Capitulo 11 - Eu sou abençoado

215 31 64
                                    

Eu to tão puto, mas tão possesso de raiva que sinto meu sangue ferver! De novo! De novo estão me acusando de um absurdo que não fiz! Eu… Nossa… Que ódio! QUE ÓDIO! Minha vontade é matar todo mundo para calarem a boca! Para pararem com toda essa merda para cima de mim! 

-PURÊ! - Tufão veio voando ao meu encontro. - Você está bem? Eu vi que algo te puxou para dentro da água! Quem foi?! Quem se atreveu a fazer mal a você sem antes passar pelo meu corpinho gostoso emplumado! FOI VOCÊ CARA DE SARDINHA?! 

-QUEM É ESSA AVE FALANTE QUE SE ATREVEU A ME INTERROMPER?! - disse o Yacuruna.

-E QUEM É A SENHORA PARA QUERER PAGAR DE LOUCO AQUI?! VAI O NEMO QUE DEU ERRADO! - gritou Tufão de volta ameaçando ir para cima do Yacuruna. 

- Tufão… Eu cuido disso, por favor… - o puxei de volta.

- Não, Kauê! Você é pequeno, magricela, usa cueca dos três porquinhos, precisa que um homem o defenda e nós sabemos que em nossa casa o homem sou eu, salvo quando o Yancy está lá - respondeu ele… MEU DEUS AMADO SOCORRO! 

-TUFÃO! - berrei. - QUIETO! NÃO ME DEFENDA! 

-Essa atitude foi uma afronta, Curupira! Um total desrespeito! Eu exijo! Exijo que o infrator seja punido de acordo com as leis de meu povo! - dizia o Yacuruna com o bracelete e ele apontou seu dedo escamoso para Açaí. - E  COMO SE NÃO BASTASSE, ESSE DAI COMEU A MINHA ORELHA! 

Açaí passou a língua nos lábios. Agora entendo a razão dele estar com hálito de sangue. Todo mundo o encarou, estupefatos pelo seu ato. 

-Comi mesmo! Você pegou meu amigo e tentou afogar ele, eu deveria ter arrancado a sua cabeça! - berrou Açaí sem qualquer medo fazendo sua cabeça se transformar na de jacaré para zombar deles.   

-ISSO JUNINHO DA CAIPORA! Arranca a cabeça dele! - dizia Tufão. 

-COMO É?! AINDA ME AMEAÇA?! VOCÊS PERDERAM O JUÍZO? QUEREM GUERRA?! - gritou o sem orelha, batendo sua cauda de peixe no chão com voracidade. 

-Por favor, vamos nos acalmar. Açaí, por favor - pediu o Curupira pacientemente. Ele parecia perdido, buscando as palavras certas, seu olhar se direcionou para o Yacuruna raivoso. - Príncipe, estamos todos nervosos, sua acusação é grave, sei que tem uma prova bem ali, mas não acredito que tenha sido o Kauê. Primeiramente, aquela não é a letra dele, posso provar isso. A letra dele é um garrancho que os professores precisam decifrar por horas, mas naquele pacote está tudo bem claro e visível. 

Nossa Curupira… Não precisava falar tanto assim a verdade… 

-Curupira, acha que vou acreditar em você? Você sempre vai defender os pirralhos dos deuses, a séculos que você deixou de se importar com nós, os seres folclóricos e começou a ser baba desses fedelhos! Eu quero uma audiência com o Cacique! O que houve não vai ficar impune! Eu vou levá-lo! - exclamou ele se aproximando de mim, mas os dois Yancys se colocaram na minha frente assim como Daniel, Açaí e Evelyn. 

- Não vai tocar nele, não vai levar ele a lugar algum - disse Yancy. - Não foi ele. Ele seria incapaz de fazer tal coisa. 

-E quem é você para nos contestar?! Mortal? - disse o cara de peixe.

Nuvens se formaram no céu e trovões começaram a explodir… Um forte cheiro de ozônio tomou todo o local. Os dois Yacurunas que ficaram para trás pareciam ter urinado nas calças…  A é, eles não usam calças… 

-Filho de Tupã - respondeu Rafael mostrando um olhar ameaçador ao abrir seus olhos e uma luz elétrica saiu deles. - Se não quer virar sardinha frita, recomendo que se afaste, não vai tocar nele. Vai ser morto antes de cogitar tentar e não estou brincando! 

Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora