Lar doce lar

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James não se cansava nunca, mas já deviam ter se passado mais de 10 horas. Já estava escurecendo embora tenhamos saído da vila dos lobos de manhã bem cedo. Do nada, ele diminuiu a velocidade e me colocou no chão.
- Faltam dez minutos para chegarmos na mansão. Acho melhor você se exercitar, está a horas na mesma posição. - explicou andando.
- Tá bom.
Andamos em silêncio. Tirei o gorro e abaixei a máscara. O calor já estava familiar novamente. Inspirei fundo o ar novamente. Dois meses sem respirar, era meio estranho. Começamos a subir o morro e eu sabia onde estava. Estava indo pra casa. Comecei a apressar o passo mas a costela me impedia de correr. Quando cheguei na reta, olhei pros lados. Lá estava a piscina e o parquinho. Olhei pra frente e a porta estava aberta e parado nela como estátua, estavam os Bartholy. Parei de andar olhando eles como se não pudesse acreditar. James deu três passos para a frente sorrindo para eles e confirmou com a cabeça, uma pergunta do Peter que lia os pensamentos.
- É ela? - perguntou Drogo com os olhos arregalados.
- Sim, não sei se você notou, mas ela é quente, Peter não lê pensamentos dela e parece que o coração bate forte para ela ser uma vampira. - respondeu James irônico.
- Bella. - falou Peter me olhando e se aproximando como se eu não fosse real. Ele tocou no meu rosto para confirmar isso.
- Sou eu, Peter. - confirmei tocando em sua mão fria. Comecei a sorrir de alegria. - Eu voltei. - repeti triunfante.
- Bella, você tá aqui. - falou como se não estivesse acreditando. Seus olhos que estavam um verde sombrio, se iluminaram e senti o seu sorriso radiante se abrir.
- Eu tô aqui, eu tô bem. - murmurei abraçando-o.
Ele retribuiu fortemente. Uma mão na minha nuca e a outra na minha cintura. Soltei o ar que não sabia que estava segurando. Abracei forte em suas costas, tomando cuidando com minha mão e coloquei meu nariz em seu pescoço inspirando seu cheiro. Era tão bom. Ele me soltou muito tempo depois, com a mão em minha bochecha. Sorri levemente para ele e ele beijou minha testa de leve.
Ergui minha cabeça e andei lentamente aos outros dois Bartholy. Drogo veio e pouco se importando com sua fachada de bad boy, me abraçou forte. Retribui e ele beijou minha cabeça, algo que me surpreendeu mas me deixou mais tranquila. Ele estava aqui também.
- Senti sua falta. Todos os dias. - murmurou em meu ouvido.
- Por mais que eu não estivesse consciente nesses dois meses, garanto que no fundo eu também senti. - sussurrei inspirando seu cheiro também. É real.
Soltei-o e ele sorriu para mim feliz. Mordi o lábio e segurei o choro de novo, mas tudo desmanchou quando vi o rosto do Nicolae. Corri em seus braços e chorei e ri. Abracei e ele fez carinho em minha cabeça.
- Senti sua falta, irmã. - murmurou.
- Eu também. Muita. - respondi escondendo meu rosto em seu ombro.
Me afastei muito depois e sorri. Sorri para eles, para James, para a mansão.. eu só sorri. Não havia o que fazer, era tudo real. Eu tinha voltado.
- Cadê a Kitty? - perguntei limpando o rosto.
Como se fosse a deixa, ela apareceu correndo e pulou em meus braços. Quase tombei pela dor na mão e na costela mas Nicolae me sustentou. Enchi ela de beijos na bochecha e na cabeça e ela estava sorrindo radiante.
- Você é a Isabelly verdadeira! - comemorou.
- Sim, graças a você eles souberam. Você me reconhece bem, mesmo com uma vampira igual a mim.
- Óbvio! Você não deixa eu fazer tudo o que eu quero, quando eu quero. Você me põe limites e ainda assim é paciente e gentil. Diferente da outra Isabelly no porão presa. - explicou revirando os olhos. - E meu apelido é praguinha, não pestinha. - acrescentou bufando.
- Isso aí, praguinha. - parabenizei botando-a no chão.
Um movimento repentino me fez entrar em guarda alto automaticamente. Os Bartholy sequer se mexeram, então me tranquilizei. Um lobo marronzinho se aproximou e do nada, virou o tão humano que eu me lembrava, Seth.
- Ei, que bom que está bem e voltou! - exclamou me abraçando.
- Digo mesmo. Senti sua falta também, Seth. - falei apertando-o forte. - Onde estão os outros lobos? - perguntei.
- Voltando do continente do lado. Eles estavam te procurando também. Todos nós. James foi o sortudo e achou antes.
- Tenho meus antigos contatos. - concordou James sorrindo levemente.
- Obrigada.. James. - agradeci hesitante.
- Foi fácil e não me ocupou tempo. Não tive nenhuma preocupação.
- Não era você que estava nos apressando em pânico para procurar novamente nas florestas e nas ruas? - perguntou Drogo.
- Ah, cala a boca! - retrucou.
- Não importa. Tô feliz de ver vocês.
- Tem algum machucado? Chloe te machucou? O que você tem? - perguntou Nicolae.
- Acho que quebrei meu pulso. E minha costela dói. Mas garanto que não tá tão ruim, fiquei dois meses no frio.
- Mas eu vou dar uma ajeitada em você. Fique tranquila que não vai voltar pra universidade agora, só daqui a umas duas semanas.
- Mas eu preciso recuperar o tempo perdido...
- Peter ou Drogo irão te ajudar. Mas o importante é você se recuperar.
- E eu? Eu assisto aulas também. - comentou James.
- Você já a achou. Deixa com a gente agora. - falou Peter tocando no ombro do James. Incrivelmente ele estava sendo normal com o irmão e isso me surpreendeu.
- Já que insiste, irmão. Mas se não se importar, pretendo ficar na mansão por um tempo.
- Há um quarto para você perto do Drogo. Corredor da direita. - avisou.
- Valeu, maninho. - agradeceu James rindo e foi embora.
Entrei na mansão e fui para a sala. Na mesinha do lado do sofá, tinha um retrato com uma foto minha. Deitei no sofá e Nicolae começou a observar minha costela. Ele pegou um tipo de curativo confortável e passou um líquido quente. Quando secou, a região inteira ficou dura que nem pedra e ele passou o curativo, até estar perto do meu peito, onde ele não mostrou constrangimento e nem eu. Não havia o que ter de vergonha, ele é médico afinal. Depois ele foi para a minha mãe e começou a fazer um tipo de tala. Enrolou a minha mão, delicadamente é tão leve que seu toque parecia de uma pluma. Quando terminou, sorriu para mim e se sentou em um outro sofá. Me ajeitei devagar, ficando meio sentada e meio deitada.
- Vai estabilizar daqui a alguns dias. - avisou.
- Entendi, obrigada Nic. - agradeci sorrindo mas meu sorriso desmanchou.
James apareceu arrastando a mulher em uma corrente de verbena. Ela estava amarrada dos pés ao pescoço com correntes cheias de verbena e estava sem o cordão que eu tinha visto da última vez nela. Não era igual ao meu cordão, acho que era pra ela poder andar no Sol. Vi Peter vindo até mim e em seu pescoço, estava o cordão dela seguro. Ele me ergueu do sofá e me segurou na cintura de leve. Eu encarei a mulher assustadoramente igual a mim. Ela sorriu ceticamente para mim.
- Como somos tão parecidas? - perguntei chocada demais para assimilar.
- Não fomos apresentadas. Eu sou Lizabeth. - cumprimentou maliciosamente.
- Eu sei quem você é. - retruquei.
- Que bom, adorável duplicata. - riu.
- Agora que a Isabelly está aqui, sumida a dois meses por culpa sua, podemos perguntar o que você está fazendo.
- Estou tentando parecer com minha estúpida doppleganger Isabelly. Ela tem um gosto horroroso.
- Doppleganger? - repeti indignada.
- É duplicata na língua oficial onde estão todas as maravilhosas espécies sobrenaturais. - retrucou como se fosse o óbvio. - Além de estúpida é burra? - perguntou revirando os olhos. Peter e James sibilaram.
- Você escolhe seu caminho, seus valores, suas ações, elas definem que você é. No seu caso, Lizabeth, você é uma vampira vadia que está infernizando nossas vidas.- rebateu James.
- Não tem idéia do que posso suportar. Você deve queimar no inferno. - enfrentei cara a cara.
- Por favor, eu sou Lizabeth Pierce, uma sobrevivente! Você acha mesmo que não estou sempre um passo à frente dos meus inimigos? - riu maliciosamente, achando graça das minhas ameaças.
- Por ser duplicata, estou um passo igual ao seu. - repliquei irritada. - Tire-a daqui. - pedi para James, inspirando fundo.
- Nos veremos de novo, duplicata. - prometeu mostrando os dentes para mim e indo embora teatralmente.
Vi ela indo embora e não sabia que estava tão tensa e rígida. Estava segurando tão forte a mão do Peter que meus dedos protestaram. Soltei rapidamente, flexionando devagar. Peter me abraçou por trás.
- Ei, vai ficar tudo bem. Você foi ótima enfrentando-a. - parabenizou em meu ouvido.
- Ela consegue me afetar, é ridículo. - discordei.
- Não... - discordou hesitante. Senti sua rigidez e virei para ver seu rosto. Ele estava olhando fixamente para um lugar e estava nervoso.
- Peter? O que houve? - perguntei.
- James... pensando em coisas desnecessárias.
- Tem algo errado e você não quer me contar? - perguntei insistente.
- Você acabou de voltar, Bella. Tem que descansar.
- Não, por favor. Você prometeu não mentir.
Ele fechou os olhos em sofrimento e eu não deixei de insistir. James, Drogo e Nicolae apareceram sérios. Nas mãos de James, tinha uma carta aberta e outra fechada. Seth desviou olhar e fitou o chão, um pouco nervoso. O que estava acontecendo?
- Querem me explicar o que está acontecendo?
- Victor. - murmuraram os três irmãos Bartholy.
- O que tem ele?
- Ele está chamando para o baile. Vai invocar o feitiço, que rastreia todos os seres sobrenaturais desse país. Se não estiver no baile, será descoberta Bella. - explicou Peter nervoso.
- Então eu irei. - falei prontamente.
- Todos os seres serão obrigados. Até nós. Até a Lizabeth. - resmungou Seth apreensivo.
- Beleza, eu irei. Não deve ser tão ruim. - disse indiferente. - De quem é essa carta fechada? - perguntei para James.
- É para a Lizabeth. Ela tem que ir também.
- Não! Ela vai ser solta! - falei entredentes.
- Ah não ser que a gente chame a Sheila e a Sara Osborne. - contrapôs Drogo.
- Vou ligar para elas urgentemente. Enquanto isso, tragam a Pierce e a nossa irmãzinha para cá. - mandou Nicolae discando rápido no celular.
Olhei fixamente para as chamas dançantes na lareira. Mal voltei e já estava envolvida em problemas. Soltei um suspiro baixo e fiquei serena e relaxada. Que venham esses problemas.

Os diários de uma híbrida (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora