Capítulo 5 - O Retornar

216 32 34
                                    

Não preciso me preocupar com minha avó e Tufão, eu acho... Mas não sei, sinto algo ruim, um mal pressentimento que eu talvez não deva ir, estou realmente preocupado com minha avó... Essa história dela começar a fumar por estresse não me desceu nenhum pouco, fora a personalidade dela estar mais enérgica e sentimental, não que ela não fosse a rainha do drama antes, mas ultimamente até mesmo Yancy percebeu que ela está mais fragilizada... O que está havendo? Tudo bem, eu sei que ela não gosta nenhum pouco dessa minha vida de semideus, tanto que ela sempre deixa bem claro isso, mas isso não é razão, eu pensei que depois de todo esse tempo a gente já tinha superado isso, não tem o que fazer a respeito... Eu fico louco com isso... Baguncei meu cabelo em frustração, ele está uma zona... Será que... Não, não posso cogitar isso. Infelizmente não consigo afastar de minha mente tudo o que já houve, Azazel... Bárbara e Thiago foram possuídos e ficaram loucos e insanos, minha avó também e por muitos anos, será que só agora ela está tendo algum efeito colateral? Esses pesadelos e insônia que ela diz ter, ela não se abre comigo, nunca fala nada... Desse jeito fica difícil. E conhecendo ela do jeito que ela é, se eu ler a mente dela mesmo que sem querer e descobrir, ela vai surtar comigo, minha avó odeia que eu me meta na vida dela, e sempre que eu uso o argumento que ela se mete na minha, ela responde que eu sou menor de idade e ela me criou, e se eu insistir, ela grita comigo e me bate. Esse sempre foi o jeito dela de resolver uma longa discussão, me batendo com um chinelo, cinto e vez ou outra foi com uma colher de pau. Esse método diminuiu um pouco de um ano pra cá, ela não chegava a bater para espancar, mas doía bastante. Me lembro de ver os professores da escola dizendo que bater não é uma forma de educação, que violência não leva a nada, está ensinando seu filho ou neto a ter medo e não respeito por você e um dia ele poderá fazer isso com outra pessoa. Eu espero que eu não faça isso... Não sei se terei filhos, não sei nem se vou estar vivo daqui alguns segundos, mas não irei bater, talvez eu dê uns berros e tenho certeza que Yancy vai concordar comigo... Espera, o que ele tem haver com esse meu pensamento?! Eu nem sei se ele realmente gosta de mim, sua parte birrenta ficar dando em cima de mim é algo impulsivo de acordo com o que a Muykata disse, então ele pode fazer isso com qualquer pessoa que ele se sinta atraído, certo? Eu só vou saber mesmo se os sentimentos dele são sinceros quando ele voltar ao normal e confesso que meu estômago vai revirar totalmente quando esse momento chegar e vou vomitar o que comi no Jardim de Infância, a é verdade, eu não fiz educação infantil... Ah! Vou vomitar algo que comi há anos, pronto.

Voltando a pensar em minha avó, com ela é assim, eu devo respeito a ela sem nenhum questionamento possível... Com ela não existe essa frase: "Quem ama cuida e se preocupa."

Ai meu Deus, por que as pessoas precisam ser tão difíceis? Tá, eu não sou a melhor pessoa do mundo, não sou mesmo, tenho mil defeitos e talvez uma ou duas qualidades boas, mas... sempre tento ser sensato, quase sempre... Por via das dúvidas, eu vou fazer a proteção dos selos mágicos que aprendi a custo de muita dor de cabeça e dias de trava línguas...

A Cuca me ensinou um feitiço que ela usa para proteger suas cavernas espalhadas pelo Brasil, ela mencionou que eles são ótimos para proteger um local, salvo se quem tentar invadir não conhecer o que quebra a barreira, como Robert a invadir sua caverna uma ou duas vezes... Sendo assim, ela reformulou o feitiço e garantiu que este, ele não saberá decifrar, ela me ensinou, também como forma de proteção. Eu não o fiz antes por não achar necessário, já que praticamente Victor e Yancy vivem aqui, fora o Saci e outros que estão me vigiando, nem mesmo a Pisadeira deu as caras aqui de novo, mas agora que estou saindo e deixando minha avó sozinha, é melhor prevenir.

Não sou muito fã de cortes, mas eu preciso desenhar selos com meu sangue em certos lugares da casa. Doeu... Ardeu e caramba! Que horrível! Cortei levemente a palma de minha mão deixando o sangue escorrer, usando a outra mão, comecei a fazer os desenhos, na sala, no banheiro, no quarto dela, no corredor e por último vai ser em meu quarto... Quando cheguei nele vi que os dois Yancys estão sentados próximos um do outro, em silêncio, atentos de olhos fechados para com Honorato, na frente deles, em cima de minha cama tem um enorme papel com diversos símbolos, letras e pontos... Quase não consegui ver direito o que eram, tive que colocar meus óculos que havia deixado perto da cômoda. Honorato está levando a mão deles sobre a face do papel como se estivesse o guiando. Ambos emitiram um lindo sorriso... Sinto a emoção deles.

Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora