Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De Eldorado

Capitilo Especial - Próximos passos

Kauê deu um pouco da ração especial feita pelos filhos de Sumá e de Polo, que ele reserva para Tufão para o papagaio de John, o coitado com certeza o merece. Tufão é um tanto egoísta quando se trata de sua comida, e é claro que ele reclamou. Kauê não deu muita pilha para a discussão, pois não podiam mais perder tempo, Daniel, seu amigo e companheiro de ódio de Eldorado estava sendo preso e acusado de algo que ele não havia feito, isso com certeza é o cúmulo do absurdo e Kauê não iria ficar quieto. Daniel é uma das melhores pessoas que ele já conheceu, ele lembra muito a si mesmo em diversas questões, não só na parte que todo mundo quer lançar ambos na fogueira mais próxima, mas por sua personalidade e seu bom coração, apesar de tudo… Não, eles não têm mais tempo a perder. Sabendo disso, Kauê arrumou suas coisas na sua mochila e tudo que precisava fazer era se despedir de sua avó. 

Ela estava na cozinha fazendo café, sua avó acordou bem cedo hoje. Kauê se aproximou pelo corredor e logo sentiu cheiro de cigarro… Ora, mas como? Ninguém nessa casa fuma, ao menos não até hoje… Seus olhos quase não acreditaram no que estavam vendo, sua avó, fumando como uma chaminé… Logo ela que sempre diz a ele que qualquer dia que ela o ver com um cigarro na boca, ela o  arrancará na base do espancamento… 

Kauê nem pensou muito no que dizer, as palavras já estavam chutando seus lábios para saírem e tudo que ele precisava fazer era abrir a boca…

-Desde quando você fuma?- questionou ele falando mansamente, mas deixando bem claro seu objetivo.

Sua avó apenas o encarou dando uma tragada, ela não parecia nervosa ou surpresa, na verdade… Ela lhe parecia bem apática… Enquanto o cigarro está em sua boca, ela mexia em uma tigela com uma massa 

-Bom dia para você também, anjo, e respondendo sua pergunta. Desde semana passada, a mãe da Pamela disse que é um ótimo calmante e realmente está me fazendo bem - respondeu ela suspirando e a fumaça saiu de sua boca e seu nariz. - Quer Migão? Vou fazer para todos, o Yancy gosta disso? 

Ele olhou para a massa que ela está batendo, Migão é praticamente uma panqueca doce, algo parecido com aquelas dos seriados dos Estados Unidos, mas sem nenhum tipo de melado que eles colocam. Claro que Yancy comeria isso, ele come qualquer coisa. 

-Deve gostar, mas Vó, você sempre disse que se eu fumasse, você ia me fazer engolir o cigarro ou então apagar ele em meus ouvidos… Isso faz mal para a saúde, ainda a mais a sua, essa sua tosse que você tem, ficou louca?! - exclamou Kauê pegando a embalagem em cima da mesa. - Isso não é calmante, isso é uma passagem só de ida pro outro lado. 

Ela retirou a embalagem de mim. 

- Só um ou outro não vai fazer mal, pare de tanto alarde, Kauê. Você não quer que eu respeite essa sua vida? - perguntou ela levantando a sobrancelha. - Então respeite a minha. Não sou uma viciada, como falei, comecei semana passada e é um ou dois por dia, apenas.

Como é?! 

-Ei, uma coisa não tem nada haver com a outra - ele tentou falar calmamente. - Vó, o que está havendo? Você é religiosa, nunca colocaria algo assim na boca, a mãe da Pamela é uma hipócrita por te recomendar isso, qual o problema? Você sempre diz que Deus não gosta dessas coisas. 

Ela contorceu o lábio em um ligeiro sorriso sem dentes… 

-Deus… Deus… Ás vezes penso que Deus é uma criança, uma enorme criança com uma fazenda de formigas e nós somos as formigas… - suspirou ela de forma bem abatida… 

A mente de Kauê começou a se bagunçar cheia de questionamentos… Pois, ela não está normal, ela nunca diria algo assim… Poxa, será que ela ainda está chateada pelas coisas de ontem? Não foi pra tanto… Ou será que… Não, ele nem quer pensar no que acabou de cogitar…