47

134 6 0
                                    

— A noite em que você terminou as coisas? — Peço que ela esclareça. Aquela noite não é a que me assombra. Essa não é a noite que é indescritível para mim.
Anahi fica de pernas trêmulas, de costas para mim. Pegando a mochila e abrindo o zíper enquanto fala.
— Eu só não gosto de pensar em como as últimas vezes que o vi eu o estava recusando. — diz ela com um toque de emoção que não gosto de ouvir. O tipo de emoção que é indicativo de amor.
Um amor que eu tenho certeza que ele tinha por ela.
— Você não foi a primeira garota de dezessete anos a terminar um relacionamento no ensino médio. — lembro a ela e a mim também. Era um amor adolescente. Isso é tudo que sempre foi.
— Sim, bem, eu não sabia a que isso levaria. — diz ela e sua voz treme ao vestir uma calcinha e calça de moletom.
Não sei se quero saber a resposta, mas tenho que perguntar.
— Então, se você pudesse voltar?
Anahi fica quieta com a minha pergunta e eu ando em
direção a ela, embora ela ainda esteja de costas para mim.
— Se você pudesse voltar, ainda estaria com ele? — Sua hesitação faz meus músculos apertarem. Meu punho aperta como
um tique nos espasmos da minha mandíbula.
Eu tenho me enganado para pensar o contrário. Claro que ela estaria com ele e não comigo. Minha respiração fica irregular quando ela responde.
— Se ele estivesse aqui agora... — ela começa a dizer, mas eu a interrompo.
— Ele não está, e ele nunca estará. — A raiva fervilha. Tudo o que foi pressionado por tanto tempo sobe rapidamente. Todos os anos de controle e negação.
O ódio de que meu irmão foi tirado de mim. E a dor de saber que foi minha culpa e que nunca contei a ninguém. Eu poderia contar a ela agora. Mas eu nunca faria isso. É tarde demais para confessar.
Anahi se vira para mim com os olhos arregalados.
— Não diga isso.
Talvez seja a negação, a culpa que me atormenta. Mas eu zombo dela.
— Você acha que é fácil para mim? Você superou sua morte muito mais fácil do que eu.
Não vejo o tapa vindo até que a picada cumprimente minha bochecha. Minha mão se move instintivamente para onde ela me atingiu. Flexiono minha mandíbula e sinto a queimadura irradiar pelo lado do meu rosto.
Seu semblante bonito está vermelho vivo de raiva e seus olhos se estreitam. Eu nunca a vi tão cheia de raiva. Nunca. Suas mãos tremem enquanto ela grita comigo.
— Você não sabe quantas noites sua morte me assombrou!
Eu sei. Sua voz está trémula e eu sei que ela está à beira das lágrimas. O tipo que o paralisa porque elas são tão avassaladoras. Mas, em vez de ceder à dor, ela grita comigo.
— Você não sabe como eu me culpei a ponto de implorar que Deus me matasse e me deixasse tomar o seu lugar. — Ela respira profundamente a cada respiração.
Eu sei. A adrenalina corre pelo meu sangue. O ódio, a vergonha e a culpa implacável surgem dentro de mim. E não posso dizer nada de volta. Não posso ter essa conversa com ela.

Possessive - Anahi e Poncho (Adaptada) AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora