamela. – O chocolate está implorando para ter um final feliz.

-Ah... Amiga, eu estou uma pilha de nervos... Essa garota que sumiu, ela era minha amiga... Era pois a gente não conversa mais, mas mesmo assim... O que será que houve com ela? Tipo, sumir assim do nada no meio da noite? – perguntou ela.

- Não sumiu do meio da noite, filha, o vizinho veio falar com seu pai enquanto vocês se arrumavam para tomar café da manhã. A garota saiu 22 horas de casa para soltar os cachorros que seus pais haviam esquecido, tipo, ela apenas ficou 3 metros da porta de sua casa e sumiu... a notícia já se espalhou pelo rádio, alguns estão dizendo que ela foi levada por extraterrestres, outros pela Cuca ou Homem do saco e outros estão falando que talvez os indígenas e quilombolas locais tenham algo haver com isso. 

-Por que estão desconfiando dos Indígenas e dos Quilombolas? – questionou Pamela.
- Bom, tudo que sei é que a maioria comenta, eles apareceram do nada já região a muito tempo, mas não existe qualquer indício ou registro de alguma aldeia por aqui, falo isso, pois cresci aqui a vida toda e nunca vi nada a respeito, se não tem aldeia, tribo ou quilombo, seja lá como se chamam, como e por que eles estão aqui? Vez o outra sempre vejo um deles em meio ao mato perto de nossa fazenda.

Isso é verdade, Pamela não pode negar, pois ia os viu também, mas o que será que eles querem? Será que estão planejando fazer alguma coisa? Mal sabem elas que estes são semideuses de Eldorado e do Quilombo Divino atrás do Chupa Cabra que está atacando sem parar os fazendeiros de uma região mais longe, atacando para matar mesmo... 

-Por proteção o Papai até mesmo pegou a velha espingarda do vovô e dorme com ela caso precise – comentou Joice.

-Você acha que foram eles? – perguntou Pamela para a mãe de Joice.

-Eu não sei, querida... Realmente é estranho, mas sem provas não se pode culpa-los. Pode ser qualquer coisa até mesmo algo sobrenatural. A Cuca vivia pegando crianças aqui quando eu era pequena... – disse a Mãe de Joice um tanto trêmula e com as mãos suando em meio ao volante...

Pamela entortou o nariz, ela não acredita nessas coisas de criaturas folclóricas, mas não julga quem acredita, afinal cada um crê no que quer.

-Não acho que tenha sido a Cuca ou algo do tipo Mãe, por favor né... – disse Joice um tanto envergonhada, ela acredita nas lendas de sua mãe é inclusive morre de medo, apesar de nunca ter visto nada, porém se sente constrangida quando sua mãe fala delas para outras pessoas.

-Estou falando sério filha, por isso não quero mais você até tarde fora de casa – sua mãe disse em um tão bem severo. – Sei que gosta de fica e vendo as estrelas à noite, mas acho melhor parar.

-Ah mãe! Só hoje! Por favor, hoje vai passar aquela estrela cadente que sempre passa toda semana... Vai, eu quero mostrar ela para a Pamela, vai ser rápido... – disse Joice teimosa e desgostosa com a decisão de sua mãe. – Por favor...

-Tá, mas sejam rápidas, meninas. Agora chega desse assunto, estamos indo na loja do Sr. Carlos, filha, sabe o que isso significa? – sorriu sua mãe ansiosa.

-Ah mãe para! – ela ficou vermelha.

-Haha, o Raimundo tá com saudade.

-Quem é Raimundo? – sorriu Pamela curiosa para sua amiga que mudou totalmente de postura.

-O filho do dono da loja, um garoto metido a peão que gosta da nossa querida Joice, ele até chama ela de Repolhinho, ele é uma graça e muito bonito com sardinhas no rosto, a Joice se derrete toda – riu a mãe dela.

-MÃE! – exclamou Joice.

-Tá ok, calma Repolhinho – ria Pamela. – Agora sim vai ser divertido ir nessa loja haha.

...

Ágata estava entretida no google junto de Bruno, Alexia e Kauã. O que eles procuravam? Encrenca, e com certeza logo iriam encontrar. A Oca de Rudá em companhia da Oca de Yushã ficaram com a tarefa e a missão de produzirem as fantasias perfeitas para os semideuses que não tiveram forma ou jeito de comprarem ou fazerem as suas, ou nas palavras de Iracema: Os pobres que não conseguiram achar um paninho para se vestir, podem pedir ajuda como sempre a Grandiosa Oca de Rudá para escolher a fantasia perfeita para vocês e a Oca de Yushã com seus feitiços, irá transformar suas roupas na fantasia desejada. Claro que a Iracema comprou a fantasia dela, fez questão de importar o exterior, pois segundo ela, sua mãe tem dinheiro de sobra para jogar pela janela... Pois é, sorte a dela. Iracema fez questão de guardar a sete chaves o segredo de sua fantasia, ninguém sabe quem ela será e francamente para a maioria dos semideuses quem tem um pouco de cérebro, isso realmente não é importante para suas vidas, porém, impossível era alguns de seus irmãos não se indignaram com a arrogância de sua líder que a cada dia prova que é uma super vaca mutante com múltiplas tetas e chifres.

Os quatro amigos procuravam fantasias para seus amigos, mais conhecido por todos como a panelinha ou bando do Yancy, pois todos são semideuses de pais e mães diferentes, mas sempre se sentam junto de Yancy na mesa de Tupã. Ele é estavam bem ocupados, conversando sobre qual fantasia eles já sabem que precisam tornar realidade.

Ágata procurava no computador em cima da cama, Bruno estava flutuando procurando no celular e Kauã e Alexia fazendo desenhos, eles estavam na Oca de Yancy. Não existem muitos lugares onde se pode ficar a vontade em Eldorado, pois as Ocas estão sempre cheias, salvo a de Yancy, Kauê e de Daniel. Só que a de Daniel e Kauê estão ocupadas no momento, a Boiuna está dormindo e roncando como se fosse devorar alguém ao acordar e Daniel está com Tadayuki e Honorato em sua Oca... Os três estavam muito misteriosos essa manhã após o café. Alexia não entendeu muito bem, mas parece que Tadayuki encontrou umas coisas no arsenal, coisas bem antigas mesmo que pareciam estar escondidas em meio às armas velhas enquanto ele organizava tudo, pois agora cada dia da semana, uma Oca é responsável pela limpeza do arsenal e dessa vez a Xandoré foi encobida,  só que como muitos irmãos do Raoni tem certas regalias com ele, sobrou para Tadayuki que não tem muito amor pelo novo Cacique.

Mesmo que Raoni tenha até mesmo elogiado ele nas aulas de arte marcial que ele havia começado a ensinar aos demais semideuses 1 semana atrás. Até que não era tão difícil. Não sendo novidade nenhuma, Yancy foi o que mais se saiu bem, enfrentando Tadayuki em pé de igualdade. Kauê foi até bem, Tadayuki o ensinou a dar mortais, o garoto vez ou outra caia, mas é caindo e achatando a bunda que se aprende. O Filho de Xandoré estava amando ensinar a eles tudo que seu pai mortal lhe ensinou sobre lutar e como transformar o corpo em uma arma mortal. Evelyn assim como Yancy também logo havia pegado o jeito, a garota parecia uma pantera ninja com sua agilidade e destreza nos movimentos, ela acabou chutando as bolas de William quando Os dois se enfrentaram... Kauê, Daniel, John e Açaí formaram a quadrilha das Hienas de tanto rir. Tadayuki precisou falar com seu pai sobre tudo isso e o filho do Deus da Morte japonês ficou feliz e disse que um dia antes do aniversário surpresa de Kauê que seria depois de amanhã,  ele gostaria que Tadayuki fosse para casa, pois ele tinha uma surpresa para ele. Tadayuki perguntou o que era, mas seu pai se negou a falar. O rapaz começou a pensar em milhares de coisas, acabou contando isso a Kauê e até mesmo o chamou para ir com ele nesse dia para sua casa. Kauê aceitou sem demora.

Voltando a Oca de Yancy, os filhos de Rudá e Yushã estavam ali uma hora mais ou menos. Yancy havia saído com Kauê para algum lugar e gritou que eles poderiam usar a Oca dele. Eles ficaram surpresos de como a Oca de Yancy é limpa e organizada, o chão não tem poeira, as roupas dele estão todas dobradas e guardadas certinho. Alexia comentou que nem mesmo a sua Oca de Rudá onde a perfeição é estampada como meio de vida a Oca não é assim tão perfeitinha. Kauã por ser um pouco curioso, começou a mexer em algumas coisas, ele nunca esteve ali e a curiosidade falou mais alto. Yancy tem uma cruz na cabeceira da cama... Uma que Kauê deu a ele a um tempo... E também haviam diversos projetos de criar novas Eldorado nas outras regiões, mas quando Raoni assumiu o comando, ele decretou que isso seria besteira e que poder deve ser centrado na Amazônia, sendo apoiado por Danzo que chamou Yagura de velho gaga por ter tal ideia. Kauã começou a mexer no perfume de Yancy, que Iracema havia dado a ele de presente de aniversário. Kauã teve que admitir, a vaca de bom olfato e gosto,  pois escolheu um ótimo com uma fragrância forte, imponente e refrescante, características de um filho de Tupã, Kauã se perguntou como diabos Kauê aguenta não agarrar Yancy de uma vez? O Filho de Rudá até mesmo quase deu uma borrifada em si mesmo se Alexia não o tivesse impedido.

-Kauã, para de mexer nas coisas do Yancy! E volta aqui que temos muito o que fazer – disse ela com uma voz quase autoritária é Kauã a obedeceu sorrindo. - Daniel disse que vai a festa de Padre, eu realmente amo esse garoto, bem original a ideia – sorriu Alexia amarrando seu cabelo em um rabo de cavalo e ajeitando seus óculos.

-Padre? Haha, por essa eu não esperava e olha já que ouvi muitas ideias – sorriu Bruno perto de Ágata. Ele já se sentia melhor, saiu da enfermaria logo após o almoço e já começou a fazer suas atividades. John foi descansar um pouco em sua Oca e teve total apoio do mesmo, ele merece... – Johnzinho disse que não quer ir, ele não é muito festeiro, pensei que Daniel fosse assim também, como convenceu ele a ir?

- Eu fui obrigada a usar um pouco de meus poderes de filha de Rudá sobre ele, não nego – Alexia fez uma careta um pouco culposa. – Funcionou mais como uma ameaça na verdade, poxa, Daniel só fica na Oca dele meditando, treinando, desenhando. Nunca faz nada fora da rotina, as vezes faz bem fazer algo diferente para variar. Ele não vai morrer por dançar comigo uma noite.

- Não, não vai, hahaha, mas não tenho seus poderes para convencer meu chocolatinho a ir, tudo bem se ele não quiser ir, eu vou de qualquer forma – sorriu Bruno. – EU falei para ele assim: “ João Victor Da Silva, eu arrisquei minha vida por você e acabei com meu tanquinho perfeito  e é assim que me agradece".

-Me deixe adivinhar haha – riu Kauã. – Ele respondeu que você só tem banha e que isso não é desculpa para forçar ele a fazer o que não quer, pois ele não te obrigou a pular na frente da lança.

-Foi exatamente isso – riu Bruno. – Como sabe?

- Eu sempre vejo a forma que vocês dois tratam um ao outro, parecem que vivem de provocação e como filho do Deus do amor, acabo tendo uma visão privilegiada da relação de vocês. Sinto que ele vai acabar indo na festa.

-Hum... Sei não, nem irei insistir – respondeu Bruno.

-É só você dizer que o William vai na festa e que vai dançar com ele, John vai se fantasiar e no mesmo segundo - riu Alexia um pouco maldosa.

Bruno sorriu em escárnio...

- Isso antes ou depois dele arrancar meu pinto fora com a foice dele?

Ágata que até o momento estava quieta pesquisando, deu uma gostosa risada e isso deixou seu irmão feliz.

-Acha mesmo que ele vai arrancar do brinquedo favorito dele fora? – riu Kauã. – Relaxe, Bruno, faça o que você disse, se ele não quer ir, paciência. Namorados não precisam fazer tudo juntos.

-Robert e eu fazíamos tudo juntos... – comentou Ágata e os três olharam para ela... Ela havia dado um leve sorriso se lembrando dos momentos com ele, mas logo seu sorriso sumiu como uma pequena brisa...

-Tudo mesmo, até neném – disse Alexia sem maldade na voz ou provocação, elas apenas foi no embalo.

Se as suas perdoaram pelo confronto que tiveram? Talvez. Alexia deu um tapa na cara de Ágata quando a mesma começou a surtar e a se vitimizar por ter engravidado, Alexia era uma das poucas que sabiam que Ágata e Robert tinham relações sexuais muitas vezes sem proteção como a camisinha e deu no que deu. Eles usavam as vezes? Sim, mas bem raramente. Então a filha do Deus do amor não conseguiu se segurar ao ver Ágata se descabelado daquele jeito.

Bruno e Kauã arregalaram os olhos para ela.

- Não que isso tenha sido algo de todo mal – completou ela. – Você sente falta dele, não é? Eu sou filha de Rudá, não adianta tentar mentir.

Ágata não sabia se falava ou não, era como se Alexia tivesse lhe dado outro tapa no focinho... No entanto, ela não sente nenhuma intenção agressiva dela, nem mesmo sentiu quando ela lhe deu o tapa meses atrás... Alexia só quer ajudar, da forma cavala dela, mas só quer ajudar...

-Se eu falar que sim, talvez eu esteja sendo irracional e se falar que não, talvez esteja me enganando... Eu amei ele e agora aqui carregando esse pequeno ser que é parte dele todo dia, me faz pensar muito nele... Não consigo evitar, não que eu tenha perdoado ele por tudo, o que rendeu é irreparável, mas... – ela levou a mão a barriga. – Me desculpem, vocês estavam com uma conversa tão boa e eu a estraguei.

-Que isso maninha, sem problemas, entendo que está sensível, faz parte, pode falar o que quiser e quando quiser – sorriu Bruno indo até si e a confortando em seu abraço. – Quer saber uma novidade? Eu juro que esqueci de te falar com tudo o que houve e a correria...  É sobre o Pijima, nosso irmão.

-O que houve com ele?! – exclamou ela.

-Calma haha, nada, ele só me enviou uma mensagem através de um feitiço astral dizendo que vai vir aqui em Eldorado para te ver, ele está preocupado... Eu sei o que vai dizer, que ele foi expulso, se o pegarem, ele vai ser preso ou morto na certa, eu disse que você estava bem, mas mesmo assim ele quer vir te ver. Falei na possibilidade de eu levar você para fora da barreira, mas ele disse é arriscado demais na sua condição e teimou que vai vir – respondeu Bruno por fim. – Ele vai usar a festa fantasia como distração.

Ágata pensou por alguns segundos e apertou a barra de seu uniforme com força... Desde de tudo que houve, a presença de Pijima sempre foi a melhor coisa que lhe aconteceu... Ele cuidou dela... Não que seus outros meio irmãos não tenham feito algo, claro, apenas Bruno e Rosy, mas... Pijima foi a diferença principal, pois ele sim a conhece como ninguém.

-Se ele vai vir, temos que nos preparar para a chegada dele, ele é um semideus, passar pela barreira não é um problema, mas e os guardas do Raoni? – questionou Alexia.

- Ele é filho de Yushã, não pode simplesmente se teleportar aqui ou ficar invisível ou talvez se transformar em um papagaio ou outro animal? – perguntou Kauã.

- Não, a barreira impede isso, Kauã, qualquer semideus, ao passar por ela você volta ao normal ou não consegue se teleportar, salvo o Yancy, ele é o único que pode fazer isso, talvez, Yagura tenha dado carta branca para ele quando os dois treinavam juntos e ficou até hoje – respondeu Bruno. – Isso o Yancy, por que não pedidos a ajuda dele? Ele vai lá pega o Pijima é volta.

- Não acho uma boa, Daniel me disse que por estar divido os poderes de Yancy estão instáveis... Para vir da casa do Kauê, ele acabou parando onde em tese não deveria. Vai que ele teleporta o Pijima é BAN! Os dois acabam no colo do Raoni – respondeu Alexia fazendo encenação com as mãos.

- Credo, que delícia... Quero dizer que horrível seria  - Kauã se corrigiu rapidamente arrancando um risinho de Bruno.

-Tem que ter outro jeito... – Bruno começou a pensar.

- Bom, acho que Kauã e eu podemos lidar com os guardas, a grande maioria dos filhos de Xandoré caí fácil em nossos poderes – respondeu Alexia.

-Caem mesmo, nossa e esse mês  tem cada peixão... Não se assustem se eu aparecer na festa com 3 ou 4 companheiros – riu Kauã.

-De você não espero menos que 7, irmãozinho – Alexia socou seu ombro. – Mas eles não podem sair de sua posições, Raoni ia dar PIT. Só vamos distrair eles e enquanto isso, Bruno ajuda Pijima a entrar.

-Beleza então haha – sorriu Bruno.

-Obrigada gente... – comentou Ágata. – Vocês são 10...

-10 não mamacita do ano, 100 hahaha, agora me deixa ver o as roupas que você arranjou para o Kauê – sorriu Alexia.

Ágata mostrou no notebook para ela.
-Hehehe, Kauê vai ficar uma graça de “Wiccano”, combina com ele até – Alexia começou a desenhar, estilo e moda é com os filhos de Rudá mesmo. – A Marvel que nos processe! Pois muitos vão ir de super heróis. Perfeito, agora só falta algo para os dois Yancys...

- Eu estava pensando em algo mais ousado para o Kauê, Hehehe e se ele for fantasiado como o pai dele? – questionou Kauã.

Todos olharam para ele um pouco surpresos com a ideia... Realmente é uma ideia ousada e arriscada...

-Supondo que isso pudesse acontecer, como ele iria se nunca viu o pai dele? – perguntou Bruno.

- Só usar o Google, tem várias imagens dos deuses nele, imagens desenhadas ou pintadas como outras pessoas os imaginavam, o pai de Kauê sempre é um indígena bem musculoso com pele branca cinzenta e com pinturas em vermelho por todo o corpo, sem dizer que seus cabelos são brancos, quase prateados – respondeu Alexia.

- Não sei se isso seria uma boa, Kauê já sofre o bastante, se ele fizer isso, vai ser expulso a ponta pés da festa, tenho certeza disso...  – alertou Bruno.

-E se a gente for fantasiado como nossos pais também? – indagou Ágata.  – Ai ninguém ia poder dizer nada.

-É uma boa! Haha – sorriu Alexia. – Kauã vai ficar perfeito como o papai, exibido igual.

-Ei! Eu tenho culpa se eu roubo o brilho do sol, da lua e das estrelas? Não – sorriu ele.

- Eu vou como a mamãe então,  a não ser que você queira ir, Bruno – sorriu Agata.

-Seria interessante, a mamãe tem uns peitões e curvas, mas pode se fantasiar dela, eu vou de outra que ainda não pensei haha, mas primeiro vocês precisam falar com o Kauê sobre isso, não é? – questionou Bruno. – Que horas ele volta do rolé com o Yancy?

- Só os deuses sabem, meu amigo, só os deuses sabem, bom, de qualquer forma vamos pensar nos outros, vamos deixar eles para depois, vamos ao trabalho – respondeu Alexia por fim.

...

Evelyn se sentia detonada, estressada e acabada, não exatamente nessa ordem. Por ela ser uma semideusa de Elite, o Curupira pediu para ela dar umas aulas em seu lugar enquanto ele se ocupada, hoje era o dia se ensinar os semideuses mais jovens, crianças entre 7 e 10 anos sobre como é importante se concentrar nos sentidos, pois isso sempre, sempre salva a vida de qualquer semideus em qualquer situação.  Evelyn reclamou,  dizendo que Yancy ser a melhor nisso, além dele ter mais paciência, as crianças adoram ele. Ela já viu ele correndo com elas para cima e para baixo rindo sem parar. Açaí a estava ajudando, ao menos tentando e até mesmo Liza se pôs a disposição para ajudar, mas a safadinha filha de Sumé só está fazendo isso para escapar do treino de levantamento de peso com a Comadre Fulozinha.

Os três estão sentados perante as 40 crianças, uma sala de aula! A grande maioria indígenas, outros brancos, negros e multados. Havia 5 de Guaraci, 6 de Jaci, 4 de Iara, 6 de Polo, 5 de Rudá , 4 de Angra. 4 de Xandoré , 3 de Sumé e 3 de Sumá. No começo parecia ser uma tarefa fácil, mas... logo eles perceberam que não... Como diabos Yancy controla essa molecada? O único de verdade que estava tentando era o Caio, o garoto cego, filho de Guaraci. A maioria da crianças estava com cara de tédio e não apreciam estar nenhum pouco focadas em nada...

-Sintam a energia da natureza ao redor de vocês... – tornou a dizer Evelyn. – Se concentrem nela ao seu redor e aí seus sentidos vão se prolongar.

- Eu estou sentindo algo tia Onça... Acho que... BUM – um filho de Xandoré peidou em meio a todos arrancando risadas de alguns e a provocando raiva em outros.

-Samuel! – Evelyn rosnou igual uma onça.

-Desculpa tia, não dá para segurar quando vem hehe – riu ele.

-Claro que dá seu porco! – uma filha de Polo lançou vento contra ele.

-Ora sua feia, não faz isso com meu namorado! – exclamou uma filha de Iara de sete anos partindo para cima da filha de Polo.

-Gente! – gritou Evelyn de novo.

-Namorado? Com 7 anos e eu aqui mais seca que o Rio São Francisco? – comentou Liza.

Um filho de Angra jogou uma bola de fogo em cima do filho de Xandoré, mas Caio estava na mira de fogo, o garoto apenas abaixou a cabeça e deixou que a bola seguisse seu caminho. Isso chamou a atenção de Açaí.

-Esse pelo menos é o único interessado – sorriu ele.

Logo as criança começaram a se atacar sem parar, umas com poderes e outras no braço mesmo...

-Acho que eles precisam de um tipo de psicologia infantil, no Mato os filhos que não obedecem as mães sempre apanham ou levam mordidas ou então a mãe deixa para morrer mesmo – respondeu Açaí tão natural como a luz do dia.

-Hã... Acho que não podemos fazer assim – riu Liza. – Elas só precisam se desestressar...

-Se desestressar?! Eu vou acabar com isso agora! – anunciou Evelyn. Ela entrou no meio da briga para separar eles, mas foi atingida por uma bola de fogo e isso a fez perder a paciência fazendo aparecer suas garras.

Açaí a segurou no mesmo instante.

-Eve, calma – pediu ele, mas aí ele foi atingido...

-QUEM ACERTAR O FILHO DO CABRITÃO DO MATO É O MELHOR! – gritou o mesmo filho de Xandoré que peidou.


–COMO É?!  AH MAS EU MATO VOCÊS SUAS PESTES! – gritou Açaí virando uma Onça.

Caio saiu em meio a confusão e sentou ao lado de Liza.

-MAS O QUÊ ESTA HAVENDO AQUI?! – berrou o Curupira,  graças a Tupã.

Todos pararam no mesmo momento.

-Sr. Curu... – disseram todas as crianças engolindo em seco. Agora a calça apertou, molecada,  o diretor chegou!

O velho Curupira olhou para todos, viu os olhos de Evelyn e eles pediam Socorro, normalmente ele daria uma bela risada da situação, mas desta vez não pode rir... Liza notou uma certa tensão vindo dele...

-Curupira! Eles começaram a brigar e aí... – Evelyn começou a dizer, mas o Curupira balançou a cabeça.

-Tudo bem, crianças, estão dispensadas por agora, podem ir, mas depois vamos ter uma conversa séria sobre seu comportamento... – disse ele bem rápido e pensativo...

As crianças gritaram juntas um AEEE! E saíram correndo, menos Caio que respeitosamente fez uma referência ao Curupira e agradeceu Evelyn, Açaí e Liza pela aula e saiu andando.

-Pirralhada mal educada... Por isso não tenho filhos – comentou Açaí voltando ao normal.

-Hehehe, vocês precisam ter mais paciência, eu cuido de filhos de deuses a mais de 3000 mil anos, peguei prática – sorriu o Curupira, mas seu olhar vacilou. – Obrigado por cuidarem deles e por tentarem dar aula, me desculpe, mas tive que resolver algo urgente...

-Urgente demais, pois você está tenso, Curupira, o quê houve? – perguntou Liza.

-Perspicaz como sempre, querida Liza... Uma forte característica de seu pai... – suspirou ele. – Isso não é algo que eu possa falar aqui, venham comigo para perto das árvores frutíferas... Cedo ou tarde vai vir a tona a notícia.

Eles se aproximaram das enormes árvores carregadas de frutas, apenas macacos, pássaros e outros animais estavam ali comendo ou aproveitando a sombra. Açaí sentiu uma enorme conta de se juntar a eles, mas se conteve para querer saber o que o Curupira iria dizer e pela cara dele, já da para sentir que uma bomba viria.

- Vocês são uns dos poucos que sabem que eu mantenho contato com o Quilombo Divino para termos cooperação, mesmo sem autorização do Cacique, certo? – perguntou ele.

-Sim, sabemos disso – respondeu Liza.

-Francamente ainda acho um absurdo isso, Raoni é um merda imbecil... – rosnou Evelyn.

-Então... Agora mesmo que tive que me ausentar, recebi uma mensagem do Chefe Zumbi deles... Alguns de seus semideuses e pessoas de uma pequena cidade ao norte de Santa Catarina foram transformados em Pedra...

-Pedra? Pedra mesmo? – perguntou Açaí.

-Sim, pedra – respondeu o Curupira. – O Líder Zumbi disse que os relatórios das guarnições disseram ter visto o Mascarado por perto quando as transformações aconteceram, mas não foi ele que os causou.

-Robert... – Evelyn liberou suas garras em raiva. – É ele! Só pode ser ele.

-Tudo indica que sim, mas... De que forma? – o Curupira tirou um Iphone 13 do bolso fazendo Luz arregalar os olhos... – O quê? Eu também estou antenado a tecnologia de vocês hoje em dia. Semideuses do Quilombo pegaram uma gravação de uma mulher que virou pedra antes dela se transformar... Olhem... Eu não vi nada...
O Curupira mostrou o vídeo para eles, a mulher estava correndo... E no fundo havia um som rastejante meio abafado... Depois de correr muito a mulher deu um grito e uma sombra com vários tipos de fios passou na frente do celular e ele desligou deixando o som da mulher se petrificando como seu último ato...

- Como podem ver, não tem nada... – respondeu o Curupira.

-Espera... – Liza pegou o celular do Curupira sem pedir, atrevida é seu sobrenome, ela voltou o vídeo a poucos segundos e congelou a imagem a aproximando bem, parando na sombra com os fios... – Esses fios não parecem cabeça de cobra? Olhem bem...
Eles prestaram bem atenção e até que se parecem... Isso quer dizer que... o Curupira até mesmo perdeu a voz.

-Pela bunda peluda do Tamanduá! A Medusa! – soltou Açaí. – Mas como?!

...

Cuca estava um tanto impaciente, meses e mais meses e nada sobre o paradeiro de Robert... Isso a deixava nos nervos... Mesmo com seus aliados espalhados mantendo vigilância, até o momento nada, a única pista que tem de uma ação deles, é o que o Boto-cor-de-rosa fez no shopping atacando o filho de Tupã, fora isso, mais nenhuma pista... Isso é preocupante demais, a cada dia ela sabe que ele consegue mais aliados, muitas criaturas folclóricas caíram e suas promessas e se por acaso ele der um passo, Eldorado não vai conseguir dete-lo... Os semideuses serão destruídos. Antigamente a Cuca sabe que ficaria feliz se algo assim acontecesse, nunca sofreu de amor por humanos e semideuses em sua maioria, mas... Agora as coisas são diferentes... Não que ela se importe muito com eles, mas aprendeu a admirar alguns e em nome destes, talvez ajudar a salvar todos seja o ideal.

De volta a sua caverna, levando Mimir e Rohan juntos, Cuca o ajudava como podia para desenvolver o contra feitiço para fazer Yancy voltar ao normal, eles até o momento estava tendo sucesso, mas tiveram que fazer uma viagem até o que sobrou das raízes da própria Yggdrasil para ter os ingredientes... Seja quem for o Mascarado, ele é um semideus muito poderoso para conseguir fazer tal feitiço...

Rohan, filho de Hel, se sentia um pouco estranho e nostálgico em estar no Brasil depois de tantos e tantos anos... As lembranças das criaturas, dos Campos verdes e florestas sempre ficaram frescas em sua memória, assim como a matança e o genocídio que os semideuses nórdicos fizeram junto dos colonizadores... Por essa razão ele não foi a Eldorado com Muykata, não seria apropriado. Foi uma decisão dele, mesmo que ele não tenha feito nada no passado, os Nórdicos em sua maioria são culpados pelo fim dos semideuses Brasileiros em uma enorme escala... E agora tem esse filho de Freya vingativo, solto por aí, querendo ou não Odin tem parte disso também... Quando mais pensa, mais Rohan vê que Odin foi o pior de todos os deuses que já conheceu, seus atos, mesmo depois de morto ainda continuam a assustar e a penar em muitos inocentes...

Mimir estava entretido bisbilhotando a caverna da Cuca, a cabeça decepada por Odin nutria muita curiosidade sobre a cultura brasileira e seus deuses, assim como os outros Aesir tinham quando estavam vivos, no entanto algo ainda martelada em sua cabeça, a Caixa De Pandora e a existência de Robert depois de tanto tempo...

- Não faz sentido esse Athos ainda existir, quando Zeus e Odin em sua loucura, tiraram sua imortalidade e o jogaram no abismo do tártaro, era para ele ter morrido ainda bebê... – comentou ele.

Rohan havia pensado a mesma coisa...

- Não sei bem os detalhes do que aconteceu, mas a essa altura não importa muito como ele sobreviveu, o que importa, é que ele é forte e tem muita influência, Muykata me contou que ele viajou o mundo inteiro adquirindo conhecimento sobre todos os deuses existentes, aprendendo suas magias ao longo de sua vida... Ele tem um arsenal bem completo, atacar ele diretamente parece ser burrice, por isso temos que achar ele enquanto ele está fraco e sem a abertura da Caixa De Pandora... – respondeu a velha Jacaroa. – E o surto de energia nórdica que vocês sentiram ainda me preocupa... O que será que é?

- Não é por nada, mas eu por um instante senti a força do próprio Fenrir quando vim ao Brasil... Mas isso é impossível, ele foi morto no Ragnarok depois de engolir Odin... Seria possível esse tal de Athos ter trazido ele de volta a vida? – perguntou ele.

Isso perturbou um pouco a Cuca... Ela sabe que ele por ser filho de Thanatos pode burlar a morte, mas trazer seres antigos? Seria possível? Se for... A situação é mais caótica ainda... Eldorado precisa se preparar bem... Ela vai ajudar no que puder... 

Rohan pegou um fio de cabelo de Yancy que Muykata havia conseguido para ele e o analisou bem, o colocando dentro do caldeirão borbulhante com um liquido bem azul...

-Interessante... – disse ele com o olhar bem analítico. – Esse filho de Tupã, não tem só essa maldição sobre si...

Isso atraiu a atenção da Cuca...

- Como assim? – perguntou ela.

Rohan moveu o fio de cabelo de Yancy dentro do caldeirão e ficou pensativo... Por ser o último descendente de Hel e por acreditar ser o último semideus nórdico  existente, Rohan fez o que pode para aprender tudo que podia da magia das Runas S£nior, a magia dos deuses Vannir, para que pudesse se proteger e aprender tal magia lhe deu privilégios e habilidades que um simples semideus de Hel não teria.

- Ele tem uma maldição antiga sobre ele, que não era para ele pelo jeito, mas acabou pegando nele desde que ele nasceu... Essa maldição também é de origem Nórdica e Grega... Ah... – Rohan parecia ter uma visão de algo que Mimir e Cuca não tiveram -  Odin e Zeus fizeram algo com ele, você disse que ele é cego, não é?

-Sim, ele se cegou usando seus poderes quando era uma pequena criança – respondeu a Cuca.

- Não, Cuca, não foi ele, foi Odin... Eu consigo sentir isso – respondeu Rohan olhando seriamente para ela.

-Mas como? Odin já estava morto, Zeus também, Ares já havia o matado quando Yancy nasceu... – respondeu a Cuca sem entender.

- Como falei, a maldição passou para o garoto, com certeza ela pode ter sido lançada em Tupã e como Tupã é um Deus, talvez não tenha surtido efeito nele... Não entendo muito bem, só sinto, não sou uma das Normas do Destino para poder ter uma visão do que pode ter ocorrido... Só sei que, esse tal de Rafael, quando ele mais precisar dos poderes de filho de Tupã, ele vai ser traído por eles e isso vai levar ele a morte e possivelmente machucar muita gente... – respondeu  Rohan e um trovão assustador explodiu do lado de fora e logo começou a chover.

-Odin... Com certeza Tupã fez algo que atingiu o ego super frágil do velho desgraçado, Odin realmente era o pior dos deuses Aesir, pior que ele só o Thor mesmo, aquele gordo estúpido idiota... – Murmurou Mimir desgostoso.

-E você não pode tirar isso? Ou fazer alguma coisa? – perguntou a Cuca levemente preocupada...

Rohan olhou para ela por alguns segundos, ainda era algo novo para si ver a própria Cuca se preocupando com semideuses... O mundo realmente capotou de vez.

- Não... Isso não, maldições de deuses, só podem ser retiradas pelos deuses que as lançaram... Ou alguém de força maior como seu Nhanmadu, mas fora isso, pelo que sinto, nem mesmo os Arcanjos poderiam tirar isso dele, se existe outra forma não sei... Lamento, o que posso fazer mesmo é juntar seu Yin e Yang de volta – respondeu Rohan tristemente... – Eu sei o que é viver uma vida amaldiçoada pelo Pai de Todos  e não é fácil, sinto pena do rapaz... Como falei, Odin fez tanta maldade em busca de poder que mesmo depois de morto, suas ações ainda continuam machucando inocentes...

...

Sentado à mesa da Biblioteca celestial, Miguel foleava diversos livros, estava ali a dias, inquieto e atencioso a sua pesquisa e procura. Suas enormes asas estavam fechadas, ele ainda trajava sua armadura celestial feita do ferro mais puro e potente deste mundo e ainda mantinha a aparência do jovem homem de 27 anos com um rosto amistoso e olhos azuis.  O que ele procurava? Ele esperava conseguir alguma resposta sobre como solucionar a situação caótica da terra o mais breve possível... Mas nada estava adiantando, nunca haviam lidado com tal coisa. Afinal eles são Anjos, os seres mais poderosos do universo, abaixo apenas de Deus, e talvez alguns Deuses Antigos, mas mesmo assim... Estão sendo enganados e bloqueados por um deusinho oxigenado de nada, Athos, e o Inferno o estão fazendo de idiotas perante os demais deuses do mundo... Não que Miguel se importe com o cochicho dos deuses, no entanto, não fica bem o Céu ser visto como algo incompetente a situação, ainda mais com o abismo se agitando e criando os problemas... Tudo que o Arcanjo Miguel tem certeza no momento é que os demônios estão recebendo ajuda, pode ser ajuda de um deus ou até mesmo de um anjo traidor... Mas como descobrir isso? Ele é o líder do dos Arcanjos, se por acaso ele simplesmente dizer que pode haver um traidor entre eles, a estabilidade que já está frágil com o desaparecimento dos Anjos da Guarda se tornaria um caos total e ele deve evitar isso a todo custo. Por essa razão se aliou a Tupã e aos deuses Indígenas Brasileiros. Também está em conversas com deuses de outros panteões, mas a grande maioria não quer ajuda e disseram que lideram com os demônios sozinhos... Miguel não pode culpar eles pode não quererem ajuda dos Anjos, mesmo que isso seja total responsabilidade deles...

Agora sobre a questão do filho de Anhangá... Miguel não nega que passa bastante tempo pensando no garoto. Geralmente humanos não chamam muita sua atenção, mas semideuses sempre tiveram sua graça. Por séculos e séculos o Inferno sempre foi atrás de semideuses para de alguma forma se libertarem, a situação de Kauê não é novidade. A última vez foi com os gregos, Miguel e seus irmãos se lembram bem disso, Zeus se recusou a receber ajuda e disse que os semideuses dariam conta do recado, pois é, Zeus não fez nada. Lilith, a senhora do abismo estava quase tomando o corpo de uma filha de Hades para se tornar completa, Miguel ia intervir pessoalmente, mas a Deusa Athena tomou a dianteira. Zeus pode não ter feito nada, mas os outros deuses liderados pela própria Hestia e Hades tomaram atitudes. Até mesmo Titãs pacíficos ajudaram a expulsar os demônios de lá, muitos foram selados e presos de tal forma que não poderiam sair sem uma enorme força externa e a questão é, de onde está vindo essa força externa que está libertando eles? Se não é esse tal de Athos, quem seria? Suas asas sentem que a maior concentração da força maligna deles esta no Brasil... É lá que começou tudo, desde e o nascimento do filho de Anhangá... Mas como? Anhangá seria o culpado? Logicamente poderia se dizer que sim, mas... Tupã garantiu que não, seriam os deuses indígenas mentirosos? Sempre tem um burburinho no Céu entre os anjos que Miguel está sendo um tolo por se aliar os deuses... Miguel não acha isso, e alguns de seus irmãos como Metatron e Gabriel também não, mas... Ele só lamenta que Josefiel tenha morrido, ele sim poderia ser útil agora, pois ele era o único anjo que teve total contato com tudo isso desde o começo... E Hipacia? A antiga Serafim aliada de Josefiel? Miguel falou com ela, ela está no Egito junto dos deuses Egípcios. Apesar dela ser aliada de Josefiel e ter ajudado ele em muitas coisas, ela não sabia de muita coisa que pudesse de fato ajudar. Teoricamente ela deveria der presa por ter ajudado Josefiel e por ter saído do Céu sem permissão, mas Miguel deixou isso de lado por enquanto... Agora existem problemas muito, mas muito maiores...

-Irmão, podemos nos falar? – disse o Arcanjo Gabriel, chegando voando. Ele ainda usava sua aparência que Kauê o conheceu, cabelos ruivos curtos, um sorriso brincalhão com sardas. Assim como seu irmão, ele usava armadura.

-Gabriel, meu mensageiro favorito, claro, o que deseja? – perguntou Miguel sorrindo e Gabriel franziu o cenho.

-Sou seu único mensageiro, aliás do Céu inteiro, irmão – respondeu ele.

-Ah, eu sei, mas não posso negar que eu gostava bastante de Hermes, tão falador e comunicativo. Bem diferentes de Polo que não é de falar muito – respondeu Miguel.

- Isso por que Polo não gosta muito da gente, irmão, Hermes era maria vai com as outras – disse Gabriel. – Agora deixando o assunto de deuses mensageiros de lado, eu... Estou preocupado com uma coisa e queria lhe fazer um questionamento.

Miguel levantou a sobrancelha... Um questionamento? Essa é nova. Quase nunca recebe isso de outro anjo, salvo nas reuniões do conselho.

-Pois bem, irmão, diga, sobre o que se trata? – perguntou o atual líder do Céu.

Gabriel limpou a garganta, mesmo ambos sendo Arcanjos e irmãos, Miguel é mais velho e por direito vice-rei de tudo. Ele era o que mais falava com o próprio Deus face a face... Questionar ele era como questionar Deus em pessoa e tais pensamentos não são apropriados para um Anjo, no entanto, isso é algo importante que ele meio que não concordou muito bem.

Essas atitudes sempre diferenciam os Anjos e os Arcanjos. Anjos são soldados, apenas isso, sem grandes emoções ou personalidade, salvo Josefiel e Hipacia que tiveram influência dos deuses para mudarem suas posturas. Arcanjos por outro lado tem mais sentimentos, o que é irônico, mesmo assim seguem a rega seus deveres, mesmo que tenham opiniões diferentes.

-Sobre o garoto, o filho de Anhangá – disse ele deixando sua voz firme. – Eu sei que votamos para que ele ganhasse um novo Anjo da guarda, mas além disso ser contra as regras, pois semideuses não precisam de Anjos da Guarda, você escolheu justo a Naomi... Irmão, qual a razão disso?

Miguel não se surpreendeu, ele Até a mesmo esperava que alguém fosse lhe questionar por isso. Naomi, um anjo polêmico por assim dizer, que causou um enorme constrangimento ao Céu séculos atrás. Ela era um anjo da guarda de um homem mortal na Itália. Um homem bom, de coração nobre, que tirava crianças das ruas com o pouco que tinha para lhe dar comida e um lar aquecido... Esse homem atraiu a atenção da Deusa Afrodite que queria ficar com ele a todo custo, ele ficou encantado por ela, totalmente... Naomi como todo Anjo desprezava os deuses e não iria permitir de forma alguma que uma deusa arrogante como Afrodite acabasse com a vida de seu humano que ela deveria proteger. Sendo assim, Naomi interviu, foi a primeira vez que um anjo interviu nas relações de um deus com um mortal. Afrodite havia ficado furiosa com tal atitude, mas ela sabia que no mano a mano, ela perderia para Naomi que era uma guerreira, então ao invés disso, Afrodite a amaldiçoou... Fez com que Naomi transformasse toda sua devoção ao seu trabalho de anjo da guarda em amor puro por seu mortal, resultado disso... Naomi se apaixonou pelo seu humano e até mesmo se revelou para ele, um crime... E como se não bastasse, ela cometeu um enorme sacrilégio e pecado... Concebeu um filho do mortal... Sim, Naomi engravidou de um humano, deu a luz a um Nefhilim, meio-anjo e meio-humano. Os Arcanjos logo ficaram sabendo disso, pois o nascimento do Nefhilim fez o  Céu tremer. Aquilo era um crime total! Anjos não tem permissão para tal feito... Não podem procriar com humanos... Porém, Naomi amava aquele pequeno bebê como amava o próprio Deus e seus irmãos...

Quando Miguel e Zeus ficaram sabendo de tudo que houve, Afrodite foi chamada e ela se fez se Santa perante tudo... Ares ficou furioso por Miguel acusar sua amante de ter amaldiçoado um anjo que só estava cumprindo seu dever... Hefesto entrou no meio da briga empurrando Ares e alegando que ele iria defender a esposa dele, apesar dos enormes chifres que ela plantava nele. Logo os olimpianos começaram a discutir na frente de Miguel. Para resolver o problema, Zeus decretou que Afrodite estava proibida de ter relações com mortais por 100 dias. Claro que Afrodite surtou e rodou a baiana chorando pelo Olimpo pelos 100 dias seguidos, apesar de Miguel achar isso pouco, tomou a atitude de não contestar, pois não queria uma guerra contra os olimpianos. Isso destruiria o mundo... Afrodite então retirou a maldição do amor de Naomi, ela não parecia mais apaixonada pelo homem mortal que teve a memória apagada pelo Arcanjo Metatron, mas ela ainda sentia apego pelo filho... Um filho que não podia existir... Ela sabia disso muito bem, Miguel teve que fazer isso, regras são regras, ele teve que matar o bebê... Não apenas matar, mas apagar sua existência completamente, nem mesmo sua alma poderia restar... Naomi ficou inconsolável e triste por isso... Miguel e os Arcanjos sabiam disso muito bem. Como ela não era culpada, por assim dizer, não foi presa e nem destruída, mas por precaução por séculos foi proibida de aproximar de outro humano ficando somente no céu deste então... Por isso o questionamento de Gabriel, por que colocar ela para proteger Kauê?

-Naomi perdeu muito naquele dia, irmão... Teve um filho proibido, não por culpa dela, foi a vaca da Afrodite que fez tudo, mas... Não sei, meditei sobre isso e veja o filho de Anhangá, ele é um semideus que também não deveria existir, um erro... uma transgressão... Acho que colocar ela para fazer isso pode trazer resultados inesperados pelo que buscamos, sabemos que cedo ou tarde o Inferno vai vir atrás do menino e ela vai proteger ele, acredito nisso – respondeu Miguel um pouco alto como se ele mesmo quisesse acreditar no que dizia. – Sei que está preocupado, mas não vejo grandes problemas nisso.

Gabriel encarou Miguel por vários segundos antes de responder, algo ainda incomodava o mensageiro do Céu... Ele se lembra como Naomi ficou arrasada com tudo que houve, talvez colocar ela de volta ao posto seja algo prejudicial... Apesar de que ele tem conhecimento que nos últimos 100 anos, ela está bem instável emocionante e nem parece se lembrar mais do que passou. 

-Se você diz isso, Miguel, vou acreditar em você, espero que nós não estejamos errando em nossas decisões... – respondeu por fim Gabriel mordendo a língua e encarando as estantes cheias de livros...

...

Kauê tinha o prévio conhecimentos se que as abelhas que Yancy e Yagura viviam visitando eram enormes, porém não pensava que elas fossem maiores que si... A Colmeia delas é uma cidade inteira! Segundo Yancy, é uma magia da Caipora que fez a Colmeia crescer para elas viverem, mas como as abelhas se tornaram grandes assim? Ninguém sabe explicar, nem mesmo Yancy, elas apareceram enormes assim perto do final da segunda guerra mundial, não apenas uma, mas todas... A Rainha delas, Bizz, disse a Yagura que foi um semideus que fez isso com elas, logo Yagura juntou um mais um e concluiu que só podia ter sido magia do cientista, Dr. Gustavo, vários filhos de Yushã foram chamados para tentar reverter o feitiço, mas eles nunca conseguiram... Até hoje não se sabe bem que tipo de poder o Dr. Gustavo usava para fazer suas experiências, pois ninguém consegue reverte-las... Mal sabem eles, que Dr. Gustavo combinava seus feitiços proibidos de outros lugares que ele visitou com seus conhecimento genéticos e científicos, o homem era um gênio, era não, ele ainda continua sendo...

Ao chegarem na entrada da Colmeia, os dois Yancys foram na frente de Kauê formando uma proteção em torno se seu pequeno convidado. As abelhas poderiam estranhar ele ali, elas não são muito receptivas com humanos, muito menos semideuses, e além do mais, ele é filho de Anhangá... Yancy sabe que Kauê correria risco vindo aqui, mas ele não sente que algo ruim vá acontecer, pois ele está ali e vai proteger Kauê. Além do mais, Victor e Juliana estavam com eles. Victor sempre teve curiosidade de vir aqui, mas sempre teve medo, agora foi a oportunidade perfeita, Kauê adorou isso, já Rafael e Yancy ficaram um pouco incomodados, eles queriam passar esse momento sozinhos com Kauê, mas não reclamaram, Tufão também havia vindo junto. Os outros papagaios dos demais resolveram não ir por medo das abelhas.

Abelhas e abelhas operárias voavam para todos os lados... E o zumbido até chegava incomodar a audição de semideuses deles, mas o zumbido logo se tornavam vozes, elas estavam falando e falando que semideuses estavam na porta e se deveriam usar o protocolo invasor picada morte rápida ou o protocolo bem-vindo e tchau... Pois abelhas assim como as formigas são os insetos que mais trabalham dentro da criação da Caipora, um dos poucos que nunca param por nada. Fileiras e fileiras de abelhas carregando pólen chegavam e chegavam. Se Kauê, Victor e Juliana não tivessem visto as flores gigantes atrás da comunidade que foram feitas especialmente para elas, eles não iriam entender como insetos enormes desses iriam pegar pólen de flores tão pequenas... Isso foi ideia de Yagura, ele pediu aos semideuses de Sumá, que criassem um jardim de flores enormes atrás da comunidade para as abelhas gigantes poderem usar.

- Existem peixes feios gigantes e abelhas gigantes, será que não tem uma pomba gigante? – Tufão sonhou bem alto dentro da camisa de Kauê, ele havia se transformado em um rato branco. Agora ele abusava muito de seu poder de mudar de forma e poucas vezes ficava em sua forma normal de papagaio, salvo quando ficava cansado. – Pois o papai aqui ia amar isso...

- Sério Tufão? – Kauê fez uma careta. – Você só pensa em pombas.

- Não, também penso nas garças agora, aquelas pernocas... Aí aí ui ui... – disse ele e Victor riu ao lado de Kauê.

- Eu simplesmente amo seu papagaio – comentou ele.

-Todo mundo me ama geladão hahaha eu sou puro charme – respondeu Tufão.

-E puro ego inflado também – sorriu Kauê acariciando o topo de sua cabeça.

Uma abelha segurando uma pasta veio se aproximando, junto de outras segurando lanças... Victor se juntou a Yancy e puxou Kauê para trás junto de Juliana em uma forma de proteção, apesar de e grato pela preocupação, isso irrita Kauê, ele não é indefeso. E Juliana apesar de achar fofo a atitude de seu namorado, ela também não gosta que ele faça isso, pois apesar de não ter água por perto, ela ainda é uma guerreira de Eldorado e sabe se virar muito bem com suas adagas e após algumas aulas de arte marcial com Tadayuki, sua agilidade melhorou muito, assim como seus golpes e força.

-Príncipe Rafael, é uma honra ter vossa presença em nosso lar novamente... Mais uma vez em nome da Rainha Bizz, prestamos nossas condolências pela morte de Yagura... – disse abelha com a pasta fazendo uma referência a Yancy, senti tristeza vindo dela e isso me abalou um pouco também... Yagura era mesmo amado e admirado por muitos... Apertei minha mão com raiva, mas Yancy a pegou com sua mão em uma forma de dizer que está tudo bem... Preciso relaxar, não posso ter uma crise aqui.

-Obrigado – responderam os dois juntos. A Abelhas parece ter ficado confusa no primeiro momento, mas Yancy explicou rapidamente o que houve.

-Ah... Bom, bem-vindos, príncipes e esses quem seriam? Sei que são semideuses, sei que isso pode ser incômodo, mas preciso de seus nomes e o nome de seus pais. São regras que temos para zelar pelo nosso bem-estar – disse ela cordialmente e cada um foi falando seus nomes...

-Juliana, filha de Iara.

-Victor, filho de Nhará, vocês têm sorvete de mel? Aí! – Juliana havia pisado em seu pé e fez uma careta para ele que dizia: Jura?!

- Kauê, filho de... – Ele suspirou com receio de dizer... Mas aí se lembrou que seu pai lhe disse que lhe amava... Não, não pode negar isso. – Filho de Anhangá.

As abelhas ficaram em silêncio por um tempo e os guardas preparavam suas lanças... Todos os semideuses sentiram que elas iam atacar, mas atacar exclusivamente o Kauê...

-Esperem... – disse a Abelha com a pasta levantando suas antenas para cima como se estivesse recebendo um sinal... – Muito bem, vossa majestade... Venham comigo, filhotes de deuses, a Rainha e a Princesa querem vê-los.

Elas voaram na frente.

Victor pegou Juliana no colo e lavrou voo. Kauê fez o mesmo, mas Rafael e Yancy pegaram suas mãos.

-Fique perto da gente... – alertou ele.

-Relaxe, Yancy, eu sei cuidar de mim mesmo – respondeu Kauê amistosamente largando a mão deles dois e seguindo Victor. 

Ele não fez por mal, mas Kauê tem uma certa raiva de proteção demais em cima de si pelos anos que viveu com sua avó o sufocando... Tudo ele não podia fazer, tudo ele tinha que ficar para a proteção dele... Ele chegou no seu limite nesse quesito... Ele não precisa da proteção de ninguém, ele é forte também, talvez não tanto quanto Yancy, Juliana e Victor, mas sabe se defender. E outra, Yancy já sofreu com essa mania de proteção demais, era para o feitiço do Boto-cor-de-rosa atingir ele e não o Yancy...

-Teimoso... – bufou Rafael mordendo a língua.

-Nem me fala... – respondeu Yancy suspirando. – Vamos ficar em alerta, ninguém vai fazer mal a ele...

Rafael concordou.

Eles então o seguiram.

A vista por dentro era a melhor possível, tudo construído com favo... O cheiro doce do local até entorpecia a mente deles... Mel e mais mel por toda parte assim como abelhas e abelhas. Eles até passaram perto do berçário, por assim dizer, onde as larvas das abelhas eram criadas e cuidadas por uma única abelhas responsável. Kauê deu uma pequena risada, até aqui as Babás se ferram. A Abelha com a pasta começou a falar pelo local o que era cada coisa como se fosse uma guia turística exaltada e cheia de paixão pelo seu trabalho.

Quando finalmente haviam chegado a sala do trono da Rainha, eles tiveram que descer até o chão.

Uma garota humana? Com a pele amarelada com grandes cabelos pretos e asas de abelha nas costas veio correndo toda feliz e agarrou Yancy lhe abraçando, os dois ao mesmo tempo!

-RAFAEL! MEU NOIVO! QUE SAUDADE! E VEIO EM DOSE DUPLA! AMO! SE UM JÁ ERA BOM! DOIS É MELHOR AINDA!

-NOIVO?! – gritaram seus amigos e Kauê bem mais alto que os outros...  COMO ASSIM?! O QUÊ?! HÃ?!






























Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora