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A noite em que Tyler morreu, eu vi tudo acontecer. Eu estava lá e ouvi os pneus guincharem. Na lembrança, posso sentir praticamente as gotas de chuva geladas daquela noite atingindo minha pele. Eu ligo a torneira para o mais quente que pode ir e espero até que o vapor encha o quarto. Entro no chuveiro, ignorando como os sons de água caindo são tão parecidos com a chuva naquela noite quando parei do lado de fora da loja da esquina. Ele chamou meu nome. Meus olhos se fecham e minha garganta fica apertada quando ouço a voz de Tyler.
A última coisa que ele disse foi o meu nome quando entrou na rua. É preciso muita coisa para deixar uma pessoa, porque você se apaixonou por outra. Alguém que nunca amará você de volta. É preciso ainda mais do seu coração para testemunhar a morte de alguém que realmente merecia viver. Mais do que eu jamais vou merecer. E saber que eles morreram porque estavam procurando por você... Deus e o destino não são gentis ou justos. Eles levam sem motivo. E o mundo está perdido porque Tyler foi tirado de nós.
Eu pensei que estava fazendo a coisa certa, deixando ele. Eu não sabia que ele viria me procurar. Se eu pudesse voltar atrás, eu faria diferente. A água bate no meu rosto e eu finjo que as lágrimas não estão lá. É mais fácil chorar no chuveiro. Eu estava bem até que vi Alfonso novamente. Demorei anos para me sentir bem. Essa é a parte que eu não consigo superar. Talvez seja isso que é uma recaída? Um momento e perdi toda a força que ganhei ao longo dos anos. Toda a aceitação de que não posso mudar o que aconteceu e que tudo ficará bem. Tudo se foi em um instante.
Eu encosto minhas costas contra a parede fria de azulejo e afundo no chão. As minhas costas sentem o granito liso, enquanto eu me sento lá, deixando a água cair sobre mim enquanto me lembro daquela noite repetidamente. Apenas alguns momentos em particular. No momento em que Tyler me viu, no momento em que ele falou meu nome e se aproximou de mim. No momento em que gritei ao vê-lo entrando na estrada. O carro estava bem ali. Não houve tempo. Não importa como eu me joguei para a frente, correndo em
direção a ele, mesmo quando o carro o atingiu. Eu juro que agi o mais rápido que pude. Mas não foi o suficiente.
Minha cabeça descansa em meus joelhos enquanto meus ombros tremem.
A vida não deveria ser tão cruel. Não para ele.
— Respire fundo. — digo a mim mesma.
— Uma de cada vez. — Eu digo, secando meus olhos, mesmo que a água ainda esteja caindo.
Levantar faz-me sentir fraca. A água é mais fria, mas o ar ainda está quente. Apenas respire. Quando abro a porta do chuveiro para inalar um pouco de ar frio, ouço alguma coisa. Meu coração pára e meu corpo congela. A água ainda está ligada, mas meus olhos olham fixamente para a porta do banheiro.
Os espelhos estão embaçados, embora eu tenha deixado a porta ligeiramente aberta. Um segundo passa e depois outro. Meu corpo se recusa a mover-se mesmo depois de eu mesma tentar pegar a toalha. Meus dedos ficam brancos e me mantêm onde estou. Eu sei que ouvi alguma coisa. Algo caiu. Ou algo foi empurrado. Algo além da porta. Alguma coisa. Eu não sei o quê, mas eu ouvi alguma coisa. Eu me forço a dar um passo no tapete de banho e depois outro no chão de ladrilhos.
Eu continuo me movendo. Pego a toalha com as duas mãos e, em seguida, envolvo-a em torno de mim mesma, embora não consiga tirar meus olhos da porta.
A água escorre pelas minhas costas, mas eu não me incomodo em secar meu cabelo. Me faço abrir a porta e ela geme em protesto como abro. No segundo em que está bem aberta, sinto-me tola. É só uma foto que eu coloquei com tiras de fita penduradas. Caiu e a tinta na parede onde estava pendurada, um azul da Tiffany, está estragada. Eu deveria ter usado pregos ou parafusos para pendurá-la. Mesmo quando pego a foto e reviro os olhos, meu corpo ainda está tenso; meu coração ainda acelerado. O quadro está rachado e quebrado. Quando coloco na cômoda, vislumbro o pedaço de papel que Alfonso me deu. É um pedaço de algo, talvez uma conta, não tenho certeza. Mas é o seu número. O número que eu mandei, para que ele tivesse o meu e perguntasse quando podíamos nos encontrar. O número que não respondeu, embora a mensagem tenha sido marcada como lida. Deixo o papel lá com o quadro quebrado e volto para o banheiro para finalmente desligar a água. Mas eu paro mesmo antes de entrar. Espreitando a porta do meu quarto, um frio percorre minha espinha. Não me lembro de tê-la deixada aberta.

Possessive - Anahi e Poncho (Adaptada) AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora