Capitulo Especial - OMSU

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Muykata estava parada a um tempo em frente ao túmulo de Yagura, ela ia lá algumas vezes, apenas olhar, pensar, refletir, se lembrar dos bons momentos e de como ele foi um grande amigo para si… Sente sua falta, afinal, ela o viu crescer, o viu gatinhar, o viu se desenvolver no melhor Cacique e Pajé que a história de Eldorado já viu… O viu se tornar um velho bondoso e gentil com todos ao seu redor, mesmo com aqueles que não mereciam seu carinho e gentileza… As vezes não é fácil acreditar que ele tenha ido, que ele tenha morrido… Doloroso demais foi sua perda e ainda continua sendo, ele é mais um para ela adicionar a sua lista extensa de perdas… Apesar de ainda ter ele vivo em sua memória, só são lembranças, lembranças felizes, sim, mas que também machucam… O luto nunca vai ir embora, é uma dor que perdura por toda uma vida e tendo ela quase mais de 1000 anos, sua dor está maior do que ela consegue carregar…  As vezes chorar ajuda, às vezes não, nada é suficiente o bastante…

Ela tocou sua mão no túmulo e fez um carinho. O Túmulo é lindo, feito de mármore com toque de ouro e pedras preciosas, ao redor dele as flores crescem sozinhas e ficam lindas e vivas. 

-É velho, não sabe a falta que faz para todos, amigo…

Ela ia chorar, mas limpou as lágrimas rapidamente ao sentir alguém se aproximando. 

-Pode chorar Muy, está em seu direito - disse Maria Lúcia Goulart, filha da deusa Suma. Ela é uma das cozinheiras do refeitório e cuidadora dos semideuses mais idosos da Comunidade, já cuidou de Muykata algumas vezes a pedido de Yagura. Ela estava vestida com o uniforme verde das filhas de Suma, e uma calça preta, descalça,  ela tem seus 40 anos de idade e ama muito o que faz, cozinha com muito carinho e amor, em suas mãos haviam flores azuis brilhantes, as favoritas de Yagura… 

-E quem tá chorando aqui? Ora, Maria, foi ele que colocou você e seus remédios no meu pé, acha que vou chorar? - disse Muykata na defensiva, ela realmente odeia que os outros a vejam vulnerável de qualquer forma, questão de defesa pessoal mesmo… - Velho burro, na idade dele, tendo a irresponsabilidade de ir salvar adolescentes que podiam se virar sozinhos...

Maria sorriu docemente, conhece Muyakata a tanto tempo que sempre sabe quando ela quer se fazer de durona.  

-Se eles pudessem, ele não iria, não acha? - sorriu Maria lhe dando um abraço, pois Muykata precisava de um ombro amigo, mesmo ela não querendo admitir. - Yagura sempre foi sábio, sempre agiu de maneira correta, ele sabia dos riscos e aceitou seu destino, no fim ele fez o que sempre amou, protegeu os pequenos semideuses, ele sempre dizia que iria prezar pela próxima geração e ele o fez até o fim. 

Muykata devolveu o abraço… Ela realmente precisava de algo assim, de uma coisa que ela admira em Maria é o fato dela sempre saber quando alguém precisa de um mimo… Não é atoa que a comida dela é a melhor de todas, pois consegue agradar a todos. 

- Tá tudo bem? Quer medir a pressão? - brincou Maria e Muykata riu.

- Eu ia te xingar, mas dessa vez deixo passar, obrigada…

-Por nada, você não é a única a sofrer, acredite nisso, todo mundo foi afetado de alguma forma… Rafael principalmente, pobre menino… E até mesmo o filho de… - ela não sabia se falava o nome ou não, por causa do mau agouro… - O menino Kauê, já o vi chorar muito. 

-Kauê… Um bom garoto, Yagura tinha confiança nele e nunca o tratou diferente de como trará os outros, mesmo ele sendo quem é - respondeu Muykata. 

-E quem não teria? Eu falei com ele algumas vezes, acredita que ele se propôs a me ajudar a lavar a louça? Tipo, ninguém nunca fez isso, e achei uma graça a gentileza dele… Ele tem um bom coração, sempre que vejo alguém sendo preconceituoso com ele, trato de defendê-lo na hora - sorriu ela. 

Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora