Livro 3: Kauê e os filhos da Amazônia - O Sangue De Eldorado

Capitulo 12 - Eu te amo...

"Ele disse que te ama…" 

Essas palavras estão ecoando pela minha cabeça, se repetindo várias e várias vezes… Estou sentindo muita coisa… Felicidade, alegria, emoção… Sim, mas… Ao mesmo tempo aquele questionamento… Como ele pode me amar? Ele não me conhece, eu mesmo não consigo dizer que amo ele, como posso amar alguém que nunca vi? Que… E além do mais tudo isso que ele representa, o que estou vivendo por ser filho dele… Não sei dizer se o que sinto por ele chega a ser amor… Mas ele me falando isso, se ele disse isso mesmo, meu pai conseguiu me quebrar por dentro… Totalmente… Fiquei tanto tempo digerindo a informação que a própria Deusa começou a chamar minha atenção. 

-Menino? Eu falei algo de errado? Ficou pálido, igual a cor da cueca branca que Rudá comprou numa liquidação de um brechó mês passado, dava para ver as partes intimidar dele totalmente, perguntei se não era mais fácil ele andar sem nada - respondeu a deusa. - Acho melhor nem te contar o resto da mensagem.

Resto?! 

-O que ele falou?! Por favor me diga! - me exaltei… Sei que não devo falar assim com uma deusa, mas… 

-Para você se cuidar, que ele reza todo dia a Nhamandu para que você esteja bem, algo assim… Preciso confessar, nunca fui muito fã de seu pai, mas senti muito amor e afeto das palavras dele - respondeu ela. - Não é normal um deus falar assim de um filho deles… Eu até o questionei sobre isso e ele falou quase em lágrimas que me espantou, acho que ele se emocionou a falar de sua mãe, ele falou que te amou Kauê, desde quando soube que você ia existir, foi ele que escolheu seu nome. "Kauê", que significa na linguagem indígena dos deuses, "Bom Homem", ele espera que você seja um bom menino. 

Senti minhas pernas amolecerem… a emoção tomou conta de mim… Anhangá, meu pai… Nunca pensei que fosse ouvir algo assim dele… Nunca mesmo! Isso só me dá mais vontade de querer ver ele… Ver… conversar… Assim como foi com minha mãe… Pai, eu ainda não posso dizer que te amo, mas… 

- Bom, foi isso que ele me pediu para lhe falar, menino, vejo que ficou feliz. Até que você não é tão ruim, ouvi os outros deuses falarem de você com certo receio e arisco, mas nunca havia prestado muita atenção em você - sorriu ela. - Mas sinto que tem uma boa aura, me lembra muito meu irmãozinho… 

-Irmãozinho? - perguntei me acalmando um pouco… mas ainda muito emocionado. - Ele é um deus também?  

-Não… O fim dele foi diferente do meu, mas quer conhecer ele? - perguntou ela sorrindo. 

Essa deusa… Ela não é como os outros. Ela fala como se fosse uma mortal, uma amiga, algo assim, e sua força divina é calma, em nenhum momento senti ela colocar pressão em cima de mim. E mais uma coisa, ela não parece ter qualquer aversão a mim e até mesmo ao meu pai, talvez… 

-Vou aceitar sua cara de bobinho como um sim, você voa, não é, filho de Anhangá? Ótimo, não terei que te carregar, mas você vai precisar disso aqui - ela tirou de dentro de seus peitos encobertos por um tecido preto, um pó brilhoso e prateado e jogou em cima de mim e o pó me encobriu inteiro, formando uma camada protetora ao meu redor. - Pronto, isso vai te ajudar a respirar lá e a aguentar o frio, já que você é humano, bom, metade humano. 

Ela levantou voo rapidamente subindo como se seu corpo se transformasse em uma estrela cadente que sobe para cima. 

Eu a segui o mais rápido que pude, meus olhos até chegaram a doer de tão rápido que fui, sem dizer meus músculos… Senti que atravessei a barreira de Eldorado é ela continuou a subir, a subir… A subir… Onde diabos ela tá querendo chegar?! Até Então eu não tava olhando para baixo, mas quando olhei, eu vi que estava tão alto, mas tão alto que nem via mais Eldorado, só via nuvens e mais nuvens…  Meu Deus! Eu tô quase chegando já atmosfera! É muito alto! Muito alto! Até que BAN! EU dei minha cabeça com força, mas muita força em uma barreira invisível e quando me dei por mim comecei a cair!