Capitulo Especial - Passado, Presente e Futuro...

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Quando Nhamandu endoidou de vez e teve a ideia absurda de começar a criação do universo, criando os primeiros problemas(os deuses) e depois o restante da vida que não foram melhores que os deuses…  Ele criou a Árvore Árdua, a primeira árvore, aquela que estende suas raízes por toda sua criação e vida que existe, até mesmo a morte, pois suas raízes também passam pelo Submundo e se inficam no núcleo infinito. Suas raízes mais densas e mais fortes estão concentradas em uma certa cidade, uma cidade esquecida pelo tempo e espaço, Ratanaba… No centro dela, vivem três figuras muito importantes e respeitadas pelos deuses e também por toda criação de Nhamandu, as Parjalas, as irmãs da Honra, Equilíbrio e Justiça, ou como ficaram mais conhecidas… as irmãs do Passado, Presente e Futuro. 

Assim como as três Parcas dos Gregos, as Três Nornas dos Nórdicos, as Três Parjalas cuidam e monitoram o destino e o tempo de todos os seres ligados a religião indígena brasileira, desde os deuses, semideuses, criaturas folclóricas e mortais. Nunca ficaram do lado de ninguém, apenas cumpriram seu papel, para o bem ou para mal, dependendo do ponto de vista, o importante é manter o equilíbrio. 

Sentada com as pernas cruzadas, Jopói, a irmã que observa e cuida do Presente, olhava atenciosamente para a árvore com folhas laranjas com o veado de Anhangá cravado em seu tronco. É a árvore da vida de Kauê… Ao lado dela tinha um regador feito da casca da árvore Árdua, com a água primordial que Nhamandu criou, a mesma do poço do infinito dos deuses. Folhas velhas e secas se misturavam muito com as novas na árvore de Kauê, ela é totalmente metade seca e metade viva.  

Surgindo ao seu lado como uma sombra,, a Hadapyréva, sua irmã que cuida do passado sorriu de forma animada saltitando, ela esperava que uma folha da árvore de Kauê viesse a cair para ela recolher, mas não, nenhuma caiu… Nenhuma folha cai desde quando ele nasceu. Hadapyréva é responsável por plantar as sementes das árvores da vida de todos, quando a árvore cresce, sinaliza o nascimento, aí então sua irmã, Jopói toma conta de cuidar delas. A medida que o Semideus ou mortal vai crescendo, toda sua vida sofre um tipo de mudança dependendo de suas escolhas. Parte de sua árvore da vida vai murchando e as folhas secando, sinalizando que essa parte de seu passado foi superado, essas folhas caem, esses galhos secos são recolhidos por Hadapyréva e sua irmã Jopói, assume a responsabilidade pelo crescimento e o fortalecimento de novas folhas, flores, frutos, raízes e galhos, sinalizando uma nova jornada, um novo capítulo, um novo presente, até a morte…  

Tenondegua, a irmã que cuida do futuro, também observava com um machado em mãos. O Machado do destino, é com ele que ela corta as árvores da vida de todos aqueles devotos e vinculados à esfera de controle dos deuses indígenas. Ela não corta somente o tronco, no fim, quando a morte chega, mas também corta pequenos galhos, raízes se necessário quando o destino de tal pessoa sofre certa mudança… 

Jopói esticou seu braço pegando o regador e começou a molhar a árvore de Kauê. A mesma sofreu um pequeno abalo sísmico que por um instante parecia que suas folhas secas iriam cair, mas não… A árvore dele começou a sangrar… Para o aborrecimento de Hadapyréva. Observar a árvore de Kauê se tornou algo que elas começaram a fazer juntas com muita frequência e um certo intusiasmo. 

-O filhote de Anhangá realmente gosta de se apegar ao seu passado conturbado, a prole não abandona seus medos, suas lembranças, não deixa de forma alguma tudo que o feriu sair de si - falou a irmã do Passado. - Desse jeito tudo irá piorar para ele, mais do que o necessário. 

-É escolha dele, irmã - disse Jopói. - Sempre será escolha dele, seu sofrimento, seus medos, se ele tiver que carregá-los a vida toda, que assim seja até o fim da mesma. É inevitável. Uma escolha tola, mas que mortais que não são tolos?  

-Hum…  Esse garoto, não previmos o nascimento dele, e como poderíamos? Afinal, um anjo ajudou para que ele viesse a existir, nós não plantamos a árvore dele, ela cresceu sozinha bem na frente de nosso nariz, Anhangá foi muito atrevido, sempre foi um deus sem escrúpulos, ele afrontou o destino ao trazer esse garoto ao mundo - resmungou a irmã do Futuro se apoiando no Machado. - Entretanto, irmãs, reconheço que o moleque vai ser uma boa diversão para nós, ele é diferente dos outros Semideuses… Ficaria triste se ele viesse a morrer logo tão cedo. 

Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora