Descoberta preocupante

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  Acordei com a cabeça ardendo. Estava de volta no hotel não sei como. A garrafa de Whisky estava na mesa e eu tinha me lembrado de tudo que aconteceu. Um vampiro misterioso chamado Jasper que me atacou e depois controlou meu surto de pânico pelas ilusões da minha cabeça. Nunca bebi tanto mas nunca fui tão livre. A bebida me fez esquecer de tudo, até do Klaus, por incrível que pareça. Até da distância dos irmãos Bartholy.
  Edwiges apareceu na janela e eu me ergui me espreguiçando. Estar de ressaca não era exatamente legal, mas foi bom aquelas horas no bar.
- Bom dia, amiguinha. - cumprimentei.
  A coruja entrou e tinha duas cartas na mão. Peguei a primeira e vi que era dos irmãos Bartholy perguntando do meu paradeiro e se eu estava bem. A segunda era do Jasper, que tinha dito que estava de olho em mim. Bufei e peguei minhas coisas. Nem morta que eu ficaria aqui com um vampiro de olho em mim. E se ele fosse do Klaus?
  Sai do quarto indo até a secretaria.
- Oi, mudança de planos. Vou embora, obrigada pela estadia. - falei sobressaltando a mulher.
- C-Claro, senhorita.
- Quero parte do meu dinheiro de volta. - falei de prontidão.
  Ela pegou e me entregou mais do que eu esperava. Só fiquei por um dia e não pretendia ficar por mais tempo.
- Tenha um excelente dia. - desejei sorrindo e indo embora.
  Prendi firme a minha mochila e minha bolsa pequena no ombro. Olhei meu celular e me lembrei de outra vila mais abaixo ainda das montanhas, perto do rio congelado. Fui andando, já cansada. Terceiro lugar que eu estava indo e já tinham se passado 8 dias sem ver os Bartholy e meus outros amigos.
  Cheguei e várias fumaças surgiram. Muitas pessoas estavam perto de fogueiras se aquecendo. Era apenas uma vila humilde, tipo um acampamento.
- Está sozinha? - perguntou um senhor velhinho.
- Estou sim, pretendo ficar poucos dias aqui. - respondi colocando minhas mãos perto do fogo.
- Está foragida, não é?
- Não. - repliquei um pouco indignada.
- É o que todos dizem quando chegam aqui. - comentou o senhor se erguendo e indo falar com umas pessoas em uma língua diferente.
  Enquanto eu me aquecia no fogo, fiquei pensando nos Bartholy. Fazia agora 9 dias sem vê-los. Saudade demais. Edwiges pousou em meu ombro me sobressaltando.
- Que susto! - exclamei rindo um pouco. Peguei uma folha e um lápis de uma mulher que desenhava na neve. Agradeci brevemente e comecei a escrever. - Entrega pros Bartholy, por favor? - pedi. Ela afirmou, seus olhos dourados me fitando.
"Queridos Bartholy, estou com saudades. Estou bem, tive que lidar com um vampiro que parecia me conhecer mas já acabou. Além disso, experimentei varias bebidas interessantes. Relaxa, era noite e estava frio e nevando, não fiz nada demais. Klaus e Lizabeth não apareceram ainda. Algum sinal de um dos 26 vampiros soltos da tumba? Como vocês estão? Kitty está bem? O tempo está passando rápido, logo verei vocês, assim espero. Amo vocês, fiquem tranquilos que eu estou bem."
  Entreguei a coruja e ela voou para longe, desaparecendo nas nuvens. Puxei meus joelhos para perto e fiquei encostada em um tronco de árvore. Peguei minha mochila e vários casacos que usei como travesseiros e uma coberta que me enrolei. Deitei em frente ao fogo crepitando e senti minhas pálpebras caíram aos poucos.
Fiquei uma semana por volta dessa vila mas me senti observada então resolvi ir embora. Juntei minhas coisas e decidi dar um tempo. Horas e horas depois, cheguei no aeroporto e tentei comprar uma passagem para Forks pelo cartão.
- Cartão bloqueado, senhorita. - avisou a moça.
- O que? Tem algo errado, usei ele ontem a noite. - balbuciei testando de novo. Nada.
- Está dizendo que foi bloqueado por Drogo Bartholy, isso lhe soa familiar? - perguntou.
- Sim, muito. - falei entredentes.
  Peguei um outro cartão e botei na máquina. Digitei a senha frustrada por saber que o Drogo cogitou a ideia de bloquear o meu cartão.
- Bloqueado também. - falou gentilmente.
- Meu Deus.. por quem agora? - perguntei fingindo estar achando graça.
- Um tal de James Bartholy. - leu.
- Ah, meu Deus! - exclamei segurando meus cabelos. - Posso tentar com dinheiro? - perguntei exasperada um longo minuto depois.
- Claro, senhorita. - riu a mulher.
  Entreguei-lhe um dinheiro e ela me deu as passagens ainda rindo do meu humor. Comprei o voo mais próximo e em menos de trinta minutos, eu estava no avião voando. Eu estava indo para Forks.
  Obviamente que não fazia parte do meu planejamento. Na verdade, os lugares que eu estava indo eu pensava de última hora. Mas já faziam 16 dias que eu estava longe da mansão, não era surpreendente eu ir para Forks. Além disso, eles sabem que eu não gosto muito de lá. Ou achavam, porque agora eu vou esquecer as memórias ruins e criar novas.
  Sai do aeroporto e chamei um táxi. Ele me deixou há um quilômetro da praia e eu fui caminhando. Assim que cheguei na prainha, vi ao longe o lugar onde a minha casa estava. Entrei na barreira e finalmente vi a casa. Ainda bem que ela é protegida por magia, porque eu pretendo ficar aqui um longo tempo. Peguei as chaves no mesmo lugar de sempre e entrei.   Estava do mesmo jeito de sempre, apenas com um tufo de pelos deixado pelos lobisomens da última vez que viemos. Depois que fomos caçados pelos descendentes, fugimos as pressas e a casa ficou uma bagunça. Em dezembro, aproveitei para vir pra cá e dar uma repaginada com meus amigos.
- Lar doce lar. - suspirei satisfeita por estar em algum lugar familiar.
  Subi as escadas e fui pro meu quarto, largando a mochila e deitando na cama relaxada. As longas horas de caminhada por Alasca até as vilas e depois ao aeroporto e por fim até a prainha me cansaram.
  Depois de uns minutos entediantes, me ergui pegando minha bolsinha pequena que tinha minha carteira e meu celular. Tranquei a casa e resolvi ir no mercado comprar umas comidas básicas para eu ficar o máximo que puder. Lá eu comprei uns biscoitos, frutas, bebidas e principalmente água, pães, queijo, presunto, macarrão, arroz, feijão, muitos e muitos ovos, batatas e uns temperos. Não foi tão caro, mas tive dificuldade de levar tudo para casa. Assim que cheguei, larguei as sacolas pesadas e fui pra sala. Resolvi tentar ligar a televisão e por incrível que pareça, ainda funcionava. Coloquei num canal de notícias, tentando me atualizar.
- Notícias de última hora, um roubo ocorreu na lojinha de anéis pelo centro, mas parece que eles... - começou a mulher.
- Que chato. - bocejei.
- Atenção, notícias de última hora. Uma garota chamada Isabelly de 17 anos que mora em Mystery Spell foi dita como sumida. Os Bartholy, os maiores arrecadadores dessa cidade por anos, estão oferecendo uma recompensa para quem acha-lá por 2 mil reais em dinheiro físico. Quem será o sortudo ou sortuda que achará essa garota?
- Só pode estar de brincadeira! - grunhi. Ainda apareceu a minha foto na televisão.
  Peguei meu celular e disquei rápido para o Nicolae. Contei mentalmente até três, para me acalmar.
- Isabelly, finalmente posso ouvir sua voz em vez de somente ler suas cartas! - exclamou a voz dele rouca.
- Que história é essa de recompensa?! - rosnei.
- Ah...
- É a Isabelly? Posso falar com ela? - perguntei Kitty animada.
- Claro, fale com ela. - falou rapidamente aproveitando a deixa. - Tenta acalmar ela. - sugeriu baixinho mas deu pra ouvir.
- Eu estou ouvindo. - retruquei.
- Isabelly, volta pra mim! - pediu triste.
- Eu voltarei Katherine, agora eu não posso porque...
- Porque tem medo de trazer perigo para nós e bla bla bla... - terminou irritada. - Mas não tenho que me irritar, o Nicolae já disse que deu um jeito de te achar mais rápido.
- Falando nisso, da o telefone pro seu irmão, por favor?
- Claro.
- E aí, Isabelly? Tentou usar um cartão no aeroporto de Alasca? Coisa feia! - riu uma voz provocadora.
- Drogo! Como?!
- Ah, coitadinha... eu pedi pra bloquear e eu sabia que você ia usar. Estamos indo pro aeroporto achar alguma pista do de paradeiro.
- Tarde demais. - grunhi.
- Mesmo assim... - riu maliciosamente.
- É a Isabelly? Me deixe falar com ela. - pediu a voz do meu vampiro.
- Peter? - chamei calma.
- Eu sei o que você vai dizer, não importa. Vamos te achar, só queria ouvir sua voz e saber que está bem.
- Eu estou, prometo.
- Eu te amo, Bella.
- Também te amo, Peter.
- Eu vou te achar, nem que seja pela recompensa.
- Desejo-lhe sorte. - rebati meio divertida e meio irritada.
- Avisa pra ela que eu estou com saudade de irritá-la! - gritou James no fundo.
- Estou avisada. - ri balançando minha cabeça.
- Estamos todos com saudades. - resumiu Nicolae de longe.
- Eu também estou. - garanti com um nó na garganta.
- Onde você está Isabelly? - perguntou Kitty animada.
- Preciso ir... - terminei distantemente.
- Mas...
  Desliguei segurando fortemente o celular que ainda estava no meu ouvido. Eles estavam tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Desliguei a televisão e fui pro meu quarto. Deitei na cama e peguei um dos livros para ler, completamente entediada.
"... Podendo trazer a vida tanto quanto a morte. Consegue dizimar fantasmas e trazê-los de volta a vida com um estalar de dedos. Diz a lenda que podem ser considerados monstros por perturbar o equilíbrio natural. Devem ser mortos antes que destruam as leis da natureza."
  Arregalei os olhos. Eu sou um tipo de aberração? Como assim eu sou o que destrói o equilíbrio natural? Será que os Médiuns foram caçados até a extinção por acharem que nós que somos os errados?
"A caçada foi dada a séculos atrás. Era difícil de achá-los mas não impossível. Quando alguém morria eles apareciam pra ajudar. Em uma noite tortuosa, um bebê nasceu e a mãe não ia aguentar o parto. Um médium surgiu e observava de longe todos os familiares desistindo de ajudá-la e sem querer saber do bebê. A mulher estava desesperada e sabia que tinha pouco tempo de vida. O homem chegou e pegou sua mão. Automaticamente ela estava saudável e longe da morte, junto com seu bebê. Armaram uma cilada pra ele. Prenderam-o e mostraram para a vila inteira a aberração que era. Tacaram pedras pequenas. E depois o queimaram, tacando água depois. O homem foi torturado até a morte. Largaram-no sangrando e sozinho pra morrer. E ele morreu."
  Tampei a boca horrorizada. Ele foi fazer o bem e pagou caro por isso.
"1457, uma mulher dizia ver espíritos. Um homem estava com uma doença incurável e disseram que o coração parou de bater. Assim que a mulher colocou os olhos nele, ele voltou a vida. Pegaram a mulher e a torturaram por 3 anos até que ela retirou a própria vida, sem aguentar ter que ser maltratada, machucada e virar cobaia de experimentos."
  Engoli em seco. Mais uma morte horrível. Senti meu coração nos meus ouvidos, rápido demais.
"1498, vinte pessoas diziam ver fantasmas e foram enforcados."
"1513, uma vila inteira passava de semana em semana nos lugares trazendo pessoas de volta a vida. Queimaram a vila e centenas de pessoas morreram queimadas."
"1643, cidade queimada por dizerem que viam fantasmas e curavam quem chegava lá perto da morte. Todos que foram salvos ou curados, morreram novamente. Milhares de pessoas falecidas. Sobrou apenas as ruínas das casas."
"1789, morte de uma família por terem salvado recém-nascidos que nasceram mortos. Foram esquartejados."
  Fechei o livro e o taquei longe. Nem sentia as lágrimas que desceram sob meu rosto. Eu estava destinada a morte de qualquer maneira, eles odiavam os médiuns. Tinha que ter uma notícia boa em algum lugar! Peguei um outro livro mais grosso e tentei procurar algo que me tranquilizasse.
"No século 15, uns Médiuns de verdade diziam que mantinham contato com a Quatríbrida. Ela não estava satisfeita por saber que várias pessoas da sua linhagem morriam por estarem se importando com as pessoas. Então, ela dizia que transformaria de tempos em tempos, pessoas estranhas. Híbridos, Tribrídos, dopplegängers e Médiuns. Haveria essas bizarrices mais poderosas e cruciais que seria mais difícil de matar. Seriam raros mas precisariam de mais proteção do que o normal. Ela iria conhecê-los um dia e ainda quer que tirem ela do Outro Lado, o que nenhum Médium que ela conseguiu falar conseguiu..."
  Suspirei. Isso não era bom e nem ruim. Não me surpreendia que a Quatribrida fosse o ser mais poderoso do mundo sobrenatural e tivesse começado a maluquice de duplicatas. Híbridos eu tinha um bom exemplo: o Klaus se me achar e conseguir tudo que precisa pro feitiço. E eu. Eu acho. Olhei para minhas mãos e esqueci a familiaridade dos meus dons percorrendo nas minhas veias. A força da magia que eu sentia. Era tão bom. Na verdade era.
- Eu desisto de tentar descobrir sobre mim. - falei deitando na cama de braços abertos, totalmente exasperada. - Há, há, é sobre isso e tá tudo bem. - ri baixinho.
  Sai do quarto e fui preparar meu almoço. Comi tudo e depois resolvi tirar um cochilo. Acordei um tempo depois e resolvi ler um livro de romance, tentando distrair minha cabeça. Fiquei carente querendo o Peter e desisti de ler e peguei um outro livro de aventura.

Os diários de uma híbrida (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora