Horas depois, Sheila, Sara e Jessica estavam na porta da mansão. Elas entraram e encararam a Lizabeth que estava em pé sob os olhares do Drogo e do James.
- O que precisa? - perguntou Sheila se sentando no sofá.
- Um feitiço que a Lizabeth não fuja. Tem que estar ligada em um de nós para ela não escapar depois do baile.
- Isso será fácil. - respondeu prontamente a bruxa sábia.
- Vó, temos que ir nesse baile também? - perguntou Sara aflita.
- Sim. Não queremos que o Caçador, vá atrás de nós depois. - murmurou Sheila fazendo o encantamento.
- Calma, o Caçador de seres sobrenaturais é o Victor?! Nosso pai?! - perguntou Nicolae e Drogo chocados.
- Sim. - respondeu Jessica sem expressão.
Então, o famoso Caçador de seres sobrenaturais era o Victor. Diziam que esse Caçador matava e roubava os poderes de quem matava. Era horrível. Então, o feitiço que ele fizesse ele poderia saber exatamente onde cada ser estava e o que era. Óbvio que eu não poderia ficar parada. Eu ia, querendo ou não. Mas como sou parecida demais com a Lizabeth, ela teria que ter mudanças.
Sheila murmurava umas coisas de olhos fechados e depois de um tempo, das suas mãos, apareceu uma pulseira preta que magicamente prendeu-se no pulso da Lizabeth que ficou frustrada. Ela tentou tirar e morder mas a pulseira não mudou em nada.
- Sr. James, solte-a. - instruiu Sheila.
Quando ele soltou, Lizabeth correu para a porta. Ela bateu em algo e deu dois passos vacilantes para trás. Ela tocou e parecia que uma barreira ou uma parede invisível estava na sua frente. Sheila prendeu uma pulseira igual no James e no Peter que se entreolharam sorrindo. Eles deram um passo para trás e Lizabeth foi empurrada também. Ela rosnou e avançou em mim mas parou apertando a cabeça. Jessica estava com a mão apontada para Lizabeth com uma expressão feroz no rosto. Lizabeth sibilou e sentou quieta num canto. Agradeci baixinho a Jessica pela defesa ágil e ela me deu um sorriso.
- Com relação a ela, está tudo bem. - afirmou Sheila.
- Muito obrigada pela ajuda. - agradeci.
- E.. quero que use isto no baile. - avisou me entregando um pote pequeno que continha um brilho cintilante. Dava pra usar com meu colar e era cintilante. - Vai saber o que fazer, quando chegar a hora. - acrescentou enigmática.
- Hã.. obrigada. - agradeci prendendo no meu cordão e deixando ele estar visível no meu pescoço.
- O baile é daqui a quatro dias. - avisou Nicolae.
- Teremos tempo para nos preparamos. - afirmou Sara de olhos fechados.
- Não se precipite, Sara. Serão centenas, milhões de criaturas em um único lugar. Será perigoso e não somos tantos.
- Mas podemos ser. - acrescentei seu pensamento.
- Como assim?
- Que tal pedirmos ajuda de uns amigos das montanhas? - perguntei. James entendeu e sorriu para mim.
Comecei a ligar para Cataliste e ela atendeu no segundo toque. Comecei a falar do baile e ela já estava ciente. Concordou em fazer alianças com o clã das bruxas, os Bartholy, a matilha do Sebastian e os três humanos: Loan, Samantha e Natan que seriam enfeitiçados em semi médiuns para o baile. Ela avisou para eu me preparar porque Victor poderia colocar os olhos em mim e eu ser a única Médium na festa seria um pouco catastrófico. Desliguei e dei a boa notícia a todos. O povo da montanha era enorme também. Tinham mais de 100 lobos lá e eles diziam se reproduzir todos os meses bastante, então...
- Eu acho que podemos passar facilmente por esse baile. Depois, só daqui a uns séculos. - falei confiante.
As bruxas foram embora um pouco satisfeitas com a boa notícia. Lizabeth foi amarrada nas correntes de verbena e foi enfiada no porão novamente. Peter pegou minhas mãos e me levou para seu quarto. Ele me abraçou e seu nariz estava em meus cabelos.
- Você não imagina o quanto eu senti sua falta.
- Eu também senti. Embora não sabia que tinham se passado dois meses.
- Eu sei, mas você está aqui. Eu.. não sinto dor quando respiro seu cheiro ou quando sinto seu sangue em meus lábios. Pensei que tinha te perdido. Quando te vi, foi um sopro de ar novamente. Incomoda o cheiro? Continua sim. Mas eu tenho vontade de ter matar? Nenhuma.
- Que bom, Peter. Você não sentir dor é perfeito.
- Eu te amo, Bella. Eternamente. Mais do que a minha própria existência.
- Eu também te amo muito. - murmurei baixinho.
Encostei minha cabeça em seu peito e inspirei seu cheiro. Era o que me acalmava agora. Fechei os olhos e me deixei levar...
Eu nunca estive tão perdida em toda a minha vida! Já era outono e as folhas caiam das árvores. Eu estava abismada por tanta coisa que eu perdi das aulas, mas com meus professores particulares, foi fácil aprender. Os dias se passaram rápidos e a confiança que eu tive a três dias atrás, evaporou. Não sei de onde eu pensei que a gente ia dar bem em uma festa com um ser sobrenatural antigo é extremamente poderoso. É o Caçador afinal!
Peter e Nicolae andavam comigo pelas ruas até uma loja com roupas de roupas finas de baile ou festas chiques. Entramos e comecei a procurar um vestido com um preço barato, afinal, eles disseram que iam pagar e eu não queria me aproveitar deles.
- Você devia usar esse vermelho. - comentou uma voz. Me virei e James estava na mesma loja, com uma roupa na mão.
- Não sei, pra ser bem sincera... - respondi em dúvida.
Passei por outro corredor de vestidos e me prendi em um. Era um azul magnífico. Não tinha mais nenhum vestido em minha mente. Toquei levemente e eu amei. Era perfeito e único. Nicolae se aproximou e viu meu olhar para o vestido.
- É esse. - comentou pegando o vestido e levando pro caixa.
- Mas é caro...
- Isabelly, somos literalmente podres de milhões, bilhões, trilhões...
- Tá bom, já entendi. - falei erguendo minhas mãos.
- É como se eu fosse gastar 1 centavo. - acrescentou.
- Caraca... - murmurei.
Saímos da loja, todos com roupas e fomos pra mansão. Eu estava nervosa. Era amanhã a noite.
- Eu posso te maquiar e mexer nos seus cabelos para você ficar bonita. - garantiu Kitty.
- Eu tô nervosa. - admiti mordendo meu lábio lábio.
- Porque?
- Vou conhecer seu pai. - murmurei.
- Ele vai gostar de você. - garantiu.
- Não tenho tanta certeza.
- Ele não é o melhor de conversar e fazer elogios, mas no fundo vai te amar.
- Amar em que sentido, Kitty? De me matar?
- Não vou deixar. - prometeu.
Minha cabeça estava um caos. Todas as coisas que disseram passavam pela minha cabeça. Ele matava por poder. Era perigoso. Misterioso. Antigo. Mau. Segurei minha cabeça com as duas mãos e entrei em pânico.
- Isso não é justo. - sussurrei.
- Isabelly? - chamou Kitty.
- Eu perdi minha cabeça. - murmurei.
- Calma, não entra em pânico. - mandou Kitty mas eu já estava.
Sai de perto dela e desci um bando de escadas. Comecei a fazer força contra as paredes. Só depois que notei que fui parar no porão onde estava a Lizabeth. Olhei pela janela e ela estava como eu. Mais feroz, porém em pânico. Se ela estava viva fugindo a 500 anos e está indo direto para a toca do leão, realmente era um saco. Encostei a cabeça na porta e ela ouviu. Ficou cara a cara comigo, cética.
- O que veio fazer aqui, duplicata?
- Eu sei que você está em pânico como eu.
- Eu sou uma sobrevivente. Não tenho medo de um baile.
- Eu vi, as vezes é decepcionante como você se esconde sem sua humanidade.
Ela rosnou e socou a porta mas não se abriu. Ela se afastou e colocou a mão na cabeça, frustrada. Toquei na minha cabeça inspirando fundo.
- Eu estou perdendo a cabeça. - dissemos juntas.
Ela me olhou rindo levemente me olhando de baixo pra cima. Revirei os olhos para ela e fui embora. Segurei forte meu cordão e o frasquinho que Sheila me deu. Eu tinha que manter a calma.
- Ei coitadinha, você tá bem? - perguntou tocando no meu ombro.
- Mais ou menos. Tô meio nervosa e perdida com tudo isso de dois meses enterrada na neve e agora esse baile...
- Eu sei, mas vamos estar com você o tempo todo. Relaxa. - confortou.
- Estou tentando pensar assim. - falei trincando os dentes.
A noite chegou e eu deitei na minha cama. Virei pra um lado, pra outro, pra cima, pra baixo e repeti esse processo várias vezes. Deitei no chão, na janela, no sofá, na mesa, na cama e nada. Eu não pegava no sono e estava mais nervosa ainda. Soltei um suspiro frustrado e sentei no chão inspirando fundo. Senti três rajadas de ventos fortes e quando abri os olhos, Drogo, Peter e James estavam na minha frente. Nicolae surgiu depois sorrindo.
- Noite difícil? - perguntou Nicolae sentando ao meu lado.
- Sim, tô agitada. E pra vocês? - perguntei.
- Está agitada também. - comentou Drogo estalando as mãos.
- Estamos aqui para tentar relaxar e tentar.. se conhecer melhor. - falou Peter hesitante. Vi ele rígido ao lado do James. James estava impassível e evitava olhar para o irmão.
- Bom.. que tal perguntarmos coisas uns pros outros? Mas temos que ser sinceros. - pensei ficando animada. - Eu começo! James, você tem algum segredo que você fica lembrando toda hora? Se sim, qual seria? - perguntei ágil. Ele grunhiu e eu sorri.
- Ah, tenho. Pessoas importantes para mim tiveram memórias apagadas para não se machucarem e não lembram de nada. Fiz para proteger mas as vezes penso, se era melhor saberem ou não. - contou um pouco tenso.
- Ainda pode mudar isso, se quiser. - falei um pouco amolecida por ele ter se aberto sobre algo pessoal.
- Não tenho tanta certeza. - respondeu olhando em meus olhos. Pisquei e desviei o olhar para o Peter.
- Sua vez, Peter. Liste as 10 pessoas que você salvaria. Não vai dizer que você gosta mais de um ou de outro, seria apenas um exemplo, relaxe. Não tem ordem, só liste.
- Tá bom. Primeiro você, depois a Kitty porque não me perdoaria vê-la sofrer, Drogo, depois Nicolae... - começou mas hesitou. Ele trincou os dentes e soltou um suspiro alto. - James, Sebastian, Sara Osborne, Seth, Leah e por último Jessica. - terminou sobressaltando a mim e ao James. Vi James segurando o sorriso e Peter revirou os olhos com a atenção só nele.
- Gostei da resposta. - parabenizei. - Nic, sua vez. Um desejo que você queira pra esse ano.
- Não é um desejo apressado, mas quando você quiser ter seus poderes de volta, mesmo se for demorar meses, anos ou décadas, quero tentar ver minha noiva. - comentou animadamente. O desejo dele cortou meu coração e eu olhei pro chão.
O quão egoísta eu era pra pensar em mim como humana e tirar a oportunidade dele ver o amor da vida dele? Eu poderia ser humana depois, sem problema algum. A minha dor depois, seria aplacada se ele estivesse uma vez feliz. Eu ia fazer isso logo. Esse desejo dele ia acontecer logo, era uma promessa.
- Sua vez, Drogo. Algo que você se arrepende.
- Me arrependo de ter me apaixonado por aquela garota, que queria me usar. Depois ela sumiu. Idiota. - murmurou irritado.
- Não escolhemos quem amamos. O amor acontece com as pessoas mais parecidas e diferentes. O seu não foi recíproco, mas foi lindo da sua parte. - discordei sorrindo.
- Acho que foi. - concordou sorrindo divertido.
- Sua vez, Isabelly. - comentou Peter. - Algo que se arrepende.
- Tempo. Perdi dois meses sem vocês. É a única coisa que sempre está na minha frente e sabe de todas as minhas decisões.
- Minha vez de perguntar. Algo traumático pra você. - comentou Drogo.
- Quando meus pais morreram. Não sentia mais o chão. Eu não sabia mais levantar, não sabia o que fazer. Era eu presa em uma dimensão de coisas horríveis. - expliquei rapidamente. - E.. eu me lembro de algo. Uma.. ponte. - murmurei sem me lembrar direito. Pelo canto do olho, vi James se remexer mas nada demais.
- O que você deseja futuramente? - perguntou Nicolae.
- Difícil pergunta, Nic. Ficar com vocês eternamente. É algo que eu quero futuramente. Já pensei muito sobre isso e eu adoraria. - comentei sincera. Eles prestaram atenção e a única pessoa que fez careta foi o Peter, os outros sorriram entre si. - E uma coisa que sempre pensei quando criança, que era me casar. - acrescentei mas parei ficando vermelha como um tomate.
- Casar? - perguntou Nic animado.
- Sim, sempre quis. - admiti sorrindo.
Os três olharam para o Peter que olhou pra mim em silêncio. Fiquei muda. Que constrangedor. Peter sorriu para mim e eu sorri de volta. James se remexeu e Peter sibilou.
- O que eu perdi? - perguntei. Já sabia que falaram por pensamento.
- Nada demais. - murmuraram os dois irmãos.
Suspirei, ainda curiosa e deitei no colo ou ninho que o Nicolae fez. Suas pernas eram até que macias para um vampiro. Comecei a ouvir eles conversando sobre as minhas perguntas e as vezes eu até interrompia rindo das histórias deles. O que eu notei, era que Peter e James não estavam tensos e conversavam como se fossem realmente amigos. Eu sei que muita coisa precisava ser resolvida entre eles é que só porque estávamos todos juntos, não quer dizer que eram amigos. Mas era alguma coisa.
Acho que se passaram horas e o sono veio. Não sei quando ou em que conversa estava, eu adormeci de verdade.
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Os diários de uma híbrida (Vol.2)
ParanormalA continuação da história da nossa Médium🥰💗 *** Isabelly em um ano venceu batalhas avassaladoras, conquistou a confiança de várias pessoas e mostrou a si mesma que merece um recomeço. Ela está em seu segundo ano na universidade e continua como au...