Capítulo 2 - O Boto Cor-de-Rosa

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A notícia foi tão horrível que até esqueci da dor de meu braço perfurado por uma agulha enorme gigantesca! 

É incrível de como as coisas estão ruins e é mais fantástico ainda de como elas conseguem piorar! Não acredito que Danzo é o Pajé… Aquele homem é um crápula sem igual, um boçal… Os deuses só podem estar malucos! Como puderam escolher ele? Justo ele? Agora sim, não só a vaca da Iracema foi pro brejo, mas toda Eldorado… Não, eu não gosto dele, e sei que é recíproco, a presença daquele homem me deixa nervoso de um jeito que não sei explicar… Nem mesmo Victor que é irmão dele, tem uma opinião boa sobre ele… A questão é, e agora? O que vai acontecer? Como vai ser? Estou realmente me questionando se devo ir a Eldorado… Sem Yagura lá as coisas são diferentes… Devo voltar? Tenho certeza que todos vão ficar felizes se eu não voltar… Principalmente Raoni e Danzo… Sem dizer muitos outros, mas quer saber, estou cagando e andando para eles agora, vão ter que me suportar. Estou de consciência tranquila e coloquei na minha cabeça que isso já é o bastante para mim. A Cuca e minha irmã, a Boiuna me disseram que quando os outros não acreditam na gente e nós somos as vítimas, devemos sempre acreditar em nós mesmos e é isso que estou fazendo ultimamente, eu não fiz nada, não tenho culpa de ter nascido, não tenho arrependimentos em relação a isso e nem devo, agora sobre a morte de Yagura aí sim, eu sinto que carrego uma bagagem enorme de culpa… Eu… Vou reparar esse erro, eu juro, não serei mais fraco, não irei evitar de agir se for necessário… O que aconteceu, não vai acontecer de novo…

Yancy e eu chegamos em minha casa, Victor voltou para a casa dele, pois ele disse que tinha que escolher uma roupa e pelo jeito levaria a tarde inteira para isso, perguntei se um dia ele se casar, quem vai chegar atrasado no altar seria ele? Ele me mostrou a língua de forma infantil e riu. Na verdade ele disse que também tem outras coisas para fazer, como consertar a moto do tio dele, só espero que ele não use fita adesiva. Tempestade ficou aliviada em se transformar de volta em papagaia, Kátia não está em casa no momento, então, Tempestade e Tufão podem fazer a festa. Minha avó com certeza está no restaurante, é horário de almoço, isso explica o tanto de carros estacionados. Abri a porta e entrei primeiro…

-Com licença - disse Yancy atrás de mim com tempestade em seu ombro. - Kauê, tem algo novo no chão da sua sala? Estou sentindo algo pesado e grande na nossa frente que não estava aqui antes quando vim. 

Antes de responder ele, acabei tocando a ponta de meu tênis no novo tapete de veludo  de minha avó, já levantei voo ao me lembrar que não posso pisar nele com os pés calçados, ninguém pode na verdade… Minha avó é aquele tipo de pessoa que não pode ver nada na promoção que já vai comprar, o problema dela é que ela gosta de comprar coisas inúteis… Pelo menos na minha opinião tipo, para quê precisamos de um enorme tapete de veludo? Que praticamente engole seu pé ao pisar nele e é todo vermelho e escrito: JESUS TE AMA, em dourado. Ela disse que é para decorar a sala, o problema é que nossa sala já é cheia de decorações como quadros, pinturas, as medalhas de meu avô possuem um enorme destaque na parede, o tapete acaba sendo algo ignorado se for pensar logicamente, principalmente quando ela não quer que se pise nele com os pés calçados para não sujar ele. 

Logo percebi que minha mão pegou a mão de Yancy de maneira automática e o puxei para cima para impedir que ele também pisasse no tapete. 

-Ta, seja o que for, não posso pisar nele pelo jeito  - sorriu  ele.

-É apenas um tapete, mas minha avó gosta de ser exagerada e dramática - respondi e o puxei até o fim do mesmo. - Engraçado que o povo do bingo da igreja que ela trouxe aqui para comer de graça no restaurante dias atrás pode sapatear e dançar em cima do tapete com qualquer calçado que ela não falou nada, mas é claro, eles podem.

- Olha só, pela primeira vez você me carregou - sorriu ele de um jeito irônico. - Evoluímos nas aulas.

Ele estava me ensinando a voar, a voar de um jeito que não incluísse desabar no chão ou não levitar quando fosse necessário… Olha, foi uma tormenta, eu não conseguia me sustentar tão bem no ar… Cai várias e várias vezes, mas nunca cheguei ao chão, ele sempre me segurou no último segundo possível, isso durou 4 meses inteiros até que finalmente peguei jeito, consigo controlar. Como falei antes, eu não parei de treinar todos esses meses e não irei, eu até mesmo comecei a praticar magia com a Cuca em certos horários. Como os deuses estão com as armas de meu pai, o cajado e o livro de feitiços, a Cuca me ensinou o básico que ainda preciso aperfeiçoar… A energia dos filhos de Yushã tem a coloração roxa, a minha é laranja. Eu aprendi no máximo a lançar rajadas de energia e a criar escudos, mas meu nível ainda está bem abaixo… A Cuca disse que tenho que me esforçar muito ainda… 

Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De EldoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora