PRÓLOGO. presente

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"O mal não nasce, é criado.

E da mesma forma, é rompido."

Realidade: 087

STORYBROOKE

Não conseguia controlar seu corpo. Sua consciência era uma parasita observadora em seu cérebro, contudo, sentia entre os dedos uma lâmina fria como nevasca, e tudo além do brilho daquele punhal era um borrado de escuridão.

Os dedos pálidos sobre o cabo ondulado eram esqueléticos, e apenas por isso ela duvidou que aquele corpo fosse realmente seu. As unhas carmesim pareciam sangue puro, eram longas como garras de uma besta.

O corpo ergueu o pescoço, uma náusea lhe apagou por menos de meio segundo antes do espaço ao seu redor tomar formato e cor com visibilidade nítida. A primeira coisa que despertou seus olhos foi o azul elétrico nas pupilas da garota de joelhos em sua frente.

O lugar em que estava, ela notou, era tão silencioso e escuro como a eternidade, um covil quadrado de piso prateado mal polido e arranhado, paredes de pedra escura e tochas penduradas ao lado de pilares, que eram pontos vermelhos naquela sua visão ruim.

Havia um vidro atrás da garota, posto nas paredes rochosas, ela não tinha certeza, era apenas brilho e reflexo borrado. A menina tinha os joelhos sangrando, vestia trapos brancos, que mais pareciam amarelo encardido sob aquelas luzes, um vestido de altura média com mangas curtas e de renda, decorado com um minúsculo broche com formato de borboleta, os cabelos eram soltos, bagunçados como um ninho, mas escuros, feito a noite com uma lua tímida.

Ela esganiçava e gemia com pavor, mas contida, lábios apertados. Lábios brancos e apertados, certamente rachados e tão miseráveis quanto o resto de sua aparência. Mas ela era linda, mesmo ofuscada por medo e cinzas, tinha o rosto jovial de uma fada, polido como porcelana.

Era bela. Mas não a mais bela de todas.

Poderia ter descendo em suas costas como uma cachoeira cabelos negros como os de Branca de Neve, mas não importava o mundo, Branca de Neve era inconfundível. Aquela ajoelhada com aparência de anjo era apenas uma camponesa comum e sem sorte.

Ela levantou a lâmina.

Sua consciência gritou internamente, sentiu a pressão em seus pulmões, mas nem por um único segundo os dedos vacilaram. Ela estava tão absorta no lugar incomum e no rosto liso da garota desconhecida que não paralisou sua mente por algum instante para dar-se conta do que estava realmente fazendo.

Aquele corpo, o seu corpo sem controle, não admirava a garota. E a garota estava gritando pela vida, implorando resquícios e migalhas azedas de misericórdia.

O punhal parecia perfeitamente modelado para afundar em um coração puro.

A consciência gritou novamente, dessa vez ecoando ainda mais fundo e distante. A garota balançava os ombros e a cabeça, tentava se desvencilhar daquele destino terrível. Um tintilar agudo de correntes expôs as algemas nos braços da jovem, que estava presa ao chão de prata, presa em frente da...

O que ela estava fazendo? Por que estava fazendo aquilo? Ela não era assim! Ela não é assim!

A escuridão tomava conta de sua visão, de seu espírito, e em suas mãos, deslizavam o sangue da de olhos tão brilhantes como cristais. O punhal firme contra o peito de uma inocente, era girado, apertado, fatal. Era delicioso para o corpo que a empunhava, e um tormento para a consciência.

Quando arrancado, fez o corpo da garota tombar. Ela passou um dos dedos em toda a extremidade da lâmina, limpando o sangue, mas não o suficiente para enxergar o reflexo.

guerreiros de cinzas ━ ouat x descendentesOnde histórias criam vida. Descubra agora